Who's Dickinson?

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            Eu não deveria ter acordado tão cedo pra ir pra escola.

            Ultimamente não tenho conseguido dormir direito. Não sei explicar exatamente o que é que acontece mas, todas as noites são turbulentas, e eu não consigo me concentrar em dormir. Fico rolando na cama, acordando toda hora e bebendo litros de água. Tento ler livros, fazer cruzadas, assistir alguma coisa mas nunca é o suficiente pra fazer o sono aparecer. Óbvio que não comentei nada com os meus pais por medo de deixá-los preocupados. Os dois vivem ocupados demais, não posso tirá-los o foco com uma insônia idiota. Nada que um bom remedinho não resolva.

            Aproveitando que despertei antes do alarme tocar, me levanto e abro o closet para selecionar o look do dia. Ainda está tudo escuro lá fora mas nada me impede de tomar um banho gelado, arrumar o cabelo e torcer pra não dormir na primeira aula. Uma semana se passou e já estamos estudando conteúdo de prova, ou seja, não posso descuidar. Estou vivendo os meus dias dourados e preciso fazê-los valer a pena se quero ter um futuro promissor. Espero ter uma carreira de sucesso igual a do meu pai e trazer o orgulho a ele, afinal, não se dedicou todos esses anos para me pagar boas escolas e cursos à toa.

           Depois de me produzir, pego o celular pra checar as mensagens importantes. Os últimos emojis das meninas no nosso grupinho de três, um "boa noite" do Travis, minha mãe me mandando desligar a luz da luminária e mais algumas baboseiras que não levo em consideração, sendo assim, bloqueio a tela e me encaminho para as escadas rumo a cozinha, onde o meu velho já se encontra preparando um café.

                         一Princesa 一diz ao me ver. 一De pé tão cedo?

                         一É, acordei antes do planejado 一me sento no balcão de frente para ele.

                         一Sei como é 一pega sua caneca de porcelana com um expresso espumoso dentro. 一Vai um cafezinho?

            Nego com a cabeça.

            Meu pai rodeia o balcão para se sentar ao meu lado, pousando a caneca no mármore e puxando um jornal desatualizado para ler.

                        一Não vai trabalhar hoje? 一pergunto ao notar seu roupão no lugar da roupa social de todos os dias.

                        一Só à tarde. Prometi a sua mãe que a levaria num leilão de sofás hoje.

                        一Sofás? Mas nós já temos uns ótimos aqui.

                        一É, mas sabe como é a manda-chuva 一sorri.

                        一Boa sorte, então.

           O observo beber o líquido quente e espumado de goles em goles enquanto passa os olhos pelas letras miúdas. As horas se passam lentamente e o dia clareia, me revelando uma vizinhança amena e quieta. É minha hora de ir.

           Abro o portão automático da garagem e saio de ré com o meu carro até cair no asfalto. O tráfego está praticamente parado, o que facilita que eu pise fundo. As nuvens escuras no céu sinalizam um toró que está perto de cair. Nessa área onde eu moro, tempestades geralmente são sinônimos de desabamento de árvores, mar agitado e trânsito. Muito trânsito. Morar em Venice Beach tem lá os seus pontos negativos, apesar de eu considerar o lugar mais lindo dos Estados Unidos. De qualquer forma, acredito que metade dos meus problemas seriam resolvidos se eu fosse liberada mais cedo hoje.

            Ao chegar na escola, paro no estacionamento, travo as portas com a chave e jogo a mochila no ombro para seguir pra dentro, onde um capitão muito gato me espera logo no hall. O ofereço um meio sorriso e ele me abraça.

A DickinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora