52- Reconstruindo

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Wanda POV.

-Então vocês estão bem? - doutora Shawn perguntou depois que eu contei a ela sobre a conversa que tive com Natasha.

Já se passaram dois dias desde que as coisas em meu relacionamento voltaram aos trilhos. Estávamos novamente na normalidade da nossa vida, como as coisas eram antes do acidente.

E eu estava no lugar de costume. Naquele sofá de couro preto, sentindo o olhar da doutora Shawn em mim, me analisando minuciosamente.

-Sim. - dei de ombros confirmando que tudo estava perfeitamente bem.

-E você a escutou? - ela perguntou e eu desviei meu olhar para um ponto fixo, voltando a dois dias atrás, relembrando cada palavra dita por Natasha. - Ela falou para você como se sente?

Depois de buscar e de repassar a conversa, eu respondi a doutora.

-Não.

-E você não acha que isso é importante?

-Sim, claro. Mas ela não falou, ela apenas me escutou. - eu não tinha parado pra pensar que ela não havia falado sobre como ELA se sentiu com a situação do bebê, ou como se sentiu nos últimos dias que estivemos em crise.

-Pelo o que você me disse, as coisas não estão bem entre ela e a sua cunhada, então é provável que ela não esteja tão bem. - a doutora falou e eu suspirei.

Só a ideia de ter novamente uma daquelas conversar onde a tensão era palpável, me causava calafrios. Mas era necessário. Eu queria ajudar Natasha com qualquer problema.

-Então agora eu quero que você faça diferente... - ela me olhou e arrumou os óculos em seu rosto. - Quero que ao invés de falar, você a escute.

Não era segredo pra ninguém que algumas pessoas, quando passam por situações dolorosas e traumatizantes, a primeira percepção é a sua própria dor, é olhar para o seu próprio interior e ver o quão machucado está.

E isso nos faz egoístas.

Ignoramos as pessoas ao nosso redor, ignoramos que também há outras pessoas machucadas e que precisam do nosso apoio.

Eu era esse tipo e pessoa.

Mas Natasha, não. Natasha era diferente. Fazia parte da pequena parcela de pessoas no mundo que colocava as dores e as necessidades de quem amava acima das suas.

E naquela sessão de terapia, eu entendi isso.

Talvez Natasha nem tivesse noção do tamanho da sua dor, porque estava simplesmente a jogando para um espaço isolado de seu ser, e nem sequer se permitiu sentir.

Não havia entendido que ela jamais sentiria o cheiro de bebê do pequeno ser humano que eu carregava em meu ventre, no qual todas as noites durante minha curta gestação, ela deitava sua cabeça e dizia as palavras mais doces.

Não havia entendido a seriedade e a maldade na qual eu a tratei nos últimos dias.

Mas eu estava disposta a tirar o esparadrapo pra cuidar daquela ferida. Para dar o amor e cuidado que eu sabia que Natasha merecia.

(...)

Pela primeira vez nos últimos dois dias eu fui para o meu próprio apartamento. Eu amava ficar na casa de Natasha, onde tínhamos a nossa privacidade. Era maravilhoso estar cozinhando algo e de repente uma Natasha nua se aproximar de mim na cozinha. Me fazia pensar que daqui alguns meses, estaríamos na nossa própria casa, isso me causava borboletas no estômago.

-Ei, Pietro! - vi meu irmão preparando algo na cozinha e sentei em um dos banquinhos.

-Oi. - ele virou e sorriu fraco pra mim.

Real Life - WantashaOnde histórias criam vida. Descubra agora