CAPÍTULO 10

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Antônio

        Eu estava muito chateado com tudo, uma semana se passou e ela sumiu, até no WhatsApp ela não entra faz tempo. Depois de vencido o processo do concorrente, eu fiquei tão feliz, que eu pensei que fossemos sair pra comemorar, acabou que depois disso ela simplesmente desapareceu, e eu não sabia o que tinha feito de errado, não me arrependo do beijo, e eu acho que ela também não, eu acho.
                Letícia estava me ajudando em casa a pedido dela, e como some assim? Eu pensei que estávamos criando algo legal. Pelo visto me enganei. Decidido a descobrir o que aconteceu, eu fiquei esperando na porta, olhando pelo olho mágico de minuto em minuto, até vê-la chegar com algumas sacolas em suas mãos, se atrapalhando com a chave no trinco, eu abri a minha porta, pegando-a de surpresa eu falei:

— Até quando você vai fugir de mim? – ela virou-se e pareceu meio assustada ao me ver, eu estava vestindo apenas uma calça de pijama e uma regata, meus cabelos estavam despenteados, eu não dormia direito faz dias, sinceramente eu estava largado e nem um pouco preocupado com a minha aparência. Minha mão estava cicatrizando muito bem, doía bastante ainda, mas em alguns dias eu me livraria desses pontos. Mantinha sempre contra meu abdome, para não ter nenhum perigo de bater em algum lugar. Eu era desastrado. Nathalia me olhou chocada, não conseguia ver o que suas feições mostravam, ela só parecia querer se esconder em um buraco, ao me ver.
— Toni...eu…- Ela não conseguia falar, parecia engasgada. — Eu não estava fugindo de você.
— Ah não!? Um dia você está sentada no meu sofá, conversando e até cuidando de mim, no outro você some por cinco dias, sendo que somos vizinhos de porta, então eu não tinha mais uma notícia sua, nem mensagem, nem nada. Eu não sou burro Nathália. – Eu olhei no fundo de seus olhos, tinha que ser duro, pois eu não sabia o que ela estava pensando.
— Não acho que você seja burro, Antônio. Eu estou confusa, não sabia o que fazer, e acabei te evitando, meti os pés pelas mãos, mas eu ainda não sei o que te dizer… - Os olhos dela marejaram, mas eu não seria tão besta, nem tampouco a faria chorar.
— O erro foi todo meu, Nathália. Eu fui muito precipitado em querer te conhecer melhor, onde pudéssemos ter algo no futuro, mas você me evitou e eu não pude sequer dizer nada. – Eu disse, suspirando cansado, eu já nem sabia mais se eu queria explicar algo, se eu não tivesse a encontrado no corredor, só Deus sabe quanto tempo ela me evitaria. — Talvez seja melhor assim mesmo, você na sua vida e eu na minha, vizinhos apenas.
— Antônio, eu… - ela largou as sacolas no chão. — Olha, eu sempre fui mulher de encarar meus problemas de frente, nunca fugindo, mas quanto aos assuntos do coração, eu ainda não sei lidar muito bem, eu sofri muito até chegar a ser a mulher que sou hoje, segura de mim, e sinceramente eu não sei o que estou sentindo por você, tudo tão novo, tão recente, eu realmente precisava do meu tempo. Desculpa se eu te fiz mal de alguma forma.

Olhei para ela, segurando a vontade de chorar, eu simplesmente sabia o que ela estava sentindo, mas eu não evitaria, eu daria uma chance ao que estava sentindo.

Só que depois disso, nada mais fazia sentido.

— Eu te entendo Nathália, entendo mesmo, pode até soar vitimismo, mas eu também já sofri por amor e eu aprendi que a vida é tão curta pra ficar esperando que as coisas se ajeitem sozinhas, eu realmente achei que podíamos ter alguma coisa, mas você precisa se resolver primeiro e de certa forma eu também. Muito obrigada por toda atenção e cuidado que você teve comigo. – Eu estava muito cansado, vi a mesma pegar as sacolas novamente, me encarando.
— Talvez você tenha razão, Antônio. Mas não duvide nunca de tudo que eu fiz por você foi sincero e verdadeiro. Não me entenda mal, a vida é curta sim e para alguém que já apanhou de um cara que jurava ser o amor da vida, ela precisa ser vivida com ressalvas. – Ela abriu a porta e jogou as sacolas na parede próxima ao aparador e eu me dei conta que ela fecharia a porta, então fiz antes.
— Eu não sou igual a ele, Nathália – Entrei em meu apartamento e simplesmente fechei a porta, não fui muito gentil, mas eu não queria ser comparado a um abusador, eu jamais tocaria um dedo nela contra sua vontade. Eu era um homem, não um verme filha da puta. Nathália precisava do seu tempo e eu precisava de um bom whisky.

Fui até o meu bar e me servi uma dose de um Jack Daniels bem forte, não me importando com a medicação que eu ainda estava tomando, eu só queria beber e esquecer que a minha vida amorosa era uma merda.

— É assim mesmo que você pretende encarar seus sentimentos, Antônio!? – Ouvi a voz de Letícia vindo do corredor, ela estava de braços cruzados, repreendendo com certeza o que eu estava fazendo. — Você não é assim, Antônio. O que está acontecendo?
Ela perguntou.
— Eu não sei, Letícia. Eu sinceramente achei que ela pudesse gostar de mim, eu não sei que caralho meu coração está sentindo, eu só quero beber e esquecer que eu existo! – Bebi em uma golada só, e em seguida enchi mais uma dose.
— Acha que beber até cair vai resolver? Se você quer que ela goste de você, como eu já tenho certeza que gosta, você precisa reagir e lutar pelo que sente, não se entupir de álcool, e ainda mais quando se está tomando remédios junto! – Ela me repreendeu e tomou o copo de minha mão. —  Eu não tenho irmão fraco, então trate de engolir essa fraqueza, e lutar pelo que você quer! No caso, quem você quer.
— E como eu faço isso, se ela não sabe nem o que quer! – Eu disse, colocando a mão na cabeça, já assanhando ainda mais o cabelo.
— Você pode dar caminhos para ela descobrir, ora mais. Nathália precisa de alguém que a conquiste, que faça com que seu coração se derreta e não que espera que ela faça isso, ela foi muito machucada, não tem mais confiança, conquiste pouco a pouco, sem pressa...e se quiser ajuda, eu estou aqui.
— Eu não estou disposto a perder essa mulher por conta de um cara bosta que não soube valorizar a mulher incrível que ela é, eu preciso de ajuda maninha.
— É esse o Antônio Campos Bianchi Júnior que eu conheço!

Ela riu e eu me mostrei empolgado.

— Primeiro de tudo, ela precisa de um gelo. Igual a esse que ela deu em você. Mas não muito, é só pra ela poder sentir que pode perder...depois você começa a mandar flores, cartas, até um outdoor se você quiser, mas seja criativo. – Nos sentamos no sofá, ela acariciou a minha testa, sorrindo. — Eu sei que você vai conseguir pensar em coisas criativas, mas eu tenho uma primeira ideia. Você vai escrever bilhetes em arranjos de flores, um por dia, dinheiro você tem, então use para algo relevante! Pode colocar chocolate, ou você presentear com livros, ela ama, mas sempre com um bilhetinho de aquecer o coração.
— Onde você fez curso de cupido, que eu não estou sabendo, dona Letícia? – Arqueei a sobrancelha, em tom de brincadeira. Minha irmãzinha cresceu!
— Os livros ensinam muito mais do que você pensa, irmão. Mas a vida também ensina. Eu quero que você seja feliz meu irmão, e a Nathália me parece a pessoa certa pra isso, eu bati o olho nela e vi isso, nem precisou de anos de convivência. A mamãe também pensa o mesmo que eu. – Ela ri, e eu arregalo os olhos, incrédulo que até minha mãe já sabe disso.
— Você falou o que pra mamãe, sua maluca. Daqui a pouco ela aparece aqui com o vestido de noiva, o buquê, e um juiz de paz. – Ela gargalha, mas é isso mesmo, dona Maria Joana quando mete uma coisa na cabeça, difícil tirar. — Você sabe que ela é maluca!
— Mas eu só mostrei uma foto da Nath pra ela. – Ela fez sinal de rendição com as mãos. — Se bem que ela pensou mesmo que já estava na hora de você casar, que ela quer netinhos.

Eu arregalei ainda mais os olhos e ela gargalhava que chorava. Minha mãe me pede filho desde que eu namorava com Sofia, a mesma nunca quis estragar o corpo gerando um filho nosso, eu confesso que eu sempre quis ser pai, mas tudo na hora certa, e quando eu estava com Sofia aquela vontade era ainda maior, sendo que eram sempre frustrados, pois a mesma precisava pela estética e como ela mesmo dizia, não queria o corpo estragado por uma barriga imensa. Me dá nojo só de pensar que eu iria me casar com uma pessoa assim. O desejo de ser pai ainda existe, mas é bem mais tranquilo, quero ter oportunidade de viver cada momento, não só a concepção, mas todas as fases, que eu considero o momento mais especial que uma mulher pode viver. E se eu quisesse viver tudo isso, eu teria que conquistar uma mulher. Especificamente, uma mulher chamada Nathália Barreto. Ou dona do meu coração.

— O que você tanto sonha, irmão? – Letícia me tira de meus pensamentos, olhando pra mim com um riso contido, e eu com a minha cara de bobo, só consigo responder uma coisa.
— Projeto PCN iniciado com sucesso. – Ela riu e ficou gesticulando o que seria isso.
— Hã? Irmão, você ‘tá doido? – Ela pegou na minha testa, como se medisse minha temperatura. — O que é projeto PCN?
— Projeto preciso conquistar Nathália.

E depois dessa, nós dois rimos juntos, pensando que depois dali eu teria que mover céus e terras para conquistar a vizinha do apartamento da frente, que mesmo sem querer havia dominado não só os meus pensamentos, mas o meu coração.



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