♟ Capítulo I: O tabuleiro se reorganiza e cada peça vai para seu lugar ♟

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Dois anos desde que tudo virou de cabeça para baixo.

Dois anos desde que ele fez a coisa mais impulsiva de sua vida.

Se pudesse voltar no tempo, não mudaria o que fizera, apesar de se arrepender amargamente do curso da situação.

Era besteira remoer o passado.

Isac subiu as escadas de pedra em silêncio. Tinha sido difícil demais ganhar confiança dos funcionários do castelo para estragar tudo agora.

O corredor estava vazio, indicando que o quarto também estava. Olhando ao redor com cuidado, ele seguiu para seu objetivo.

Diferente do que ele pensara, a porta não fora trancada, tornando sua entrada fácil. Fácil demais, ele pensou, mas não era uma armadilha, tinha certeza. Ela não sabia.

Então, puxou a cadeira da escrivaninha para si e esperou.

***

O sol ainda não tinha se posto quando Louise chegou ao próprio quarto. Ela estava diferente. Tinha uma cicatriz no pescoço e uma coroa na cabeça. Os olhos sonhadores tinham ficado atentos, e, assim que o notou, puxou uma espada da cintura.

Isac praguejou a si mesmo por ter trazido apenas uma adaga consigo. Não que fosse permitido a alguém que não fizesse parte da Guarda Real – escolhida a dedo pela Rainha, ou seja, impossível – andar por aí com qualquer arma.

– Izzy, não precisa me receber assim.

Ele se levantou e deu alguns passos para trás antes que pudesse ter a lâmina em seu pescoço novamente.

– O que está fazendo aqui? – Ela não perguntou como estava vivo. Talvez tivesse noção da própria mira ruim, ou apenas definido prioridades. O tom de voz era ríspido, nada diferente do esperado.

– Preciso conversar com você.

– Não quero ouvir nada que tenha a dizer.

– Mas deveria.

Em vez de responder, Louise avançou com a espada, fazendo Isac recuar. Ele tateou um livro às suas costas e jogou nela. Pela visão periférica, notou um conjunto de lâminas a alguns metros de distância, e aproveitou a distração para avançar até elas.

Algo o atingiu na parte de trás dos joelhos, fazendo-o cair.

– Mais um passo e eu te mato. De verdade dessa vez.

Isac se virou, apoiando o peso nas próprias mãos, e chutou a canela de Louise, fazendo-a se desequilibrar também. A coroa fez um barulho quando caiu no chão.

– Maldito!

– Gostava mais de quando você me chamava de... – enquanto Isac falava, a garota pegou o livro que tinha caído no chão e jogou nele, atingindo-o no rosto. – Ai!

Seus olhos começaram a lacrimejar. Esperava não ter quebrado o nariz. Jogou o objeto de volta nela e se levantou, andando para trás e tateando às suas costas até encontrar uma espada. Louise também ficou de pé, apontando a lâmina para ele.

Os ataques simultâneos fizeram com que o metal tilintasse. A visão turva dificultava que ele soubesse o que estava fazendo, mas continuou balançando a espada de um lado para o outro. No mínimo, evitaria aproximação suficiente para um ataque.

Isac sentia gosto metálico, e não precisava se olhar no espelho para saber que seu nariz estava sangrando. Idiota. Ele deu um passo para o lado, considerando quão difícil seria se aproximar da porta. Ao seu lado direito estava a cama, mas seria difícil cortar caminho por ela.

Aproveitando os segundos de distração, Louise atingiu a espada na mão dele com tanta força que Isac soltou a arma sem querer. Piscando, o rapaz conseguiu limpar a visão o suficiente para avançar e segurar o braço dominante dela, impedindo-a de atacar mais uma vez.

Louise acertou uma joelhada no estômago dele, mas Isac a puxou junto quando caiu. Ele girou o corpo, ficando por cima dela e segurando os braços da garota para que ela não se mexesse.

– Podemos conversar agora?




***

Bem vindos ao primeiro capítulo da segunda (e última, espero) parte!

Então, o que estão achando? Eu estava morrendo de vontade de mostrar a personalidade do Isac de verdade, e acho que tenho a oportunidade de mostrar um pouco da personalidade da Lou depois de tudo o que aconteceu. Todo o passado (ou quase) vai ser esclarecido nos próximos capítulos, e vamos ter novos conflitos acontecendo, mas dessa vez pela lente de quem os causa, de certa forma.

[Só lembrando que eu não quero passar pano para nenhum personagem, não é só porque tem justificativa que as ações deles são "certas" ou que eu as apoio, eu só estou contando os acontecimentos sob a lente deles.]

Enfim, espero que estejam bem e curtindo essa história. Se tudo der certo, nos vemos dia 09/02!

Coroa de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora