“Tsukishima Kei era um pirata completamente fora dos padrões. Tinha um corpo esguio, comprido até demais, sua pele era tão pálida que até o leite que ele bebia tinha mais vida. Mas, ignorando sua fisionomia, Tsukishima era um capitão e homem que todos gostariam de ser: era gentil com as pessoas, e sempre que podia dava uma de Robin Hood nas cidades.
Sua tripulação, composta por seis piratas, era a mais temida dos mares — e terras. Seja por seu imediato e seu rastreador terem braços do tamanho de toras de madeira, ou pelo fato de que todos eles juntos conseguiram destruir embarcações gigantescas e saquear cidades na calada da noite sem deixar nenhum rastro. Seja como for, aquela tripulação era do caralho.
Os mapas que muitos dos navios usam hoje foram desenhados e descobertos por Kei. A Cidade do Ouro Vermelho, O Império Anarquista, e até as Ilhas Fumegantes foram todas mapeadas pelo capitão gentil e de sorriso bonito e suas árvores ambulantes. Todos falavam dele, embora não soubessem quem de fato era Tsukishima Kei, porque seu rosto nunca era visto no mesmo lugar duas vezes. Ou pelo menos essa era a intenção.
Sua última expedição antes do 'Desastre Misterioso', como o pessoal fofoqueiro gostava de chamar, era rumo à uma ilha chamada Ilha di Prata. De acordo com os livros e boatos, a ilha possuía todo tipo de magia que se podia imaginar, as nascentes de cachoeiras eram cobertas de prata, e os habitantes não eram apenas humanos comuns. Diversas espécies se abrigavam ali para fugir da curiosidade mortal dos humanos, e Tsukishima estava disposto a ir até lá para — pelo menos — escrever sobre elas.
Mas talvez a Ilha di Prata não quisesse ser encontrada por um jovem magrelo que usava óculos redondos, e algo fodeu completamente sua expedição, e durante semanas seu navio ficou à mercê dos perigos que adormeciam no fundo do mar.
Ninguém sabe dizer ao certo como eles morreram, se foi por fome, naufrágio ou algum tubarão gigante. Cogitaram até no canibalismo, mas essa ideia foi descartada assim que uma mulher que dizia ser vidente ter sonhado com todos os sete sobreviventes juntos, mas em um lugar desconhecido. Provavelmente na barriga de um animal, ou no porão do navio.
A questão é que eles morreram. Porque é impossível uma tripulação — independente da quantidade de piratas — sobreviver por cinco meses em alto mar sem pegar no mínimo um escorbuto.
Tsukishima Kei, a lenda dos mares, morreu por sua própria curiosidade.”
Yamaguchi fechou o livro velho e suspirou. Já tinha lido aquela história milhões de vezes antes de dormir, e sonhar com aqueles piratas não era novidade alguma para ele. Mal sabia se esse tal de Tsukishima tinha mesmo existido, e em qual época, exatamente, mas desde que as palavras “Vou me tornar um pirata” saíram da boca de Tadashi, o mundo começou a jogar as conquistas daquele idiota para cima de si, e a comprá-los constantemente. Isso era frustrante, porque Yamaguchi não queria ser como Kei, ele queria ser melhor, mais forte, e velejar mais do que o outro havia feito. Até porque não foi para isso que escolheu ser pirata — ele nem sabia da existência de Tsukishima! —, ele escolheu pela liberdade de ser. Resumindo bastante.
O capitão do Ophelia suspirou mais uma vez, sentindo as pálpebras pesarem enquanto apoiava o livro na mesinha perto da sua cama e apagava o único lampião aceso em sua cabine, e provavelmente no navio inteiro. O cobertor tinha um leve cheiro de vinho, mas não que ele se importasse. Feito isso, Yamaguchi afundou a cabeça no travesseiro de penas, sentindo todos os seus músculos relaxarem e ele ficou em paz, pronto para dormir.
— Bem feito, filho da puta.
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𝐎𝐡, 𝐎𝐩𝐡𝐞𝐥𝐢𝐚!; Tsukkiyama
Hayran Kurgu"Yamaguchi fechou o livro velho e suspirou. Já tinha lido aquela história milhões de vezes antes de dormir, e sonhar com aqueles piratas não era novidade alguma para ele. Mal sabia se esse tal de Tsukishima tinha mesmo existido, e em qual época, exa...