Separate Ways

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                Depois de passar o resto do dia e a noite inteira na farra, voltei para casa e despenquei no sofá. Obviamente não estava num estado apropriado e sequer lembrava o meu nome, o que abriu margens pra Carl servir de babá. Esse não é o trabalho favorito dele, mas considerando que a Sue estava na metade do caminho de casa, não havia outra alternativa. Éramos só nós dois, o que significava que, sim, ele era obrigado a cuidar de mim. Para a minha surpresa, o mesmo preparou um canto aconchegante pra que eu pudesse dormir mais confortavelmente. Providenciou comprimidos pra ressaca e um café da manhã reforçado pra quando eu acordasse. Não me fez perguntas e nem tentou ler a minha mente, apenas me deixou em paz como um bom pai respeitoso faria. Agradeci inconscientemente e caí num sono profundo. Felizmente as drogas têm o poder infalível de irrelevar qualquer mínimo problema que exista pra a mente descansar, e foi o que rolou.

                Ao acordar, senti os meus miolos estremecerem ao ouvir o barulho de louças na pia, como se alguém as estivesse lavando. Franzi o cenho ao imaginar o meu parceiro fazendo isso e rapidamente me levantei pra checar, tomando um susto e tanto! Era Sue arrumando as coisas. Ela não foi embora. Por um segundo me perguntei se o meu drama no dia anterior colaborou pra que ela mudasse de ideia, mas logo cheguei à conclusão de que se tratava de uma questão muito pior. A Sue está presa a mim de uma forma nada legal, o que significa que não importa o quanto ela lute pra se soltar, nunca vai conseguir. Sendo assim, não fiquei feliz com a permanência dela, mas triste por constatar que estou atrapalhando a vida de alguém que amo e que quero que seja feliz, afinal, não era isso que eu queria e com certeza não foi isso que planejei. Eu que meti o pau no relacionamento dela com o Travis desde o começo por ser abusivo, agora estou pagando caro ao proporcioná-la a mesma experiência em circunstâncias diferentes. Não era pra ser assim. Não tinha que ter chegado nesse ponto. 

                Fiquei tão mal comigo mesma que me afastei sem cumprimentá-la, subindo as escadas e indo rumo ao quarto pra me isolar. Não provei no café, nem tomei os comprimidos e nem tampouco procurei o Carl pra perguntá-lo o que exatamente aconteceu ontem depois que eu saí. Não fiz nada além de trancar a porta e me jogar na cama como se estivesse doente, me rendendo aos cobertores e às lágrimas. Fiquei com meus pensamentos por horas e só voltei a consciência quando ouvi a voz do Kato no andar de baixo sinalizando que a minha perturbação havia acabado de dar início. Rolei os olhos, me pus de pé a contragosto e tentei soar o mais convidativa possível, pena que não deu certo. Ignorei a Sue o tempo todo e, por fim, topei dar uma volta com os caras pelas redondezas. É o que estamos fazendo agora, apesar de não estar sendo nem um pouco relaxante.

                       一Aí 一Kato chama a minha atenção enquanto caminhamos. 一O que tá rolando entre você e a sua patroa?

                       一Estamos num momento difícil.

                       一Eu posso ajudar?

                       一E no que você seria útil?

                Ele faz uma micro e irônica expressão de dor.

                       一Credo...

                       一Por acaso entende de relacionamentos?

                       一Entendo que se você fosse um pouquinho mais inteligente estaria solteira. Criminosos não namoram.

                       一Essa é a maior bobagem que eu já ouvi.

                       一Mas é verdade, Dickinson 一diz Lance, braço direito de Kato. 一Temos coisas muito mais urgentes pra focar do que uma garota, como por exemplo, não sermos pegos pela polícia.

A DickinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora