C3 - Tempestade Part.1

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//Marius

   A cozinha não é tão grande quanto imaginava. Ao entrar, a primeira coisa que se percebe é a mesa de madeira, aparentemente presa ao piso, inteligente. As cozinheiras terminavam de adicionar mais algumas coisas na mesa e param com um sorriso assim que me vêem.

— Oh Marius! Finalmente desceu para nos ver – Pietra, é a minha melhor amiga dentro do castelo.

   Desde pequeno, antes do café da manhã, ia visitá-la. Não era uma relação de serviçal e superior e sim de uma doce senhora com uma criança. 

— Pietra! Não sabia que viria nesta viagem também! – Vou em sua direção para lhe dar um abraço – eu teria descido antes.

— Faz tempo que não botamos o papo em dia! Meninas – ela se vira para as companheiras – sem formalidade com o meu amiguinho. Ele é "povão" que nem a gente.

   As outras mulheres soltaram uma gargalhada e voltaram a seus afazeres conversando como se eu fosse mais um delas. Puxo uma cadeira e me sento à mesa me preparando para comer uma fatia do pão caseiro.

— Não vai me contar como é esta vida de realeza? – Pietra perguntou sentando ao meu lado.

— Realeza? – pergunto com a boca já cheia.

— Sim, antes você não entendia o porquê de usar uma coroa, hoje em dia até sai por aí em aventuras reais e chiques – ela gesticula com as mãos.

   Uau! Não tinha reparado que havia me envolvido tanto nas negociações de meu pai assim. Eu vou só para conhecer mais gente, não pela sede de conhecimento.

— Boa – é tudo o que consigo responder antes de colocar mais pão na boca.

— Sabe... Eu acho que você está precisando de um irmão! – ela se levanta tentando cortar a tensão que ficou no ar – É! Um irmão. Você quase não conversa com pessoas da sua idade, sempre com esses charlatões que usam ouro até nos dentes.

   Não me aguento com sua fala, ao engolir, libero uma gargalhada que com certeza daria para ouvir do convés.

— Amei esta nova palavra, "charlatões", irei usar sempre – limpo minhas mãos em um pano branco que estava jogado à mesa – Você é demais, Pietra!

— Não, mas é sério... Ou você acha que só de coisas sérias vive um rei? Tem que ter alegria – ela dança ao redor da comida – paixão pelos súditos... Tudo o que seu pai tem.

— Está dizendo que estou me tornando um príncipe arrogante? – coloco a mão em meu peito, como se estivesse ofendido com sua fala.

— Oh não, querido! Estou dizendo que merece ser feliz como um ser humano e não como membro da nobreza – ela vem até mim e segura minha mão – independente de que forma e com quem... Se relacione! Amigavelmente ou amorosamente – seus lábios se tornam para cima numa risadinha.

— Você sabe que estou solteiro por opção, né? – solto suas mãos e me levanto para pegar um dos deliciosos pêssegos do cesto.

— Por opção dos outros? 

   Neste momento não consegui segurar, dei mais uma vez risadas contagiante. As outras cozinheiras que ouviam a conversa, sorriam discretamente com o comentário, quase não se aguentando com as palhaçadas da mulher.

— Você é uma peça, Pietra – volto ao meu lugar com a fruta aveludada em mãos.

   Antes que pudéssemos voltar a seriedade, ouvimos passos que desciam as escadas. 

Um Príncipe Para O PríncipeOnde histórias criam vida. Descubra agora