05 | Levando-a até o baú.

907 108 9
                                    

( narrado pelo Victor )

Se uma coisa era muito fácil nessa vida era ganhar no dominó da Bárbara, já jogamos cinco rodadas e às cinco rodadas eu ganhei. Eu até vi ela trapacear na quarta rodada, mas eu acabei ganhando. 

Mesmo ela trapaceando, eu ganhei. É uma coisa inacreditável, mas pra mim é acreditável. Isso fez sentido? Não, não fez. 

– Vamos mudar de jogo, esse já está muito chato! - ela diz assim que perdeu a sexta rodada. - onde estão os outros jogos? 

– eu não tenho ideia de onde a batchan guarda outros jogos. Então eu vou me retirar e ir dormir. 

– não! Só fica mais alguns minutos aqui comigo. - ela diz e pelo seu tom eu percebia que ela estava apavorada com a tempestade lá fora. - a chuva já deve estar passando, eu acho que não vai demorar muito para parar de chover. 

Ela se espreguiçou e soltou um bocejo longo, e daqui onde eu estava eu conseguia reparar que os olhos dela nem se abriam direito pelo sono que ela se negava estar. 

Agora são quase 04:00 da madrugada, é sim passamos duas horas jogando dominó. 

– pode dormir aí no sofá, vou ficar aqui com você. - digo com uma voz calma, mas por dentro eu queria deixar ela sozinha aqui nesta sala. 

Porra, eu trabalho amanhã! 

Mas se eu fosse dormir, eu acordaria com a consciência pesada e eu não quero acordar com essa merda. 

– não, eu que deveria dizer isso para você. Eu tenho certeza que você trabalha amanhã cedo e eu ainda estou te fazendo ficar acordado comigo. - ela diz e faz uma careta em seguida. - quero dizer, só tira a parte do " vou ficar aqui com você " porque claramente você vai para o seu quarto e eu não vou com você. 

– sabia que quando você está com sono, você fala demais? 

– puxei isso da minha mãe. - ela diz se levantando do chão e se sentando no sofá. - Estou morrendo de saudade dela. Será que se eu mandar mensagem agora, ela vai me responder? 

– depende, se você quer que ela te responda agora? - ela fez sim com a cabeça. - Eu acho melhor você mandar mensagem amanhã quando você acordar. 

Nós ficamos cinco segundos em silêncio, e o pior que o silêncio não foi constrangedor, muito pelo contrário foi até bom.

– eu quero fazer tanta coisa nessa fazenda que não vai dar tempo de fazer tudo até a minha mãe me obrigar a ir embora. - ela diz quebrando o digníssimo silêncio. - Seria tão melhor se eu morasse desde pequena nesse lugar, com certeza a minha vida iria ser outra coisa bem melhor do que está agora. 

Eu me forcei a ficar calado. Ela tem que se lembrar sozinha Victor, eu fiquei repetindo isso na minha cabeça até eu me convencer disso.

Olhei para Bárbara novamente e ela já estava dormindo. 

– seria tão fácil você se lembrar-se de mim, iria facilitar muito as coisas. - disse só porque ela estava dormindo, porque com ela acordada eu nunca iria dizer isso. 

[...]

– Ah, então você ficou a madrugada inteira cuidando dela? - Carolina perguntou deixando a sua xícara na mesa e cruza os braços fazendo uma cara estranha. 

Eu iria contar para o Arthur sobre essa madrugada, mas a namorada intrometida dele acabou ouvindo a história toda também. 

Eu sou muito burro, deveria ter guardado isso só pra mim. 

– Em algum momento eu disse que cuidei dela? - perguntei e os dois fizeram uma cara estranha. - eu não senti sono de noite e fui para sala assistir televisão e por coincidência ela estava lá tremendo igual vara de bambu por causa da chuva de madrugada. 

– e você quer que a gente acredite nisso? - Arthur pergunta passando manteiga no seu pão. Eu apenas faço sim com a cabeça. - tá bom então. 

– batchan, a senhora sabe onde está o remédio de dor de cabeça? - perguntei para a senhora que entrou dentro da cozinha com uma cesta cheia de laranja. 

– está naquela gaveta ali. - Ela coloca a cesta em cima da bancada e aponta para a gaveta.

Me levantei da cadeira e fui até a gaveta e lá estava o remédio que seria a minha salvação do dia de hoje. 

Tirei o comprimido e tomei com água, espero que essa dor de desgraça suma logo. 

– meus filhos, quando vocês vão levar a Babi até o baú? - Batchan pergunta cortando as laranja no meio. 

– quando ela se lembrar de nós. - respondo. – nós vamos a levar para lá. Até lá ela vai ter que se lembrar sozinha. 

– deixa de ser grosseiro que isso não combina com você. - Batchan diz me dando uma bela bronca. 

– combina com ele sim batchan. - Carol diz com um sorriso no rosto. 

Eu mostraria o dedo do meio pra ela, só não mostrei pelo respeito que eu tenho pela batchan e pelo meu amigo que é obrigada a aturar a Carolina, e essa é uma tarefa muito difícil. 

– e vocês acham que ela vai se lembrar de vocês do nada? Vocês tem que ajudar ela a lembrar. 

– como batchan? - dessa vez foi a Carol perguntou. 

– levando-a até o baú. 

●●●
Continua...

𝗠𝗬 𝗩𝗔𝗖𝗔𝗧𝗜𝗢𝗡 𝗢𝗡 𝗧𝗛𝗘 𝗙𝗔𝗥𝗠 | babictorOnde histórias criam vida. Descubra agora