Capítulo 1

113 16 10
                                    

Bárbara

Quase sempre as pessoas olham o relacionamento dos meus pais, meus irmãos e pensam que vivo no mesmo conto de fadas. Talvez um dia vivi, já faz tanto tempo que nem me recordo mais. Nos últimos dias senti a crise ferrenha dos cinco anos, pra mim ela é bem real. E o pivô de tudo isso tem nome e sobrenome "SOGRA". Já não existe espaço mais para Victor e eu, ela usurpou, sugando minha felicidade conjugal como se fosse um buraco negro. 

_ Vou troca-la, fica com as vasilhas por favor. 

Tiro Helena da cadeirinha de alimentação, ele assente com o meio sorriso, quando penso em retribuir escuto minha sogra. 

_ Ahh não gente, de jeito nenhum… 

Ela fala levantando e juntando os pratos sujos os empilhando na mesa. 

_ Vitin nunca lavou um prato lá em casa, pode deixar que eu faço. 

Respiro fundo dando um olhar mortal para o meu marido avoado, em outra dimensão que não sou eu, mas sim sua mãe insuportável. Engulo um bolo na garganta e seguro mais firme Helena que reclama do meu aperto, caio em mim a pedindo desculpa e subo para o quarto dela. 

_ Mamãe, porque tá tliste? 

Beijo seu rostinho moreno me acalmando apenas por ter ela nos meus braços. Meu amor infinito em miniatura. Ela é a única que consegue acalmar essa tempestade dentro de mim, esse sentimento de revolta e raiva. 

_ Só estou cansada meu amor. 

Explico sentando na sua cama de princesa, ela me observa calada com seus olhos cor de folha seca às vezes verde. Minha princesa é um encanto com sua pele morena e os cabelos negros com cachos escorridos, sempre deixo uma parte do cabelo preso em cima e o resto solto, fica simplesmente linda.

_ De fazer papa pra mim? 

Nego rapidamente mudando logo de assunto ao perguntar qual pijama de princesa ela vai querer usar. Helena é tão esperta, já tem alguns dias que ela flagrou Victor e eu discutindo, principalmente sobre tudo ficar nas minhas costas. Paramos assim que a vimos, mas ela não parece esquecer que eu falei que estava cheia de cozinha, lavar e passar para ele. 

_ Vou contar uma história. 

Sinto tanto não ter o ânimo que queria para lhe contar a história animada, lembrar das minhas discussões com Victor me cansa bastante. Mesmo sem empolgação lhe conto toda a história enquanto acaricio seus fios finos. Fico na cama com ela pensando e pensando até cair no sono e adormecer também. 

***

_ Meu bem... 

Sinto toques gentis no meu rosto, abro os olhos sonolentos encontrando Victor acariciando meu rosto. 

_ Você dormiu com ela, quer que eu te carregue até o quarto? 

Ele pergunta carinhoso e meu coração se aperta forte, olho bem para ele e não sinto vontade de ir.

_ Não precisa... 

Respondo baixo, minha voz levemente embargada. 

_ Ela me pediu para dormir aqui hoje, está frágil. 

Minto com muito pesar por fazer isso, quebro nosso contato visual ao virar e abraçar o corpinho miúdo no meu abraço protetor. 

_ Tudo bem, boa noite para vocês. 

Ele beija a cabeça da nossa filha e igualmente faz comigo, permaneço quieta e pensativa, angustiada por pensar não ter forças mais para querer lutar pela gente. 

ilha Onde histórias criam vida. Descubra agora