Corda Para Se Enforcar...

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           Quando Camille voltou para casa, sua madrasta havia saído. Segundo a empregada, ela fora até o apartamento de uma amiga para tomar chá, como fazia todos os dias! Camille sorriu com ironia ao ouvir sobre a rotina diária de sua madrasta.  Ela bancava uma dama refinada, mas ainda carregava o ranço de plebeia de sua origem. Nem toda a maquiagem e outros tratamentos estéticos disfarçavam a sua ganância desmedida.

        Camille disse à empregada que estava com dor de cabeça e queria descansar um pouco. Pediu que lhe trouxessem um lanche em seu quarto. A empregada se prontificou a trazer leite e biscoitos com gotas de chocolate. Camille agradeceu a ela, antes de se retirar. Não deixou de perceber que a mesma não estava habituada a receber agradecimentos ou elogios. Sua madrasta era mesmo uma pessoa horrível, principalmente com aqueles que lhe serviam!

         Quando a empregada lhe trouxe a bandeja, Camille a agradeceu novamente e ainda elogiou os biscoitos ao provar um deles. Essa atitude agradou a mulher.

          "Eu é que agradeço, senhorita Camille..." – disse ela, sorrindo. "É uma receita de família! Madame não gosta de nenhum dos meus doces... Ela prefere comprar de uma delicatessen mais chique! Já o senhor Ruiz sempre gostou deles..."

          "Papai gosta dos seus biscoitos?" – espantou-se Camille. "Eu não fazia idéia..."

           "Oh, sim... ele sempre manda que eu mantenha as bombonieres bem abastecidas. E quando vai viajar, pede que eu faça muitos doces para quando voltar. E ele devora tudo em questão de dias..." – contou ela sorrindo.

           "Você deve trabalhar para ele há muito tempo..." – comentou Camille. "Eu me lembro de você desde o primeiro dia, quando meu pai me trouxe para morar com ele! Ele até falou o seu nome, mas eu esqueci... Minha madrasta sempre brigava comigo por isso. Ela dizia que empregados não tem nome!"

            "Meu nome é Millycent, senhorita Camille!" – ela respondeu, se apresentando. "Seu pai sempre me chamou de Milly, apesar do desagrado da Madame... E ela queria se livrar de mim, assim que pôs os olhos em minha pessoa! Mas, o senhor Ruiz não permitiu isso! Eu trabalhava para ele há muito tempo, antes mesmo de ele se casar com ela!"

          "Ela deve ter ficado furiosa..."

          "Com certeza... ela tentou de várias maneiras, mas não conseguiu! Até de roubo, ela quis me acusar... Mas o senhor Ruiz não acreditou e a ameaçou com a única coisa que ela não suportaria! Então, Madame mudou de tática: passou a me desprezar com a intenção de me fazer pedir demissão!" – contou Milly.

          "Você só aguenta ela porque gosta do meu pai..."

         "Não é só por isso, senhorita!" – disse Milly. "Eu tenho que proteger ele daquela víbora... e você também! Eu sei que ela já teria dado um jeito no seu pai, assim que fosse possível. Mas, comigo por perto, ela não pode fazer nada..."

         "Milly... você está me dizendo que ela queria matar o papai para ficar com a sua fortuna?" – Exclamou Camille chocada. "E só não o fez porque você o protege?"

          "Eu não posso provar... Mas, suspeito que ela planejava algo assim." – confidenciou Milly quase sussurrando. "E era parte do plano dela: casar com ele e ficar viúva logo depois! Mas, você apareceu e atrapalhou tudo, principalmente quando ele lhe reconheceu como filha e única herdeira. E se algo acontecesse a você, ela seria a primeira suspeita!"

           "Então, agora estou entendendo... ela planeja arranjar um noivo para se casar comigo para poder se apoderar de tudo, depois!" – Camille concluiu. "E alguém rico o bastante para não despertar suspeitas. E ele seria o seu cúmplice na tramóia!"

Perdão Para Um InocenteOnde histórias criam vida. Descubra agora