Capítulo 7

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Kelly

Havia algo seriamente errado comigo.

Essa era a única explicação para eu não me afastar quando Aaron Grayson me tocava, o que ele fazia com frequência. Mas por alguma razão, seu toque não me incomodava.

Olhei para o teto da sala do meu apartamento.

Lucy tinha passado os últimos dias falando sobre ele sem parar, então mesmo que eu não quisesse pensar nele, não tinha como. Ela queria saber quem ele era, como eu o conheci e porque eu menti.

E eu não queria falar sobre isso.

Por algum motivo, eu sentia que se eu falasse sobre ele com Lucy, ela ia fantasiar sobre algo que não existia. Eu não queria isso.

Me deitei no sofá e puxei a camisa do meu pijama de flanela. Um sorriso veio aos meus lábios. Depois de ter voltado da casa de Ivan, na noite que eu conheci o Aaron, eu simplesmente tinha me tornado incapaz de usar uma das camisolas de novo. Então, eu tinha voltado ao meu bom e velho pijama de flanela.

Os olhos dele quando me viu parada na porta do Ivan realmente pareciam surpresos, então lentamente ele abriu um sorriso.

Ah, droga.

Eu me sentei.

— Eu simplesmente não tenho mais idade pra ficar lembrando do sorriso de um cara e rindo como uma adolescente! – falei comigo mesma. Eu fazia muito isso. Comecei a ter esse hábito quando fui morar sozinha, na época em que estava na escola de direito. Eu tinha crescido na casa com a minha avó e a minha mãe, então não havia muitos momentos em que ficávamos em silêncio.

Eu morei sozinha por um tempo, mas logo me mudei e fui morar com o John. Apesar de ser um grande filho da puta, ele sempre me ouvia quando eu queria falar e também não se incomodava quando eu falava sozinha, apesar dele sempre expressar o quanto achava isso estranho. Eu odiava o fato dele sempre deixar a maldita toalha molhada em cima da cama, mas o desgraçado não me ouvia dizer sobre o quanto isso era insuportável.

Hoje era mais um dia que eu estava infinitamente grata por ter me livrado daquele encosto que um dia eu chamei de marido.

Voltei a me deitar no sofá.

Eu tinha aprendido a gostar da minha própria companhia e, normalmente, se eu queria alguém comigo eu ia para a casa de Ivan ou outro cara ou então saía com alguma amiga.

Só que as vezes, o silêncio era simplesmente alto demais. Em alguns momentos, essa casa parecia grande demais. E eu me sentia absurdamente solitária.

Eu tinha muitos sonhos enquanto crescia.

Um bom emprego, um carro, uma casa confortável, um marido que me amasse e filhos.

Era isso o que eu queria.

A vida que eu idealizei desde que era pequena e brincava com as minhas bonecas no chão do salão de beleza da minha mãe.

Eu tinha um bom emprego, um carro legal e uma casa confortável. Eu tinha conseguido cada um deles com meu esforço e trabalho duro.

Eu tive um marido. E ele fodeu a minha vida e acabou com meus sonhos.

Às vezes, eu odiava a forma como eu tinha depositado todos meus sonhos em uma pessoa além de mim. Mas então, eu percebia que a culpa não era minha.

Por que eu deveria ser culpada por confiar no homem que jurou estar comigo pelo resto das nossas vidas?

Eu sempre quis ter filhos. Sempre adorei crianças.

Talvez eu pudesse fazer isso sozinha.

Eu já tinha pensado nisso antes. Fertilização in vitro. Eu tinha uma carreira estável, uma casa e condições para ter uma criança. Desde o meu aniversário de 30 anos eu vinha pensando nisso, mas nunca fui a frente com a ideia.

Ser mãe.

Eu queria ser mãe. Queria ver um bebezinho parecido comigo me chamando de mamãe.

Havia uma garotinha loira com Aaron e o amigo dele naquele dia. A menininha não parecia ter mais de quatro anos e era absurdamente fofa, ela se parecia com o homem loiro que a segurava, provavelmente seu pai.

Eu acho que estava na hora de eu começar a pensar seriamente na possibilidade da fertilização in vitro.

Fechei meus olhos, tentando imaginar como meu bebê seria.

Eu queria um garotinho. Com os cabelos cor de mel como os meus. E ele teria os olhos cinzas.

Abri meus olhos.

— Será possível que nem imaginando meu filho eu consigo esquecer ele? – reclamei. Não houve reposta e eu respirei fundo.

Um bebê que se parecesse com o Aaron seria fofo também. Cabelos castanhos e olhos cinzas. Seria uma gracinha.

— Eu perdi a cabeça. Não tem outra explicação. – reclamei novamente.

Minha campainha tocou e eu me ergui do sofá. Quem era?

Eu abri a porta e o homem que tinha estado nos meus pensamentos desde o dia que eu o tinha conhecido estava diante de mim.

— Aaron? – perguntei surpresa. Aaron sorriu para mim, seus olhos brilhando, como se ele estivesse escondendo um coelho na manga. — O que você está fazendo aqui?

— Vim pedir uma xícara de açúcar. – ele disse, erguendo uma xícara branca vazia. Eu pisquei, completamente confusa.

Sempre que ele estava perto, eu ficava confusa.

E eu não podia dizer que odiava essa sensação.

Esperando você (The Heartbreakers #2.5) Onde histórias criam vida. Descubra agora