O dia clareou e eu me vi obrigada a voltar pra casa.Passei uma noite tranquila e dormi feito um bebê, coisa que não acontecia há um bom tempo. Acordei assim que os primeiros raios de sol invadiram o ambiente e me peguei deitada ao lado da Dickinson, com um de seus braços rodeando a minha cintura num abraço. Que porra é essa? Me levantei e corri pra longe como se ela tivesse alguma doença infectocontagiosa. A olhei com mais atenção e a vi abraçar a almofada, mudando de posição. Não sei o que rolou na noite passada mas acabou e eu preciso ir embora. Está quase na hora de ir pra escola e nem me expliquei pra os meus pais, o que certamente me renderá um castigo daqueles!
Ajeito o cabelo, pego minhas chaves e desço. Logo na porta do apartamento dou de cara com um grupo de caras compartilhando drogas. Os ignoro, abaixando a cabeça e seguindo o meu caminho até o carro. Esse lugar é assustador, essas pessoas são malucas e a dona da casa principalmente. Nem sei porque continuo me envolvendo quando tenho coisas mais importantes pra fazer, tipo, inventar uma desculpa convincente pra os meus pais. Não foi legal sumir por uma noite inteira e deixá-los desesperados, eu preciso consertar a burrada e é o que vou tentar fazer agora.
Entro, ponho o cinto de segurança, dou a partida e vôo pelas avenidas, deixando todo o caos de Crenshaw Heights para trás. Ali não é o meu lugar e eu preciso entender. Ela não é o meu lugar. Eu sei que nos aproximamos involuntariamente e aprendemos a tolerar uma a outra mas isso não muda o fato dela ser perigosa. Vai saber o que aquela garota faz quando eu viro as costas, não basta apenas ser viciada em drogas. Tem todo um enredo detalhado por trás, no qual eu ainda não conheço, mas que pode dizer bastante. Tem muitas coisas escondidas por debaixo dos panos e eu tenho que ser cautelosa se não quero que respingue em mim. A minha família não merece tamanha preocupação. Não pode nem ao menos sonhar que tenho vínculo com uma traficante, isso seria o fim! E eu não quero estragar a boa convivência. A Dickinson é até divertida mas também é uma ameaça pra mim.
Ao chegar em casa, mal entro na garagem e já sou recebida pelo casal de braços cruzados. Meu pai possui uma carranca séria que eu raramente via, e minha mãe, os olhos inchados, aparentando ter chorado. O medo e a culpa automaticamente se apossam da minha alma, e antes que eu tenha a oportunidade de me explicar, sou atingida por uma cassetada de broncas, começando pelo meu pai:
一Isso são horas? 一seu tom é alto e indelicado. 一O que você está pensando? Que pode simplesmente sumir pelo mundo e nos deixar malucos? Tem noção do pavor que nos causou?
一Eu queria ter avisado, mas vocês...
一Eu estou falando! 一me interrompe, rude. 一Não me interessa onde estava ou o que estava fazendo, não deveria ter nos deixado sem notícias! Acha que somos palhaços? Somos os seus pais, Susan! Deveria se envergonhar! 一baixo o rosto. 一Tem ideia de que a sua mãe não pregou os olhos por sua causa? Imaginamos tudo de ruim quando parou de receber as ligações, afinal, sempre te demos toda liberdade, mas exigimos que fosse clara e honesta quanto ao seu paradeiro! Você não pode sair por aí e se esquecer da gente como se fôssemos inúteis!
一Tá, desculpa! 一retruco, no mesmo tom. 一O meu celular descarregou e eu não consegui colocá-lo pra carregar 一minto. 一Lamento se os preocupei mas não tinha como avisar.
一E por que não voltou pra casa, então? 一minha mãe questiona.
一Porque eu estava ocupada. Infelizmente não tinha um celular por perto e eu não pude me comunicar.
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A Dickinson
RomanceO ensino médio pode ser cruel na maior parte dos casos. Bullying, assédio, preconceito, sobrecarga, pais insuportáveis e tudo que compõe a vida de qualquer adolescente, porém, para Susan Gilbert (Ella Hunt) as coisas não poderiam ser melhores. Namor...