Gleiciane
Havia chegado em casa por volta da tarde, após um dia difícil de trabalho, sempre muito estresse, não vejo a hora de sair desse lugar e ter o nosso cantinho, já estava encaminhando os papeis ao Valentin, que por sinal já tinha dado sinais que poderíamos sair depois de todo esse processo do escritório, por ser tão responsável quanto eu, ele disse que primeiro o profissional, depois o pessoal, para não misturar as coisas. E eu estava precisando de uma noite de sexo casual, pois o trabalho estava me consumindo.
Sai do quarto, encontrei Nathália segurando um ramalhete de flores imenso, lia um cartão com lágrimas nos olhos, em cima do aparador estava uma cesta cheia de chocolates, rapidamente lembrei-me do vizinho, como ele era sonso, faz ela chorar, depois manda flores.
— O que é isso, Nath? – Perguntei, encostando-me na bancada, onde ela admirava o presente, arqueei a sobrancelha e ela me olhou com emoção nos olhos.
— Foi o Toni, Gleice, ele me mandou essas flores e os chocolates, olha como são lindas! – Mostrou-me o arranjo com toda a empolgação, mas eu continuei reticente, cruzei os braços e indaguei:
— Como ele tem coragem? Você chorou um dia inteiro por conta desse cara, ele te ignorou no corredor, mesmo você que cuidou dele, se preocupou com ele sozinho em casa, ele é um idiota, isso sim, agora ele vai ouvir!
Sem pedir licença a ela, sai em disparada ao apartamento do vizinho, toquei a campainha e esperei poucos minutos, não tinha certeza se o individuo estava em casa, mas a porta abriu e eu pude ter essa dúvida sanada, o sorriso aberto e a cara mais lavada estava lá, junto com um olhar brilhante que só o desgraçado bonito desses podia ter. Mas ele ia ver, antes de ajuda-lo com Nath, eu iria testa-lo de todas as formas.
— Quem você pensa que é pra fazer minha amiga chorar e em seguida mandar flores e um chocolate, como se isso fosse amenizar o que você fez? Antônio, a Nathalia é uma preciosidade, que você não sabe o quanto ela lutou pra chegar onde ela está, não sabe o quanto ela sofreu nas mãos do canalha do Lucas, se você quer conquista-la, você precisa saber que não é um dia fazendo ela chorar, no outro flores, o amor não é morde e assopra, é cumplicidade, carinho, ela tem defeitos sim, mas as qualidade dela superam, você é um cara legal e eu sei que não é mais um idiota que tem aos montes por aí, por isso, tome cuidado, se você fizer minha amiga chorar novamente, eu juro que corto o seu pintinho em pedacinhos e você nunca mais vai fazer sexo na vida, está ouvindo?
— Mas o que foi que eu fiz, Gleiciane? – perguntou-me estupefato com meu ataque de palavras.
— Não importa! Eu estou te avisando, não adianta você vir dizer que ela te deixou no escuro por dias, não adianta, você é homem, não um rato mimado, eu sei que você tem sentimentos, agora some tudo que você acha que passou na mão de uma mulher e agora tente multiplicar isso mil vezes, não dá um terço do que a Nathalia sofreu, não estaria de mimimi, faria o que é certo, atitudes falam mais do que palavras... Antônio Bianchi. Nathália merece muito mais do que cartinhas, conversem, se resolvam, como adultos que são.
— Então a ideia das flores e chocolate foi ruim? – Eu ri sarcasticamente, ele estava com medo e era bom mesmo, só assim eu saberia as verdadeiras intenções dele com a minha amiga.
— Você é adulto, além disso suponho que seja um homem e não um rato, portanto, aja como um. – Coloquei o dedo em riste, deixando-o boquiaberto, sem chance de defesa. — E lembre-se, a Nathália é um doce, eu sou azeda quando quero, então mexeu com ela, mexeu comigo. Passar bem senhor Bianchi.
E o deixei lá, com a mesma cara lavada, mas com um gostinho de veneno, eu sabia bem que ele não era igual aos outros caras, mas ele precisava saber que Nathália tinha quem a defendesse, que se importasse, assim como eu sabia que ela faria por mim.
Bem longe dali, Marina conversava com seu irmão, Heitor fazia faculdade de Direito e estava numa lanchonete perto da mesma conversando com a irmã.
— Você acha que eu devo pedi-la em namoro? Nos conhecemos a tanto tempo, estamos perto de nos formar, mas eu fico pensando em tantas coisas, sei lá, tenho medo de que ela não aceite. – Heitor falava enquanto tomava um milkshake de morango, enquanto Marina comia um sanduiche maior que os olhos. Para onde aquilo iria, só Deus sabe. Não respondam!
— Irmãozinho, eu acho que você está perdendo tempo, você mesmo disse que se conhecem a muito tempo, enquanto poderia estar gastando esse tempo com ela, você está aqui tomando milkshake com sua irmã. Como é mesmo o nome dela?
— Leticia, tão linda, tão inteligente, acho que a mulher mais linda daquela faculdade, ela emana luz, sabe? – Os olhos dele brilham ao falar dela, e Marina revira os olhos, divertida.
— Você está arriado os quatro pneus por ela, maninho. Espero que essa Leticia te dê um chá decente, você está precisando! – Heitor fica vermelho de vergonha, Marina ri e morde mais um pouco de seu sanduiche.
— Você é louca, irmã. Sem filtro algum, tenho medo de apresentar a Leticia pra você e ela achar que eu sou igual. – Marina termina o sanduiche, toma em um gole só o refrigerante e pega uma batata frita e começa a comer com ketchup. — Meu deus, você é um saco sem fundo.
— Maninho, eu amo comer, não vem me regular não, faz tempo que eu não como uma banana, preciso comer outras coisas pra amenizar!
Heitor revirou os olhos, ele sabia que o jeito sem freio e despachado da irmã era só faixada de uma mulher forte e doce, que perdeu os pais cedo e teve que cuidar do irmão mais novo e estudar ao mesmo tempo, foi tudo muito difícil, mas hoje ela era uma arquiteta renomada, o irmão estava terminando um faculdade conceituada e já estava estagiando num escritório de advocacia, enfim, a parte triste dos pais os uniu ainda mais, Heitor gostava de ter seu cantinho, e Marina de início relutou em morar com as meninas por conta dele, mas cada um construiu sua vida, Heitor já tinha vinte e cinco anos e seguiria rumo ao seu propósito de ser delegado federal. Tudo estava encaminhado, só faltava o rapaz se declarar a Leticia.
Depois de uma tarde com sua irmã, o rapaz voltou a faculdade disposto a fazer a mocinha mais durona do local aceitar seu pedido, Leticia era uma das melhores alunas do curso deles, dedicada, simpática, amada por todos a sua volta, emanava uma luz que irradiava por todos os lugares, ele sabia que teria que enfrentar o irmão protetor, mas por ela estava disposto a tudo.
Inclusive encarar Antônio Bianchi.
Após a aula de Direito administrativo, ele a chamou nas mesas de estudo que ficavam na sala de convivência, a mulher ficou alheia a todo esse mistério, o rapaz estava nervoso, mas era agora ou nunca.
— Tici...precisamos conversar. – O apelido que só ele a chamava, secretamente era de pimentinha, por que ela ficava vermelhinha com facilidade. — Eu sei que nós já somos amigos há muito tempo...
— Você está nervoso porque oceaninho? – e ela o chamava de oceano desde sempre, por conta dos olhos azuis quase transparentes que o rapaz herdou do avô.
— É que eu quero te falar umas coisas, e nem sei por onde começar...- o rapaz riu, com o sorriso que ela era apaixonada desde o dia que ele entrou na sala, com o cabelo grande na época, hoje o corpo mais sarado, os olhos mais lindos, o cabelo mais curto e o mesmo sorriso galanteador, fora que o rapaz sempre a tratou com muito respeito e carinho. Detalhe importantíssimo, viu? Deu soco na parede por raiva, caia fora!
— Pelo começo já é muita coisa... – ela riu, colocando o cabelo na orelha, tímida, o coração acelerado, ela também estava nervosa.
— Muito engraçadinha você, então presta bem atenção, tá? – Ele pediu, esfregou as duas mãos nervoso e respirou fundo antes de começar a falar. — Leticia, eu não sou o cara legal dos seus livros, tampouco sou um de seus ídolos...mas eu sou o Heitor, eu estudo com você, eu te empresto a matéria quando você não quer escrever, eu te dou biscoitos na tpm, sou seu ombro amigo, sou o cara que te escuta quando você está triste, feliz, com raiva, quando você quer matar alguém... e você pra mim é a minha melhor escolha, meu coração te escolheu. Por isso eu estou aqui, engolindo toda minha timidez pra dizer que eu te quero como minha namorada. Pimentinha, quer namorar comigo?
A mulher abriu a boca um pouco surpresa e em seguida tampou os olhos e sorriu, pegou as mãos do rapaz e segurou com carinho.
— Realmente o Heitor não é o cara dos meus livros, nem os meus ídolos, mas é o cara mais incrível que eu já conheci, e sim, você aguenta meus surtos de tpm onde eu quero matar metade da faculdade e as vezes até você, desculpa...agora me diz uma coisa, quem é a louca que vai recusar namorar com Heitor Carvalhal? Nenhuma, pois eu sou a sua namorada. Sim, sim, mil vezes sim, seu bobo!
Um minuto de silencio para o coração do rapaz que errou as batidas.
— Que susto, achei que você ia recusar. – O rapaz tocou o peito em sinal de drama, e ela riu, abraçando-o pelo pescoço.
— Oceaninho, é obvio que eu quero namorar você, você é meu melhor amigo, meu cumplice, além disso, me dá biscoito Oreo todo dia, quero mais o que?
Ele sorriu e disse:
— Tenho um ali na minha mochila, pimentinha. – Ela riu e em seguida falou:
— Primeiro você me beija, depois você me dá o biscoito.
— Você que manda.
Com muita delicadeza, segurou Leticia pela cintura, a mulher já estava com as mãos em volta de seu pescoço, ele a trouxe para mais perto e selou seus lábios nos dela, num beijo lento e cálido, cheio de significado.
Acho bonito amizade que vira amor, isso prova que um grande amor começa com uma linda amizade.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Todas as Formas de Amor - Ame-se Livro I
RomanceA gente busca o amor de todas as formas, em todos os lugares e esquece de olhar para dentro. Mas, tudo bem, nem sempre vamos saber como fazer. Esse é o ponto, esse livro não é um guia de "como encontrar o amor sua vida"...absolutamente. A maneira co...