______________________________________
O silêncio no SIOC do FBI era assustador, todos estavam em choque com o ocorrido, ninguém tinha vontade de trabalhar mas eram obrigados. De vez em quando era possível perceber os olhares para a sala de reunião que estava de persianas abaixadas e dentro da mesma estava apenas Zapata imersa em seus pensamentos e lembranças, ninguém se atrevia a entrar.
‐ Alguém tem que entrar lá. ‐ Kurt quebrou o silêncio entre os amigos que olhavam a sala de reuniões - Faz três horas que ela tá lá dentro!
- Isso não pode estar acontecendo, é-é a Patterson... O que vamos fazer sem ela? - Reade negou com a cabeça cruzando os braços.
- Temos que ser fortes pela Zapata... - Jane suspirou fundo antes de continuar - Eu vou lá e vou tirar ela daqui.
Antes da mulher terminar a frase, o celular de Reade tocou fazendo o mesmo atender e se distanciar do grupo de amigos, Jane foi até a porta da sala e bateu duas vezes antes de entrar. Quando a porta se abriu, a mulher se deparou com Zapata sentada com o olhar fixo em um ponto.
‐ Hey... - se aproximou sentando ao lado da mulher - Quer um pouco de água? - encheu o copo de vidro e colocou ao lado de Zapata.
- Quero ficar sozinha. - continuou sem fazer contato visual com Jane.
- Lamento, mas isso não é possível, Tasha. - e ficaram em silêncio novamente.
‐ Eu acho que isso é um sonho e que, talvez a Patterson vai entrar por essa porta e me chamar para irmos para casa. Então eu tô... esperando, eu acho. - a morena suspirou fundo contendo as lágrimas.
‐ Zapata, ela não vai vir. - Jane tocou a mão da morena em um sinal de apoio - Você precisa descansar, venha.
Jane ajudou a latina a se levantar e foram até o elevador, cercadas por olhares de pena e tristeza, Jane levou Zapata para seu apartamento. Chegando lá, a mulher não conseguiu segurar as lágrimas e começou a chorar novamente, agora deitada na cama que costumava dormir com sua namorada, a agente chorava lamentando sua morte.
Horas depois, Jane confirmou que a amiga realmente dormia e voltou para o prédio do FBI. Quando entrou na sala de Reade, encontrou ele, Kurt e outras pessoas que não conhecia mas que pareciam pesquisadores devido seus jalecos.- O que houve? - a morena perguntou tendo a atenção de todos sobre si.
‐ O fogo na casa do Albatroz foi apagado e... encontraram um DNA. Vão fazer exames para confirmar a morte e infelizmente o hacker não foi encontrado. - Kurt explicou sério.
Dias se passaram e o exames de DNA confirmaram a morte de Patterson, Zapata não falou com nenhum de seus amigos após receber a confirmação, ela apenas se trancou em seu apartamento por dias. A equipe tentou falar com a mulher, mas Tasha ignorava qualquer mensagem e não atendia às ligações.
Já entardecia quando Zapata se levantou da cama e começou a andar pela casa observando cada detalhe do apartamento, subiu as escadas lentamente e parou em frente a porta marrom que estava fechada. A mulher ficou parada encarando a porta como se estivesse encontrando forças para abri-la, respirou fundo e girou a maçaneta, dando espaço para seus olhos contemplarem o escritório de sua falecida namorada.
Tudo ali dentro tinha um pedaço de Patterson, os livros, a arrumação dos jogos, os cactos da janela e as anotações quase ilegíveis no bloco de notas.- Acabei com outro bloquinho, você poderia pegar um novo no armário? - a lembrança da namorada sentada na mesa fazendo alguns cálculos voltou à memória de Tasha.
- Claro, amor, se você me explicar o que está escrito aqui. - a morena indicou uma das linhas escritas no bloco.
- Já que não consegue decifrar, está escrito "eu te amo" em mandarim. - a loira brincou sorrindo e então a lembrança fugiu da visão de Zapata, deixando apenas um sorriso triste em seu rosto.
A morena sentou no carpete do escritório e enterrou a cabeça entre os joelhos, já tinha chorado tanto que sua cabeça doía, aquilo tudo ainda era inacreditável. Algum tempo depois, ouviu o interfone tocar e levantou num susto. Foi até as câmeras e viu a figura de um homem grisalho alto do lado de fora do apartamento, era Bill Nye. A morena hesitou um pouco em atender a porta, mas pensou que seria muita falta de consideração não atender seu sogro, que era alguém que ela gostava tanto.
- Ei, Bill... - se abraçaram rapidamente e Tasha o pediu para entrar.- Eu não sei bem o que dizer, já faz uma semana e ainda não consigo acreditar que perdi a pessoa que eu mais amava, o meu tesourinho. - o homem se lamentou.
- Também não sei o que dizer e, sinceramente Bill, não sou a melhor pessoa para te consolar. - a morena disse olhando para o chão, sua voz estava pesada.
- Sempre encarei a morte como uma dúvida, ninguém nunca voltou para contar a história. Mas sabe, Tasha, a ciência estuda há tanto tempo outras vidas que dessa vez prefiro ter certeza que ela está em um lugar muito melhor do que esse. - os olhos do grisalho encheram de lágrimas e a latina assentiu com a cabeça.
- Creio que você e a Sra. Patterson queiram algumas das coisas dela como lembrança. - começou Zapata depois de um tempo - Acho que o escritório é um bom lugar para começar a recolher. - o homem concordou e os dois subiram em silêncio para o escritório.
- Ela tinha a mesma mania desde pequena... - disse Bill ao parar em frente à estante - Organizar tudo pela ordem de fabricação. - pegou um jogo de tabuleiro - Este foi o primeiro que ela me venceu, depois disso, nunca mais ganhei nenhum jogo. - e sorriu ao lembrar da filha.
- Está sendo horrível ficar nessa casa sem ela. - alegou a morena em voz baixa enquanto pegava um caixa de papelão - Cada canto me lembra algum momento nosso, o apartamento está inundado com o cheiro dela e... Dói muito. - terminou colocando alguns objetos dentro da caixa.
Bill fez silêncio, sentou na cadeira em frente ao computador que era de sua filha, fechou os olhos brevemente e indicou a cadeira à sua frente para que a latina se sentasse, assim ela o fez.
- Você fez minha filha muito feliz, Tasha, não tenha dúvidas disso. Me lembro bem do dia que ela me ligou e disse que estava apaixonada por uma mulher, eu soube na hora que era você. - o velhinho sorriu e uma lágrima desceu dos olhos de Zapata - A conexão que vocês tinham era linda e eu não via minha filha sorrir daquele jeito há muito tempo...
- Eu nunca me senti tão feliz com alguém como eu me senti com ela. - a morena enxugou o rosto, mas foi em vão - Amanhã faríamos dois anos de namoro e... - sua voz falhou - Eu ia pedir ela em casamento. - se entregou às lágrimas.
- Ela iria aceitar sem pensar duas vezes, filha. - Bill se levantou e abraçou forte a latina, o homem considerava Tasha como uma filha também e aquele gesto confortou muito a mulher.
Os dois ficaram ali ainda por mais algum tempo, recolhendo algumas roupas e objetos que eram de Patterson, Tasha não quis desfazer o escritório e nem Bill. A visita do cientista tirou um pouco do peso que a latina guardava e se sentiu melhor depois da conversa, mas assim que homem deixou o local, o grande vazio voltou a preencher o corpo de Zapata a tornando refém dos próprios pensamentos e lembranças.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Under Lies
RomanceTasha vivia feliz com a sua namorada até que algo horrível acontece