Espelho Quebrado

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Foi difícil explicar a Suga tudo que tinha acontecido durante todo esse tempo separados, principalmente com um Tadashi tão relutante em abrir a boca. O clima no Ophelia estava diferente, fosse pelo peso do corpo morto do ex-capitão, ou pelo fato de que eles estavam voltando para a ilha di Prata — que Yamaguchi jurou não pisar mais — sem saber o motivo.

A viagem demorou apenas três dias, porque Yamaguchi se obrigou a ficar acordado durante a noite para dirigir o navio, e usar todos os motores existentes no Ophelia. Isso daria um trabalho enorme para Tanaka depois, mas ele estava pouco se fodendo, precisava chegar na ilha.

Por incrível que pareça, a ilha estava num estado pior que o de quando chegaram ali pela primeira vez: as árvores já mortas eram monstruosas, com insetos saindo das folhas e raízes tão podres que o ar pesava, as casas derretiam por conta de algum líquido espesso e preto que saía do chão e subia pelas paredes. Sim, desse jeito. Algum deus da morte decidiu espirrar diretamente na ilha di Prata.

E por falar em morte, um rastro de neblina avermelhada e de cheiro doce fazia uma trilha até o palácio de Kei, chamando Yamaguchi para perto. Literalmente — ou quase —, a neblina sussurrava seu nome na língua nômade.

— Esperem aqui, vou ver o que está acontecendo. Não venham atrás de mim. Darei um sinal caso precise

— Claro, capitão... — ninguém queria mesmo concordar, e Yamaguchi sabia disso tanto quanto eles mesmos. Mas não iria arriscar a vida de nenhum deles com o que quer que estivesse matando Tsukishima.

O capitão saiu batendo os pés, tentando respirar longe daquela neblina adocicada. Morte não devia ter um cheiro tão bom... Não, mas magia tem.

Ele tocou o espaço vazio do peito onde seu colar geralmente ficava, sentindo a pele fria ao invés do calor agradável da pedra. Suspirou, abaixando a mão; o colar se fora, Tadashi não precisava dele.

O palácio estava silencioso, seus passos ecoavam na pedra do salão de entrada, o barulho de água pingando de buracos no teto causava calafrios na pele de Tadashi. Kenma apareceu de repente, a cara pálida e os pés se movendo devagar. Seus olhos se arregalaram — alívio ou surpresa, ele não saberia dizer — ao ver o capitão.

— O que está acontecendo? — perguntou, mesmo sabendo que o loiro não poderia responder. O pirata pegou em seu pulso com certa urgência e o guiou até o final de um corredor, após virar uma esquina.

O quarto de Tsukishima. Eu me lembro, está no mesmo lugar de sempre.

Kenma respirava com dificuldade, ardia em febre ao lado de Tadashi. Seu orgulho já tinha sido destruído ao pôr os pés na ilha uma segunda vez, então não custava nada levar Kenma nos braços até o cômodo. Ele agradeceu com um sorriso pequeno, e sua cabeça tombou para o lado, desacordada. Yamaguchi se apressou.

Assim que avistou as portas do quarto de Kei, a pressão ao redor caiu, e seu ouvido começou a apitar. Algo escorreu do seu nariz direto para a boca, e tinha gosto de ferro. O capitão chutou a porta, e foi surpreendido por Kuroo andando de um lado para o outro, com as sobrancelhas franzidas.

— Ah, graças a Deus! Você veio. — o moreno disse aliviado, tentando se controlar ao ver Kenma nos braços de outra pessoa. É óbvio que Tadashi percebeu.

— Hm, Kenma veio atrás de mim, mas estava muito mal e no meio do caminho desmaiou. O que está acontecendo?

— É o Tsukishima, na verdade. Desde que vocês foram embora ele está doente, sei lá. E só foi piorando a cada dia — ele apontou para a cama de casal enorme no meio do cômodo, onde Kei estava deitado de olhos fechados, respirando tão fraco que mal dava para perceber. — Ele tem um tipo de ligação estranha com a ilha, e tudo começou a morrer. Mais ainda, quero dizer, inclusive as pessoas...

𝐎𝐡, 𝐎𝐩𝐡𝐞𝐥𝐢𝐚!; TsukkiyamaOnde histórias criam vida. Descubra agora