C4 - Tempestade Part.2

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   O rei faz o que peço, em meio a tropeços consegue trazer cordas e se agarrar na beirada do navio, amarrando a salvação dos homens na barra fixa. A última cena que vi dele antes de focar em subir a torre do vigia foi quando jogou na água a corda e gritou para quem estava boiando.

— Subam! – não conseguia ver os outros, mas tenho a certeza que estavam nadando o mais rápido que podiam.

   Agarro a escada para subir. A água da chuva desce em meu rosto como se estivesse me empurrando para baixo, fazendo com que ficasse ainda mais difícil prosseguir. Meu cabelo, já encharcado, tampa um pouco da visão, com os fios caindo nos meus olhos. Tento tirar para não me atrapalhar, mas acabam voltando.

   Em pouco tempo chego no topo da torre do vigia e puxo o marinheiro para dentro do compartimento para não ficar pendurado.

— Ajude os outros – falo tirando a faca da boca e me segurando para não cair.

— O que planeja fazer? Não posso deixar que corra perigo – ele pergunta olhando para o instrumento cortante em minhas mãos.

— A vela principal – aponto para ela com a arma branca – o que usavam para abri-la parece que não funciona mais, vou ter que fazer manualmente – me preparo para seguir o caminho para o maior mastro.

— Com a vela aberta o vento da tempestade pode puxar ainda mais para dentro – ele segura meu braço.

— Ou empurrar para fora – retruco com rapidez e convicção.

— Não me leve a mal, vossa alteza, mas vai contar com a sorte num momento tão decisivo? E a sua vida?

— Confie em mim – sem olhar para trás, foco no alvo.

   A corda, que antes estava amarrada em um dos mastros frontais, esvoaça de um lado para o outro, me dando a chance de agarrar nela e usá-la como forma de locomoção no ar. 

   Respiro fundo, tiro a franja molhada dos olhos e me balanço, não ligando para a altura em que estava ou para os gritos que meu pai dava abaixo de mim. O vento sopra forte e quase que eu deixo a faca cair enquanto voo pelo céu. Devolvo o objeto para a boca e me preparo.

   Enfim, tudo voltou a ficar silencioso e em lentidão. Me dei conta do que estava fazendo. Será que estou ficando louco? Acabei de dizer ao vigia para confiar em mim, mas nem eu mesmo tenho tanta certeza de estar fazendo o certo.

   Deixo de lado os pensamentos e me atiro para frente, agarrando na madeira grossa e torcendo para não escorregar e descer totalmente. Os pingos de chuva agora pareciam pequenas pedras acertando minha pele, a agressividade dos trovões me assustam, mas presto atenção no que estava a minha frente. A vela estava amarrada e agora poderia usar o objeto que carregava.

   Me coloquei numa posição segura para não cair e comecei a cortar a amarração. Olhei para baixo, para me certificar de que todos estavam no convés, alguns haviam descido para verificar as mulheres, outros terminavam de ajudar os últimos a subir. 

   Com um último movimento, a corda se rompe, liberando aquele enorme lençol que ao mesmo tempo se abre com força. Automaticamente agarro na barra da vela para não cair e quase sou arremessado para a água. Novamente o vento se intensifica e o navio é empurrado para longe. A chuva não parou, mas o mar não estava mais tão agressivo.

Um Príncipe Para O PríncipeOnde histórias criam vida. Descubra agora