Anything For You

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Emily's P.o.v:

               Ontem eu morri e voltei a vida e acho que nunca me apavorei tanto.

               Meu coração parou por minutos e desesperou todo mundo. Minha boca espumou, meus lábios ficaram azuis, minha pele acinzentada e o meu corpo, gelado. Não sei se nesse curto período de tempo fui parar em algum lugar separado especificamente pra as almas, mas sei que quando reabri os olhos, me vi aqui onde estou agora, nessa cama de hospital, com fios por toda parte e todos os meus músculos doloridos. Não queria causar esse transtorno, nunca esteve nos meus planos, mas quando se é uma viciada, não se tem controle das consequências. Eu já sabia que esse dia chegaria, só não esperava sobreviver. A gente nunca espera. Começamos com uma brincadeira e quando nos damos conta, estamos vendo um filme inteiro de nossas vidas rolando bem na nossa frente, como se o presente tivesse acabado de passar e fugisse mais e mais do alcance das nossas mãos. É aterrador e traumatizante.

               Quando acordei pela primeira vez, senti uma vontade sinistra de vomitar mas segurei. Baixei os olhos cansados na direção das minhas mãos e as notei arroxeadas, paralisadas e dormentes, com apenas um oxímetro num dos dedos indicadores. Pelas marcas vermelhas no meu peito, posso presumir que fizeram várias tentativas de reanimação. Fiquei por um fio de partir dessa pra melhor e acabei com a noite de todos os meus amigos. Devo ter causado um caos e isso me entristece. Como o pessoal está se sentindo agora? Como o George está? Eu não quero nem pensar. São eles que me motivam a continuar nessa vida 一além de mim mesma, é claro一 e esse incidente pode ter acarretado vários pesos de culpa. Eu literalmente morri por uns instantes, quero dizer, o quanto isso deve tê-los afetado? A rapaziada deve estar inconsolável nesse momento.

               Ao varrer meu olhar pelo quarto, não achei ninguém, só alguns buquês de flores. Vi os meus pertences delicadamente organizados sobre uma mesa ao lado de alguns instrumentos médicos, as roupas que eu estava usando e um monte de ampolas de remédio. Reparei num botão vermelho no canto da cama e relutei entre apertá-lo pra chamar alguém e continuar fitando o ambiente, e é óbvio que a segunda opção pareceu muito mais interessante. Por mais que eu esteja curiosa pra saber como todos estão lidando com essa situação, quero ficar sozinha, voltar no tempo dentro da minha cabeça, recapitular os últimos segundos antes da overdose e descobrir no que posso ter errado. Sei que usar drogas por si só já é errado mas eu sempre tentei tomar cuidado. Achava que conhecia perfeitamente o meu corpo até ele me trair e me fazer vir parar aqui, nesse quarto, nesse hospital, nesse espaço vazio e frio, onde a esperança raramente existe.

              À princípio, deveria saltitar por ainda estar respirando mas as únicas coisas que fiz foi bufar e lamentar pelo ocorrido. Não consegui chorar porque os meus sentimentos ainda estão meio congelados por causa da anestesia mas sustentei a dor. Senti doer e aguentei firme esperando que alguém viesse me ver, mas ninguém veio, então, peguei no sono novamente. Quando acordei, dei de cara com o George cochilando na poltrona, quase tombando pra o lado. Decidi não acordá-lo. Ele com certeza está cansado e não é justo tirá-lo o único momento de descanso pra me dar atenção. Fiquei sozinha até agora, posso continuar.

                          一Senhorita Emily Dickinson? 一uma enfermeira entra. 一Que bom que já acordou! Está se sentindo bem?

                G praticamente pula de onde está sentado, um pouco desorientado pelo susto.

                          一Mais ou menos 一faço força pra responder.

                          一Precisa de alguma coisa? Está com fome?
                
                          一Não, obrigada.

A DickinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora