Capítulo 3

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Kelly

Eu tinha me esquecido.

Fazia muito tempo desde que eu tinha pensado em qualquer coisa sobre meu casamento, mas de tempos em tempos John aparecia como um lembrete irritante do maior erro da minha vida. E hoje, era um desses dias infernais.

O dia do aniversário do meu casamento com o John.

E o desgraçado estava aqui.

Eu nunca entendi porquê ele sentia a necessidade de vir latir pra mim a cada poucos meses. Era sempre a mesma história, como se eu fosse idiota o suficiente para perdoar tudo o que ele fez e nós pudéssemos conviver amigavelmente.

Você não podia ser gentil com a pessoa que rasgou, destruiu e incendiou todos os seus sonhos.

Agora ele estava aqui.

Na frente do meu prédio.

Usando seu terno caro com a gravata que eu dei a ele no nosso segundo ano de casamento.

Maldito cuzão.

Eu queria virar e sair correndo, mas eu era uma mulher adulta e fugir nunca resolvia nada. A solução mais rápida era ir até ele e ouvir sua besteira, então manda-lo para o inferno e ir para casa relaxar.

Eu queria simplesmente pular para a parte em que eu o mando para o inferno.

Eu deveria ter ido para a casa da Lucy. Eu tenho certeza que meus sobrinhos iriam gostar de me ver. Ou talvez eu deveria ter ido visitar minha mãe.

— Kelly. – o traste me chamou. Agora que eu estava livre dele, eu me perguntava como eu pude me casar e amar alguém como ele. John era um homem bonito e charmoso, mas nossas personalidades não eram sequer parecidas. Nós tínhamos algo em comum? — Você chegou tarde hoje.

— Deus me dê paciência. – falei, respirando fundo. Um soco resolveria minha vida. Apenas um. — O que diabos você quer, John?

— Conversar. – ele disse no seu melhor tom de "sinta pena de mim e me perdoe por ter te traído um milhão de vezes". — Eu sinto sua falta.

— Vá para o inferno. – respondi automaticamente. Era sempre a mesma história. Ele vinha atrás de mim, falava que sentia minha falta e ignorava o fato de estar em um relacionamento com outra mulher. Como eu pude ser tão cega ao ponto de me casar com alguém assim? — Eu já disse que não quero ver você.

— Você ainda está com raiva?

— Raiva, nojo, desgosto, repulsa, ódio. Eu posso passar a noite listando e eu garanto que não vai ter nenhum sentimento bom entre eles. Eu odeio você. – respondi friamente e ele se encolheu, como se estivesse machucado. Céus, Hollywood estava perdendo um ator e tanto. Ele devia esquecer a advocacia e se tornar ator porque poderia ganhar um Oscar. — Adeus.

— Kelly, espera. – ele entrou na minha frente. Pelo menos ele não tentava me tocar mais. Da última vez, eu dei um tapa nele depois dele segurar meu braço. Tinha sido um momento satisfatório. — Nós fomos casados. Você não pode sequer me ouvir um pouco?

— Não há nada que eu queira ouvir de você. Qual parte do "eu te odeio" você não entendeu, John?

— Você me amava.

— E você matou esse amor quando me traiu, seu filho da puta egoísta! – gritei. Havia um limite do quanto eu poderia aguentar. — A cada três meses você aparece na porra da minha porta agindo como se fosse eu quem tivesse te machucado quando foi você quem me traiu! Eu estou cansada de ser obrigada a te tolerar apenas porque você gosta de se fazer de arrependido e agir como se eu fosse uma cadela desalmada para sua família. Até mesmo sua mãe já me ligou me pedindo para te perdoar porque você estava sofrendo! O quanto mais você vai foder minha vida até ficar satisfeito?

— Eu estou sofrendo! Eu sinto sua falta! – ele gritou, segurando meus braços. Desgraçado.

— Não é problema meu, porra! Eu espero que você apodreça no inferno e seja miserável pelo resto da sua vida! Vai se foder! – gritei e ele arregalou os olhos. Eu aproveitei seu choque e me soltei. — Se quer perdão, veio ao lugar errado. Eu nunca vou te perdoar.

— Eu já pedi desculpas. O que mais você quer que eu faça?

— Quero que você vá para o inferno. Depois disso, talvez eu te perdoe.

— Você não é assim. Lucy encheu sua cabeça com essa merda. Essa não é você, Kelly. – ele falou e eu olhei para céu. Eu ainda tinha meu réu primário. Valeria a pena ir presa se eu pudesse bater nesse cara. — Eu sempre disse que ela não era boa para você.

— Eu estou cansada, John. – falei. Era verdade. Eu estava tão cansada de todo esse ódio e ressentimento que eu sentia dele. Eu estava tão cansada de não conseguir sonhar mais, de não acreditar que eu merecia amor e de que ninguém seria fiel a mim. — Não suporto ver você. Não suporto ouvir sua voz. Por que você continua me perseguindo desse jeito?

— Eu cometi um erro.

— Céus, isso de novo não. Eu já ouvi isso antes. Essas mesmas palavras em muitas situações diferentes. Quando eu descobri suas traições você me disse isso. Quando fomos para a audiência de reconciliação, você repetiu. E no dia do divórcio, você continuou latindo a mesma coisa. Isso não muda nada. Me deixa em paz.

— Você me odeia tanto assim?

— Mais do você pensa. Vai embora. – falei. Ele me encarou por alguns segundos, mas cedeu e foi embora. Porra, dessa vez tinha sido mais fácil. Normalmente levava pelo menos uma hora. Talvez ele realmente me deixasse em paz dessa vez. — Eu preciso dormir.

°°°

A vida de um adulto era insuportável.

Mesmo agora, às vezes eu desejava poder voltar a quando eu era jovem e tinha a vida toda pela frente.

Eu costumava chorar mais naquela época, mas acho que minhas lágrimas secaram após o divórcio. Quer dizer, eu chorei por semanas sem parar.

E até mesmo quando eu estava olhando para a única foto que tinha restado do meu casamento, eu não conseguia chorar. Tudo o que eu sentia era raiva, porque a Kelly da foto estava tão cheia de sonhos e esperanças.

Tão diferente de quem eu era agora.

Eu odiava o John por muitas razões, mas a maior dela era pela forma como que ele destruiu minha capacidade de sonhar. Até mesmo meus filmes favoritos perderam toda a graça.

Um casamento que acabou por uma (várias) traição(ões).

Pensar nisso não ia mudar a forma como as coisas aconteceram ou como eu tinha me sentido.

Passado era passado. Remoer isso não me traria nada de bom.

Então, por que o John continuava aparecendo na minha casa? Aquele filho da puta desprezível. Eu deveria pedir uma ordem de restrição.

Esperando você (The Heartbreakers #2.5) Onde histórias criam vida. Descubra agora