Mapas riscados

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Velejar era, de certa forma, tranquilizante para Yamaguchi. Ele nunca foi de vomitar em alto mar, mas andar num navio costumava ser um desafio para o capitão. Suas botas estavam sempre cheias de areia e pedras, o que tornava a aderência um pouco melhor, o real problema era seu péssimo equilíbrio mesmo.

Devia ser umas dez horas da manhã, de acordo com seu histórico de acordar sempre por último nos primeiros dias fora de uma cidade. Tadashi avaliou suas roupas espalhadas pela cabine — umas cinco — e escolheu a menos pior para vestir; o dia de lavar roupa era sempre nos domingos em que estavam em terra firme. Fazia parte do charme.

Quando abriu a porta, deu de cara com Nishinoya soprando algo (que provavelmente nunca foi quente) numa caneca de ferro meio amassada. Por muito pouco, a bebida de Yuu não foi parar na sua roupa. Sua mecha loira estava espetada como sempre, e alguns botões da sua camisa já estavam abertos.

— Hey, bom dia, capitão! — cumprimentou, levantando a caneca o mais alto que seus 1,59cm possibilitaram para que ficasse longe de Yamaguchi. — Acordou de bom humor?

— Bom dia, senhor cachaceiro — falou, sentindo o cheiro de álcool rodeando o rapaz. — Ainda são dez horas da manhã, sabia?

— Na verdade — levantou o dedo indicador para enfatizar — são onze e meia. Então posso me preparar para o almoço.

— Certo. Mas como eu sou o seu capitão — Yamaguchi pegou a caneca num movimento rápido — tenho direito a um gole.

Quem dera fosse só um que ele tomou.

— Seu pilantra! — gritou o mais baixo, indignado.

— O certo é "pirata", mas obrigado mesmo assim.

Sorrindo e já sentindo sua disposição aumentar, Yamaguchi foi em direção ao convés do Ophelia. Hinata o viu primeiro, e saltou da borda do navio — literalmente da borda, se ele caísse seria direto para o mar — para cumprimentá-lo e começar a jorrar informações e relatórios sobre sua posição atual. Asahi apenas acenou respeitosamente, porque estava no leme e não podia se dar ao luxo de soltá-lo toda hora.

Tanaka apareceu por trás, lhe dando um puta susto.

— Filho da mãe! — gritou por reflexo, quase batendo no engenheiro do navio. Tanaka se esquivou mesmo assim, rindo.

— Como vão as coisas, Capitão? — fez sua pergunta diária, e recebeu sua resposta diária: "Em seu devido lugar, eu espero."

— Tem alguma novidade ou veio aqui só para me assustar, Ryuu? — completou Tadashi, erguendo uma sobrancelha ameaçadora.

— Vim avisar que o cano que estourou foi consertado e os canhões reabastecidos, Capitão! — Tanaka disse com orgulho de si mesmo e um sorriso no rosto. — E eu e o Noya queremos saber se vocês não querem jogar um pouco de baralho!

Tanaka apontou para o amigo mais baixo, que acenava com um baralho nas mãos. Yamaguchi devia brigar com seus tripulantes por ficarem matando tempo dessa forma, mas eles mereciam. Já tinham feito suas obrigações pela manhã — Tanaka, pelo menos.

— Tudo bem, mas nada de ficar jogando essa merda o dia inteiro! — Tadashi decretou, levantando uma sobrancelha e esperando que os dois piratas respondessem. O esverdeado olhou para Hinata, que também concordou em jogar.

— Asahi, vem também! — Nishinoya o chamou, pulando para que ele o visse.

— Sabe que não posso, Noya. — respondeu, e apesar do sorrisinho, Asahi queria poder participar também.

𝐎𝐡, 𝐎𝐩𝐡𝐞𝐥𝐢𝐚!; TsukkiyamaOnde histórias criam vida. Descubra agora