Play: Lost in the Fire - Gesaffelstein feat. The Weeknd.
Mais uma noite de insônia.
Eu sei que deveria estar dormindo uma hora dessas mas não estou. Pelo contrário. Estou acordada, à base de uma cafeína que sequer tomei, encarando o teto com as mãos atadas sobre a barriga. Minha mente se converte num turbilhão de pensamentos enquanto o meu coração parece que vai saltar pela boca. Também visto as minhas roupas íntimas por conta da visitinha recente do Travis. Ele apareceu à boca da noite, pediu para entrar e se derramou nos meus pés implorando para que eu o desculpasse pela insensatez. Eu o estava ignorando desde o incidente no estacionamento e aposto que isso foi bem doloroso pra ele. Nós subimos, conversamos, entramos num consenso e transamos. Não por ser algo que eu estava louca pra fazer, mas porque o Travis estava e eu não quis decepcioná-lo. Temos discutido tanto ultimamente que enquanto eu puder fazer a paz reinar, farei. Não importa os critérios exigidos.
O problema é que agora não consigo pegar no sono. As luzes nunca se apagam e os meus olhos nunca se fecham. Eu não deveria ter problemas relacionados à insônia com tão pouca idade, deveria? Como o meu pai vive dizendo, eu não tenho estresses o suficiente. Não tenho contas para pagar, uma casa para manter e uma filha para bancar. Eu só tenho que estudar para garantir boas notas e orgulhá-lo, ou seja, não deveria ser tão difícil apenas adentrar ao estado inconsciente por umas horas. Talvez eu devesse tomar umas pílulas.
Com o corpo arrepiado de frio, me enrolo num robe e caminho para as escadas, as descendo e indo até o banheiro da parte debaixo, onde minha mãe costuma guardar seus kits de primeiros-socorros e limpeza. Eu sei que lá tem uma caixinha de remédios que ela toma quando necessário, e, bom, é necessário agora. E nesse impulso, vou em passos de pluma até o cômodo e fecho a porta ao entrar, acendendo a luz em seguida. Me olho no espelho e noto as terríveis olheiras, me frustrando internamente por elas nunca saírem do meu rosto. Faz um bom tempo que eu não sei o que é dormir de verdade e se Deus quiser, vou relembrar hoje. Reviro as gavetas, abro as portas e só por fim acho o que tanto procuro. Midazolam. Um composto químico utilizado especialmente em pacientes com insônia. É disso que eu preciso. Sem pensar duas vezes, despejo uns três comprimidos sobre a palma da mão e vôo para a cozinha, capturando um copo e enchendo com água da torneira. Situações desesperadas pedem medidas drásticas, e se eu não morrer antes do sol nascer, pelo menos terei chegado o mais perto do que pessoas drogadas chegam.
Arrumo os locais para não deixar vestígios de que passei por eles e volto para o quarto, trancando a porta e me deitando na cama. O ambiente parece tão solitário, como jamais foi. A brisa gélida que entra pelas janelas e cobre o meu corpo desnudo, me faz tremer e puxar o cobertor. Tenho aula cedo amanhã, preciso dormir de uma vez. Depois do campeonato de primavera, a temporada de provas vai começar e eu preciso saber do conteúdo. Não posso decepcionar os meus pais e nem tampouco decepcionar a mim. Estou no último ano e tenho que acumular boas notas pra o currículo da faculdade, não seria justo desperdiçar toda a fé que eles vêm depositando em mim. Tenho que fazer valer e vou, de um jeito ou de outro. Mesmo que tenha que recorrer a medicamentos contraindicados.
Às vezes tenho a impressão de que a minha vida tomou um rumo diferente do dia pra a noite. Existem inúmeras coisas que eu não tenho conseguido lidar e queria. Responsabilidades que deveria estar focando mais, mas não estou. Tudo parece estar de cabeça pra baixo nesse momento decisivo, quando as minhas atitudes falam bastante por mim e determinam quem eu sou. Tudo parece estar fora do lugar e o foda é que eu nem sei o motivo. As noites têm sido mais longas. A cabeça mais pesada. Os olhos mais dormentes e o corpo mais fraco. Os meus deveres têm parecido mais chatos, difíceis de serem cumpridos e inalcançáveis. As aulas têm soado como videotapes gravados no fundo do meu consciente ignorante que por enquanto ainda se recusa a focar na realidade. Tudo se assemelha a um grande borrão, misturando o passado e o presente de forma homogênea, como se ambos se interligassem.
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A Dickinson
RomanceO ensino médio pode ser cruel na maior parte dos casos. Bullying, assédio, preconceito, sobrecarga, pais insuportáveis e tudo que compõe a vida de qualquer adolescente, porém, para Susan Gilbert (Ella Hunt) as coisas não poderiam ser melhores. Namor...