Capítulo 11

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A noite passou arrastada junto com o resto do outro dia, Patterson e Zapata não tiveram muito contato, foi um expediente relativamente tranquilo ou tedioso, como Boston dizia. Ao entardecer, a cientista estava guardando algumas coisas em uma mochila preta quando percebeu alguém se aproximando, só o andar de Tasha já fazia a loira sentir frio na barriga.

- Ei. - a morena se aproximou de Patterson e se encostou no armário.

- Ei, Tasha. - fizeram silêncio por algum tempo.

- Eu conversei com o Reade, já tá quase tudo resolvido.

- E o que falta resolver? - Patterson coçou a cabeça.

- Muita coisa. - deu de ombros - Comprei um vinho seco semana passada, se quiser me acompanhar e experimentar comigo... - a morena sugeriu.

Patterson assentiu com a cabeça e as duas deixaram o prédio do FBI em silêncio e assim permaneceram até chegarem ao apartamento de Tasha, o mesmo que ela e a loira moravam juntas antes de tudo acontecer. Zapata abriu a porta da sala e deixou a bolsa em cima da bancada da cozinha, sendo acompanhada por Patterson, que tirou o casaco e deixou no sofá.

Enquanto a latina pegava as taças e servia o vinho, a loira observava como o lugar tinha mudado muito pouco desde a última vez que tinha estado ali, o quadro que tinha dado de presente para Tasha ainda estava na parede e um de seus livros estava aberto na mesinha de centro.

- Eu sempre gostei dele, sabe? Das cores... - a morena se aproximou e também encarou o quadro.

- Tem um contraste legal com a parede, por isso te dei. - Patterson pegou a taça que Tasha a ofereceu - Eu pensei que chegaria aqui e nem as paredes existiriam mais. - deu um gole no vinho.

- Eu nunca quis apagar você, Patterson. - a morena se virou e começou a subir as escadas, sendo acompanhada pela outra.

Tasha abriu a porta marrom, deixando os olhos azuis de Patterson contemplarem o seu antigo escritório, que ainda estava do mesmo jeito, todos os livros, jogos, equipamentos e anotações, estava tudo ali. Ver aquilo aqueceu o coração da loira.

- Seu pai e eu não conseguimos e nem quisemos nos desfazer de nada. - Zapata se encostou sobre a mesa.

- Ele esteve aqui? Como ele estava? - a loira abriu um pequeno sorriso.

- Devastado, assim como eu. Mas a conversa que tivemos foi essencial para nos confortar. - deu de ombros tomando o resto do vinho.

- Eu sinto tanto por isso... - encarou o chão - Tinham dias que eu só queria jogar tudo pro alto e voltar pra cá.

- Tinha dias que eu só queria desistir de tudo. - deu de ombros e se sentou no pequeno sofá que havia no escritório - Eu pensei em me mudar, mais de uma vez. Mas nessa casa vivemos momentos lindos e não queria simplesmente apagar tudo.

- Do jeito que você me recebeu, não era isso que parecia. - falou e zapata deu um leve riso.

- Tente entender...

- Eu entendo de verdade, Tasha e eu tô feliz que a gente tá conversando agora, sem eu achar que você pode me agredir a qualquer momento. - Patterson disse e Zapata sorriu largamente, a loira se afastou da mesa que estava encostada e se sentou ao lado da morena no sofá.

- Quando você... fingiu sua morte, eu achava que tinha perdido tudo que eu tinha de mais precioso, então eu fiquei mal durante muito tempo. Haviam dias que eram mais difíceis que os outros mas eu continuei tentando. Reade sempre estava lá, então pensei que se eu conseguisse sentir algo por alguém novamente todo o vazio que eu sentia iria embora. Mas ele não foi. Aí... Eu acho que eu comecei a viver com esse vazio e tava tudo bem até você voltar, Patterson. Eu passei por muita coisa sozinha, mas você apareceu dos mortos e eu fiquei com raiva, com raiva porque eu ainda amava você tanto quanto antes e isso me tira do sério... Porque lá no fundo eu entendo os motivos de você ter feito isso, eu só não faria igual. Eu não faria você sofrer desse jeito. - desabafou todas as palavras presas.

- Tasha... - Patterson sentiu uma lágrima escorrer por seu rosto e limpou rapidamente - Eu sinto tanto... Não queria que você passasse por isso tudo, eu amo você tanto, Tasha, fiz tudo isso por você, por nós... eu não queria que nós duas vivêssemos em um país que podia ser atacado a qualquer momento. Tudo que eu tenho a te pedir é uma segunda chance para fazer certo dessa vez... - a loira disse e ficaram em silêncio por longos segundos.

- Você fez certo, Patterson, todas as vezes. - se aproximou tocando a mão da mulher - Não há o que perdoar, há o que ser superado e nós vamos superar isso... - colocou uma mecha do cabelo loiro da mulher para trás - Uma coisa de cada vez. - Tasha limpou a lágrima do rosto da mulher que sorriu de canto com o toque e concordou - Uma coisa de cada vez, carinõ... Sabe como podemos começar? - Patterson negou com a cabeça - Com aquela sua massa italiana... Eu tenho vinho branco. - disse fazendo Patterson sorrir junto.

Ambas mulheres desceram até a cozinha, Zapata se sentou no balcão e observou a loira começar a cozinhar com o cabelo preso enquanto cortava os legumes com a taça de vinho ao seu lado.

- O que foi? - Patterson perguntou parando de cortar alguns tomates e bebendo um pouco de vinho.

- Nada... Senti falta disso. - deu de ombros descendo do balcão - Vou tomar banho, já venho.

Patterson terminava de pôr o molho no prato de Zapata quando ouviu a mesma descer as escadas com os cabelos molhados e usando um moletom que a loira conhecia muito bem.

- Ei! Isso é meu. - falou apontando para a latina.

- Era seu, agora é meu. - se sentou na mesa e aspirou o cheiro da massa. - Como eu senti falta desse cheiro. - falou com os olhos fechados.

- Eu ainda vou pegar esse moletom. - Patterson resmungou se sentando na mesa e fazendo Tasha sorrir.

- Pra isso você vai ter que tirar do meu corpo. - piscou para William, que sentiu suas bochechas ficarem vermelhas imediatamente.

- Vamos comer. - desconversou servindo o vinho na taça de ambas.

O jantar seguiu regado de conversas e risadas como se nada tivesse acontecido. Após terminarem, as mulheres decidiram se sentar na sala para conversar melhor, agora com quase duas garrafas de vinho a menos, elas trocavam altas risadas.

- Você lembra quando eu obriguei você a sair de casa de madrugada pra comprar sorvete? - Patterson disse alto e sorrindo por conta da bebida.

- Eu lembro! Eu estava em um sono ótimo e você me obrigou a ir ao mercado. - sorriu - E eu fui porque eu sou incrivelmente apaixonada por você.

Falou rindo e somente parou quando percebeu que Patterson tinha ficado em silêncio, as duas se encararam por breves segundos.

- E-eu acho melhor ir... - pegou seu casaco e sua mochila - bebi demais.

Patterson disse e andou até a porta e quando se virou para se despedir de Zapata, a mulher estava bem na sua frente e a loira acabou se assustando levemente.

- Tudo bem... A gente se vê amanhã. - Zapata falou e se aproximou para beijar a bochecha de Patterson mas parou a poucos centímetros da boca da mulher.

Não demorou muito para Tasha selar seus lábios com os de Patterson e ambas mulheres começaram a trocar selinhos que logo se transformaram em um beijo, quando o ar foi preciso, William se desvencilhou o suficiente para encarar a mulher a sua frente e deu mais um selinho na mesma.

- Até amanhã, Tasha. - se abaixou para pegar seu casaco e a mochila que havia deixado cair no chão e foi embora.

Quando a figura de Patterson desapareceu nas escadas, a morena fechou a porta e se recostou sobre ela, se sentia como uma adolescente que tinha acabado de chegar do primeiro encontro e o frio na barriga tinha voltado. Lá fora, fugindo do vento forte, a cientista tentava conter o sorriso estampado em seu rosto e o monte de esperanças que havia criado. Era como se a pessoa mais bonita da escola finalmente tivesse dado atenção à ela e melhor, beijado seus lábios, ela não conseguia descrever o quanto sentiu falta do beijo com sabor de vinho de Tasha.

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