Capítulo 8

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MYNARA

Encerrado abruptamente o caça à bandeira, os conselheiros foram se reunir para tomar as providências e nós, demais campistas dos chalés, fomos para a cama.

Bom, pelo menos, deveríamos.

Algo nessa captura trouxe um nervosismo a mais, algo no ambiente que era quase palpável. O Joka, em vez de jogado nos puffs, estava andando de um lado para o outro com uma lata de Coca-Cola diet na mão. O Wallace estava com fones de ouvidos e balançava a cabeça ao ritmo de alguma música, mas o fio do fone não estava plugado em nada. O Gonçalo estava brincando com um cubo mágico que mudava de cor a cada virada, o que tornava ainda mais difícil de completar. O clima parecia agitado, mas não no clima de festa. Era mais como uma rolha de champanhe prestes a estourar.

A Fran olhava pela janela em direção à Casa Grande. Parecia querer estar na reunião dos conselheiros. Me aproximei e sentei no parapeito, acompanhando o olhar, e suspirei:

— Esse vai ser um inverno complicado...

Ela me olhou de canto de olho.

— Você sabe o que está acontecendo? O Sérgio e o Will estavam estranhos mais cedo, e agora a Malu...

Voltei a encará-la e senti que precisava dizer algo, mas as palavras não saíram.

— Não se preocupa, o Sérgio já me avisou que tenho que ser forte. E eu serei... — disse ela levantando, sem nenhum sinal daquela angústia que demonstrava meio segundo atrás. — Vamos galera, hora de dormir! Parece que a reunião vai demorar mais do que o normal. Wallace, eu sei que está me ouvindo. Se não se levantar, vou te mostrar onde o meu All Star vai entrar!

Ela foi colocando ordem em todos. Resmungos e protestos soaram, mas ela levou todos, esbravejando.

Eu ainda estava sentada na janela. Sorri observando a cena e voltei a olhar a Casa Grande ao longe.

Eu já ia me deitar quando vi o Sérgio chegando. Me levantei num pulo e fui ao encontro dele. Logo seria o toque de recolher e a área fora dos chalés estava quase vazia.

— E aí, o que resolveram? Como fazer a mis... Você sabe — murmurei, olhando para os lados para ver se alguém tinha ouvido, mas os poucos campistas à vista estavam longe demais para escutar.

— Sobre a Malu... não nos foi dada nenhuma tarefa, mas o chalé está à disposição para ajudar. E sobre o caso do nosso pai... O amigo do Will encontrou algo e eles estão conversando agora.

Ele mexia nervosamente no bracelete de vinhas. O Sérgio só mexia no presente dado por Dionísio em momentos que ele estava tenso e preocupado com algo além do alcance.

— Vamos esperar e ver se o amigo do Will vai ser de alguma ajuda, mas se acalma. Sobre a fadinha Malu, todos no acampamento vão ajudar de alguma forma. Segundo nossa... madrasta, nossa missão vai salvar o mundo, e isso já é muito, mesmo para nós, semideuses. Se preocupa com um problema de cada vez, é o que você sempre fala para os campistas do chalé, né?

Ele olhou para mim e acenou com a cabeça, em silêncio.

— Uau, estou velho mesmo, heim? — Will falou, aparecendo do nada ao lado do Sérgio e nos assustando.

Depois de praguejar e levar alguns socos no ombro de brincadeira, perguntei, ansiosa:

— E aí? Alguma informação útil para nós?

Will olhou em volta, mas a essa hora não havia mais ninguém do lado de fora. O clima não estava bom para escapadas ou festas secretas no acampamento.

— O Fred, conselheiro do chalé 6, buscou nos arquivos do chalé dele e não encontrou nada, mas pediu para a irmã, Annabeth, que pesquisou no laptop dela... sabe, de alguma forma, ela conseguiu recuperar um backup dos arquivos do laptop de Dédalo, e encontrou informações dos artefatos de papai.

Sérgio soltou a respiração, como se fosse a primeira vez que estava respirando.

— Bom, duas notícias... Papai tem três artefatos: um tirso, um cálice e uma coroa de vinhas.

— Uau, de 0 artefatos fomos para 3! Agora... como saberemos qual deles é o da missão? — perguntei. — Considerando o que a deusa falou, não teremos profecia, e nem Dionísio nem ela parecem poder falar qual é...

Sérgio olhou para mim, como se eu tivesse dito algo incrível e deu um sorriso largo.

— Will, pega uma garrafa da coleção especial. Parece que vamos precisar...

Will piscou atordoado e fez uma expressão de má vontade.

— Sério? Precisa mesmo disso? Eu já atingi minha cota por essa semana.

Eles estarem conversando e me deixando de fora estava começando a me irritar.

— O que raios vamos fazer e para que precisamos de uma garrafa?

Sérgio sorriu para mim e disse:

— Você ainda não participou, mas temos como saber as respostas que queremos de nosso pai... Só precisamos dar a ele algo que ele goste o suficiente e conseguiremos.

Will revirou os olhos e disse:

— Só espero que pelo menos uma vez na vida ele seja claro e útil, porque da última vez...

— Para, vai? A última pergunta que você fez foi totalmente incoerente: "Por que o final de GoT foi tão insatisfatório?". Ainda quero te bater por isso — Sérgio o cortou e o empurrou para dentro do chalé, em busca do vinho.

Contos de Natal no Acampamento Meio-SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora