Espelho quebrado... espelho quebrado... espelho... Ah, lá está! Bem onde ele se lembrava. Dessa vez, nenhuma voz o chamava; ele já sabia o que fazer.
A rachadura que quebrava o espelho vinha do meio, como se alguém tivesse socado ali, na tentativa de torná-lo inútil. Os fragmentos pareciam ter algum padrão à medida que se esticavam como raízes e dividiam o vidro em vários triângulos. Bem, pareciam triângulos.
— Que alguém me ajude... — murmurou, se abaixando na altura de uma criança e esticando o braço direito para entrar no espelho.
Ele sentiu cócegas, mas logo isso começou a arder, e Yamaguchi percebeu que os cacos de vidro estavam cortando sua pele enquanto era sugado para o vazio. Preferiu fechar os olhos dessa vez.
Quando sentiu que não estava mais se machucando, e consequentemente entrado por completo, abriu os olhos e respirou fundo, o sangue escorrendo do corpo todo. Não estava numa lembrança, nem em um lugar material, na verdade, ele estava no escuro.
O vento gelado empurrava o capitão para frente, na direção de uma fonte que emanava luz própria. Havia uma estátua seminua e sem rosto no centro, que jorrava água esbranquiçada das mãos em concha. Tadashi percebeu que a estátua tinha seios, mas ele não tinha certeza de que era uma mulher. Melhor deixar pra lá, tenho outras coisas para fazer.
— Yamaguchi Tadashi, descendente do sol. Filho bastardo, traidor. — alguém sussurrou, e Yamaguchi pensou ser a estátua, embora não tivesse boca. — Trás consigo a pedra preciosa, a pedra da criação e destruição. Quebrada.
— Eu, hã, sinto muito. Por quebrá-la. — ele engoliu em seco, procurando algum rosto para olhar. Nada.
— Não sinta. Você irá pagar por isso de qualquer forma. — uma pausa. — Já sabe o que fazer.
Algo em Tadashi dizia que aquilo não iria acabar bem. Ele caminhou na direção da fonte, apertando as pedras nas mãos até os nós dos dedos ficarem brancos. Tirou as botas com pressa, quase tropeçando, e colocou o primeiro pé na água morna.
Nada aconteceu, nenhum bicho pegou o seu pé ou algum líquido corroeu sua pele, então Tadashi colocou o outro pé, mas antes que pudesse se estabilizar, afundou completamente na fonte. Isso não era tão fundo assim!
Apesar de não enxergar nada, ele respirava normalmente. A pele ardia onde havia sido cortada. Sua consciência começava a ser tomada por muitas informações, coisas que ele nunca soube, lugares que não tinha ouvido falar nem em lendas. Debaixo desta terra, está tudo aqui.
Tantos conhecimentos, idiomas, espécies, segredos, tudo aquilo fazia parte da ilha. E agora fazia parte de Yamaguchi também. Ele sentia que sua cabeça iria explodir a qualquer momento, só que quanto mais sabia, menos dor sentia. Aquele era o preço, então?
Tadashi soltou uma risada abafada ao sentir a água entrar pelos cortes, mas sem fechá-los. Ela não estava curando-o, apenas entrando. Entrando, entrando, entrando, até que seus pulmões estivessem queimando e a única coisa que pudesse fazer era bater os pés na direção da superfície.
Não vou morrer, não vou morrer. Não posso morrer aqui.
A água o puxava para baixo, enquanto um milhão de vozes começava a sussurrar aquelas informações, como se estivessem lendo um livro para uma criança. Ele rangeu os dentes, apertando as mãos para não deixar o colar escapar, e se impulsionou mais para cima.
— Calem a porra da boca! — gritou no mesmo instante que sua cabeça emergiu da fonte, e as vozes se calaram.
Ele apoiou os braços na borda da fonte, tentando retomar a respiração normal, mas ainda tinha água nos pulmões, e ela voltou com tudo.
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𝐎𝐡, 𝐎𝐩𝐡𝐞𝐥𝐢𝐚!; Tsukkiyama
Fanfiction"Yamaguchi fechou o livro velho e suspirou. Já tinha lido aquela história milhões de vezes antes de dormir, e sonhar com aqueles piratas não era novidade alguma para ele. Mal sabia se esse tal de Tsukishima tinha mesmo existido, e em qual época, exa...