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Estava quase terminando de empacotar as caixas, me embolei um tantinho com a fita durex, ela não demonstra firmeza.
Estou um pouco suada, talvez devesse colocar os longos fios negros de meu cabelo em um coque, mas estou extremamente ansiosa e apressada para me mudar de uma vez! Um sentimento de vida nova invade meus pensamentos evitando-me de empacotar tudo de forma calma e certa.
Amo meu irmão César, mas saber que não vou ter que lidar com sua bagunça em casa e muito menos com suas opiniões sobre minha vida é de dar água na boca!

—Oh, Francisca, venha cá! —Falando no diabo...olha quem está lá embaixo me gritando.

—Ah, não vai dar! Estou arrumando as ultimas caixas e, outra coisa, meu nome não é Francisca, para de ser imbecil, César. —Esbravejo de meu pequeno cômodo no alto da escada.

—Venha logo, Francisca! —Ressalta impaciente.

—Ô Jesus, será que você vai demorar para se desapegar de mim? Pois eu não aguento mais ver sua ca.... —Parei bruscamente meus passos rápidos, meus olhos são direcionados a um homem de muita boa aparência ao lado de meu irmão.
Ficamos alguns instantes nos encarando de forma intensa, seus olhos azuis cor de mar cativam os meus castanhos terra de forma insolente. Tomo uma quantidade de ar e decido descer as escadas de forma pausadamente, o apartamento está silencioso sendo apenas abatido com os barulhos de minha bota pisoteando os degraus de forma suave.

—Franci, esse è o Hugo, ele mora no mesmo apartamento que o seu e como eu tenho um compromisso agora, pedi para Hugo te levar até lá em segurança.

César com sua proteção exagerada e irritante, como sempre.

—Você está falando sério? Eu estou literal-mente indo embora daqui, finalmente ter minha independência e você arranja um jeito de me escoltar até minha casa nova? —Cruzo os braços em estresse.

—Oi! —Hugo estende suas mãos grandes em minha direção mas eu o faço as guardar de volta no bolso de sua calça jeans, apenas com uma revirada de olhos.

—Eu estou falando sério, Franciane! Por favor não comece com suas birras. — Diz meu irmão fazendo Hugo soltar uma breve risada.

Ótimo, já temos um boa impressão um do outro.

César e eu temos que parar com essa mania de brigar feito crianças.

—Então, Hugo, eu não quero carona, muito obrigada mas eu estou bem, já estou a procura de um Uber e...

—Olha, realmente não será um trabalho eu a levar para lá já que é o mesmo caminho que eu farei depois daqui, afinal...qual a chance de um Uber aceitar uma corrida com tantas caixas e malas? —Um fio de seu cabelo preto cai sobre sua testa franzida.

Ele, infelizmente, está certo.

—ah...eu vou pegar as minhas coisas e já vou! —Subi para o meu quarto e peguei as minhas malas, as caixas vou deixar a mercê de meu querido irmão, ele que se vire para manda-las pelo elevador!
Olho-me no espelho decidida a fazer dessa nova fase, a melhor fase de toda minha vida! Encaro minhas peças de roupa uma última vez, só para botar tudo em ordem. A calça preta ornou com esta mini blusinha branca que visto, passo os dedos no cabelo e finalizo minha produção com um batom vermelho nos lábios.
Ao descer um pouco destrambelhada com todas as malas em minhas mãos, Hugo me ajuda a carrega-las.
—Eu dou as caixas aos caras da mudança! Logo mais chegará em sua casa.

—Preguiçoso, achei que me ajudaria.

—Ué, você não é a adulta? Primeira lição de gente grande Franci: As coisas nunca são como queremos. —Solta uma gargalhada fechando a porta da casa atrás de nós. —E as coisas já estão lá? Aquela mobília cheia de frescura que comprou.

—Sim eu e as meninas já decoramos! Agora é hora de dizer adeus...—Dei um abraço nele.

—Tchal, Francisca e olha não quero saber de nenhum namoradinho viu? e essa calça colada e esse batom? Tudo isso pra uma mudança? Exagerada né?...—César não perde a oportunidade de me fazer passar vergonha.

—Tchau! —Agarrei Hugo para dentro do elevador clicando freneticamente no botão do estacionamento.

Já no ambiente deserto, guardamos minhas malas em seu carro preto e seguimos viagem.

Depois de um certo tempo compartilhando de um intenso silêncio eu decido puxar assunto:

—Você conheceu meu irmão aonde?

—Faculdade!

—Ah, sim.

Os olhos azuis de Hugo dividem atenção entre a pista a sua frente e minhas grossas pernas em seu lado, fazendo-me ficar irritada.

—Perdeu alguma coisa aqui?

—Desculpa é que...

—Você não sabe como isso me irrita...

—Do que está falando?

—De homem safado olhando pra minhas pernas dessa for...

—Olhando pra suas pernas? Perdão, Franciane, eu estava olhando sim mas para o rasgo que o zíper da mala fez em sua calça.

—O que?!

Jogo meus olhos para minhas coxas e vejo a costura de suas laterais se desfazendo, mas que droga!! Eu mal percebi!

—...desculpa...eu...—Antes que pudesse terminar a minha fala constrangedora Hugo recebe uma ligação no aparelho de seu carro, e com um simples clique no volante a ligação é atendida:

—Hugo, por favor, não me ignore mais! Te mandei um zilhão de mensagens...—Uma mulher exclama do outro lado da linha de forma totalmente chorosa.

—Ah Julia por favor...me deixe em paz, não sei porque tanta insistência, foi só uma noite e eu estava muito bêbado. —Dá risada.

Meus olhos se cerram, estou enojada, que patife.

—Julia? Meu nome é Débora!!

Sem mais paciência Hugo desliga a ligação, voltando sua atenção para mim:

—O que estava dizendo?

—Que você é um babaca.

Bom, já percebi que ele é um galinha nojento e cheio de marra, eu que não lhe darei atenção.

—Chegamos!

—Ainda bem.

Desci do carro, abri o porta malas e peguei as minhas malas...bom pelo menos tentei, não sabia que tinha tantas roupas assim afinal.

—Posso te ajudar ou eu sou babaca demais pra isso?

Revirou os olhos. —Pode mas... cuidado.

—Calma, princesa, eu aguento.

—Tô falando pra você tomar cuidado com as minhas coisas, se alguma maquiagem quebrar eu juro que te...

—Ah tudo bem, marrentinha.

Marrentinha? Que cara sem noção, parece um antagonista meia bomba de uma fic de 2015.

Subimos no elevador vazio, meu andar é o décimo quinto, meu coração está acelerado para ver o resultado final de minha mudança! Eu mal vejo a hora de viver de verdade!

—É aqui? —Apontou para a porta de madeira branca a nossa frente.

—Sim!

—Que coincidência, você será minha vizinha!

—Nossa, que legal... —forço um sorriso.

Entrei, FINALMENTE, em meu apartamento, sentindo o cheirinho de coisas novas, vida nova!

Começa na sala ... depois tem a bancada da cozinha, do lado a mesa de jantar, em frente a escada com 3 portas; meu quarto, um banheiro e o outro, um quarto de hóspedes.
Era lindo, suas paredes lisas e brancas, com minha televisão de plasma imensa, tudo ficou ainda melhor!

Comecei a arrumar meu guarda roupa as 14:30, com toda paciência do mundo em dividir minhas roupas em incontáveis categorias, eu termino tudo às exatos 17:54.

Estou com muita fome mas não tem nada para comer, não quero pedir nada hoje, quero estrear minha cozinha e as panelas novas, vou ao mercado o mais rápido possível.

O amigo do meu irmaoOnde histórias criam vida. Descubra agora