How Fast the Night Changes

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             Campeonato de primavera. O momento mais esperado pelos colecionadores de medalhas e troféus do Hammer High.

              Travis não fala de outra coisa. Ontem me levou para comer um taco no centro e não parou de falar sobre como os seus dribles estão bem treinados e como o seu time tem chance de vencer o amistoso. Citou cada jogador e suas habilidades especiais, embora eu não entenda nada a respeito, e só calou a boca quando sentamos para comer. Gosto de vê-lo entusiasmado, focado em trazer bons resultados não só para sua vida mas para o nosso colégio. Apesar dos pesares, ele é um cara dedicado e essa é uma das virtudes nas quais admiro nele. Espero que não mude.

             Hoje, depois de uma noite inteira em claro, levantei e me arrumei pra ir pra escola. Addison e Sam ficaram de pegar carona comigo e eu fui bem pontual quanto a isso, passando na casa das duas e as buscando. Elas vieram o caminho inteiro falando do campeonato, dos jogadores e dos visitantes que apareceriam para assistir. Não sei o que os outros vêem de tão interessante em um bando de garotos deslizando atrás de um disco, porque, sinceramente, eu acho uma perda de tempo. Ok que se trata de um esporte que pode alavancar a integridade da nossa instituição educativa, mas continuo achando uma bela palhaçada. Talvez por eu ser ruim em tudo que inclua correr, saltar, rolar, arremessar, chutar e fazer pontos. Pessoas com talento esportivo me invejam e o meu recalque pode interferir na minha visão crítica.

             Quando enfim chegamos, as duas descem primeiro. Dou um jeito de encontrar uma vaga fácil e retiro a chave da ignição, abrindo a porta e saltando para fora. Nada como um dia letivo comum... Ou nem tanto. Pois quando fixo o meu olhar num canto aleatório, noto um carro chegando. Um Camaro preto com aros finos, janelas escuras e uma pintura impecável. Ao meu redor, todos rapidamente se atentam a novidade, levando os seus olhares curiosos à cena que parece a de um filme. A nave para bem na nossa frente e revela algo que eu nunca poderia imaginar; Emily Dickinson descendo do banco do motorista acompanhada do cara da festa, o que havia usado drogas com ela no quarto. O alto, cabeludinho e "marrento". Ambos usam preto como se estivessem num funeral mas, por alguma razão, ficam absurdamente estilosos. Roupas caras, coturnos combinando e anéis nos dedos das duas mãos. Se é que estou enxergando corretamente, o cara até usa um brinquinho numa das orelhas, esbanjando charme. Parece um casal de herdeiros e se eu não tivesse ficado de frente com a realidade dura da Dickinson, até poderia acreditar nessa teoria. Será que é uma boa hora pra me perguntar de onde ela tirou esse carro e esse garoto? Porque algo não me cheira bem.

                         一Chegou ela 一diz Addison ao meu lado, chupando um pirulito.

                         一Aluno novo no pedaço 一adiciona Sam num tom malicioso.

                         一Ou não 一contradigo.

             Os dois caminham e agem como se fossem donos de tudo, nem se dando ao trabalho de repararem nos telespectadores presentes. Os acompanho com os olhos até vê-los cruzar o corredor e sumirem do meu campo de visão, deixando geral encucado com o acontecimento. Que porra foi essa que aconteceu?

                          一Eu não entendo... 一Sam recomeça. 一Se essa garota tem tanto dinheiro assim, por que estuda em Hammer High? Qualquer outro pai político e milionário a teria matriculado num internato na Flórida ou no pico do Everest.

                          一Nossa escola não é pobre 一Cheaky defende.

                          一Perto da ostentação que essa menina exala, é sim.

                          一Ela não é isso tudo 一penso alto demais, chamando a atenção das duas.

                          一E você a conhece?

A DickinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora