Bosque

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Só os que padecem um extremo infortúnio estão aptos a usufruir de uma extrema felicidade. É preciso ter querido morrer para saber o que vale a vida.

-Alexandre Dunas

[18 ANOS DEPOIS ]

— Para que me serve essa aparência ?

O jovem de cabelos loiros  olhava sua imagem tremulando na margem do pequeno lago em frente a sua casa e suspirava profundamente. 

Ele já havia perdido as contas de quantas vezes havia feito aquilo desde que acordou, mas pensar e lamentar era tudo que podia fazer. 

Desde que se entende por gente eles viviam nesse lugar e, tudo o que sabia era que sua mãe havia fugido consigo para se proteger, afinal tudo aquilo foi por causa da sua condição especial.

Quando ouviu pela primeira vez a história sobre sua maldição ele sorriu muito e achou que sua mãe só estava tentando o assustar, ter que esconder o rosto porque podia matar as pessoas era uma desculpa ridícula mas ele aprendeu da forma mais difícil que tudo era real, seus olhos verdes carregavam uma melancolia sem fim e ele sempre se perguntava porque logo ele tinha que ter vindo ao mundo sob tal desgraça.

— Filho.

Uma voz doce, porém cansada o chamou e ele virou de imediato para ver o rosto marcado pelo tempo de sua mãe, os olhos dela carregavam a mesma tristeza que os seus; ainda que raramente ele pudesse olhar para ela.

—Mãe você voltou !

A mulher lhe deu um sorriso e se aproximou com cuidado, às vezes ele tinha a impressão que até mesmo sua amada mãe tinha um pouco de medo de o olhar diretamente, afinal não era culpa dela, ele forçou um sorriso acanhado, todavia não levantou muito a cabeça, odiava ver a mulher desviar o olhar ainda que discretamente.

—Venha comer !

Oliver caminhou até a cesta com frutas e pegou uma das maçãs dando uma mordida na fruta, não era ruim, mas ele ainda permanecia com um gosto amargo da vida e não conseguia nem mesmo apreciar aquela doçura, suas manhãs eram todas iguais.

—Sabe mãe eu gostaria de passear um pouco, não posso ir com você amanhã? A senhora me disse que as pessoas não podiam ver meu rosto, eu posso escondê-lo.

Ele estava sufocado e queria muito sair um pouco, ver um mundo uma vez ou outra não lhe faria mal. O que estava o matando era viver como um prisioneiro, sua mãe começou a ir a cidade ele tinha entre cinco e seis anos em busca de comida, vendendo flores e as poucas joias que lhe restava, ele sempre quis ir e ajudar, mesmo que sua mãe lhe nunca permitisse.

—Você não pode Oliver, lembra da última vez?

Como sempre sua mãe pegou no seu ponto fraco, ele lembrava e como poderia esquecer do dia que contemplou a desgraça que ele era…

FLASHBACK ON

Oliver tinha acabado de fazer quatorze anos estava seriamente desconfiado das histórias que sua mãe lhe contava e por isso eles tiveram uma discussão, enfurecido ele esperou a mais velha sair para buscar alimento e a seguiu, em um determinado momento quando já estavam fora do bosque, ele se distraiu com um barulho e acabou perdendo sua mãe de vista e sem saber para onde ir ele escolheu o caminho que seu coração lhe mandava e foi aí que ele encontrou com um caçador.

—Hora que gracinha !

O caçador deu alguns passos e fitou o rapaz de maneira lasciva de cima a baixo.

—Não se aproxime de mim !

Ele cobriu seu rosto e tentou se afastar, o homem correu atrás dele e puxou seu manto expondo seu rosto, ele ficou de cabeça baixa.

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