Luisa se jogou na grama, desanimada, frustrada e exausta. Nada do que eles faziam dava qualquer resultado nos morangos, e a plantação piorava a cada minuto. Algumas folhas murchavam e amarelavam, outras escureciam e necrosavam. As poucas frutas que conseguiam se desenvolver apresentavam apodrecimento em uma velocidade recorde. Já tinham utilizado todos os métodos que conseguiram pensar, desde magia até métodos humanos. Suas preces para Deméter também não demonstravam efeito algum, e quando conseguiram falar diretamente com a deusa, ela disse que não havia nada que pudesse fazer para ajudar.
"Na verdade, tem algo... Mas é quase impossível", dissera a mãe, sem mais explicações.
— POR QUÊ? — gritou ela. Os dois conselheiros do chalé de Dionísio tinham saído para uma missão perigosa, ou isso, ou tinham simplesmente desaparecido (Lui preferia acreditar na primeira opção), e os outros campistas do 12 estavam ocupados tentando resolver outros problemas. Elas tinham mandado os demais campistas de Deméter para cuidar de outros afazeres ou participarem das atividades diárias do Acampamento enquanto as duas conselheiras tentavam avaliar o problema. Ani estava sentada ali perto, com um livro sobre produção, gerenciamento e proteção pós-colheita de morangos, que fazia parte do acervo do chalé 4. Ela virava as páginas quase que desesperada.
— Não tem nada aqui que a gente já não tenha tentado — suspirou. — Continuar lendo esperando que algo apareça magicamente é pedir demais, né?
— Mãe? Alguma ideia? — murmurou Luisa, olhando para cima, e depois cobrindo o rosto com a mão. — O pior é que não são só os morangos. Olha pras árvores, pra grama... Tudo está morrendo. Eu não tenho mais energia pra fazer nem uma briófita crescer.
Ani se aproximou de um morangueiro mais próximo, tocando uma folha.
— Os sintomas parecem de infecção fúngica, como se o problema fosse Mycosphaerella fragariae. A formação de lesões circulares sobre as folhas, que iniciam-se como pequenas manchas circulares, de coloração castanha-avermelhada, que evoluem para lesões com bordas vermelho-púrpura, com o centro levemente deprimido, necrosado e de cor acinzentada. Mas se fosse isso, a gente já teria dado um jeito de resolver.
— Não tem nenhuma espécie de morango que seja resistente a fungos? — questionou Lui.
— Acho que o problema aqui não são as doenças — concluiu Ani, analisando outras folhas. Normalmente, com apenas um toque, os filhos de Deméter eram capazes de detectar o que havia de errado com uma planta, mas para aquela situação, elas não conseguiam identificar nada concreto, e suas energias já estavam praticamente esgotadas. — É esse desequilíbrio. A situação de Dionísio está desesperadora.
— Seria bom se existisse alguma cultivar de morango com resistência mitológica — brincou Lui. Assim que terminou a frase, um pequeno morango brotou ao seu lado, e ela olhou surpresa para a fruta. — O que aconteceu aqui?
— Acho que mamãe mandou um sinal — disse Ani, se aproximando para analisar a fruta. — Primeiro morango saudável que cresce aqui em dias.
— Obrigada, mãe — falou Luisa, com um suspiro. — Mas continuamos sem a menor ideia do que fazer — ela continuava deitada na grama, sem a menor vontade de se levantar. — Que tal mandar mensagens mais claras? — sem nenhuma resposta, ela deu um suspiro.
— Acho que vamos ter que descobrir a resposta sozinhas — comentou Ani. — Os morangos que cultivamos aqui são fruto de hibridização e se chamam Fragaria ananassa — contou ela. — São uma mistura de duas espécies de morango, a Fragaria virginiana, que é uma espécie silvestre dos Estados Unidos e Canadá, e Fragaria chiloensis, uma espécie chilena.
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Contos de Natal no Acampamento Meio-Sangue
FantasyO natal está se aproximando e coisas estranhas começam a acontecer no Acampamento Meio-Sangue. Os morangos estão morrendo, apesar das condições controladas de temperatura e clima, e nem os poderes dos filhos de Deméter e Dionísio conseguem salvá-los...