C12 - Homem de lata

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   Voltamos à festa, comemos, bebemos, dei muitas gargalhadas das brincadeiras de Victor. Conheci diversas pessoas, os cavalheiros, o serralheiro, o padeiro me prometeu que todos os dias enquanto eu estiver aqui me enviará uma torta de mel. Confesso que essa foi a promessa mais sincera que já ouvi, mesmo não conseguindo ver minha expressão após esse discurso, tenho certeza que meus olhos brilharam. Foi tudo muito bom, mas enfim se encerrou e todos foram para suas casas, para suas roupas normais e para suas devidas camas sonhar com um novo dia... Menos eu.

   Vesti um tipo de pijama um pouco largo demais para mim, totalmente branco, com mangas que tapariam minhas mãos se eu deixasse. As calças possuem um fio que permite apertá-la na cintura, mas quando ando o tecido cobre meus pés. Tirei meu adorno da cabeça, a máscara e usei os cremes, que havia trazido, no rosto. O espelho mostra meu reflexo que parecia mais jovem, aparentemente dias descontraídos fazem de mim uma pessoa descontraída.

   Eu tento, mas não consigo dormir. Minha mente vai e volta tantas vezes que quase fico enjoado com as viagens que ela faz. Olho para o criado mudo, que se enfeita com as flores que ganhei mais cedo. Flores de mel, que graça!

— Assim não vai dar para acordar cedo, talvez um chá quente me faça ter bons sonhos – levanto da cama após declamar uma ideia que ajude minha possível insônia. Empurro a porta do quarto com força, por que ficam tão pesadas ao anoitecer? Não é como se meus músculos não existissem.

   Com cuidado para não fazer barulho, ando pelos corredores, segurando a calça branca, assim não me faz tropeçar e cair. Um ar frio sopra pelas janelas entreabertas, o mar deixa a ilha bem gelada à noite, não havia percebido. Os degraus da escada parece não acabar mais a cada passo que eu dou.

   Tomo um caminho que eu imagino ser da cozinha do castelo, acredito ter visto uma das cozinheiras trazer o banquete de ontem desta porta. Vou mais à frente até ver realmente o lugar onde são preparadas todas as comidas. Há 3 enormes fogões, provavelmente de lenha, uma mesa grande no meio e torneiras no canto.

   Me aproximo de um armário enorme à procura de uma chaleira. Não sei se é educado mexer nas coisas assim, acabei de chegar, mas que eles me perdoem por isso.

— Certo, se eu fosse um cozinheiro, onde guardaria uma chaleira? – pergunto a mim mesmo.

— Geralmente deixam no próprio fogão – uma voz feminina me assusta.

   Com a surpresa, deixo cair algumas panelas que soam com um barulho absurdo de alto. Quando olho para a fonte da voz, vejo a rainha Isabela encostada no batente da porta com um sorriso gentil. A linda mulher veste um tipo de túnica branca leve, confortável, ao que parece, feita para o sono. Seus longos cabelos claros soltos e balançando com a brisa suave do local.

— Também não consegue dormir? – ela vem até mim, recolhendo alguns objetos do chão para devolver para o lugar certo.

— Perdão, não devia ter invadido a cozinha – dou um mínimo sorriso enquanto também me agacho, arrumando a bagunça que fiz.

— Não precisa se desculpar, te entendo deveras bem. Não consigo dormir direito há dias.

— Muitas preocupações? – pergunto fechando o armário, já com tudo organizado.

— Aceita um chá? Receita minha – ela desvia da pergunta.

   Não insisto em saber o motivo de sua insônia. Não é de minha conta ficar à par dos acontecimentos com as majestades de outros reinos, apesar de meu pai ser um velho amigo.

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⏰ Última atualização: Jan 18 ⏰

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