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  Enquanto caminhava lentamente, com o copo resfriado em uma mão e cerrando meu punho na outra, penso em inúmeras possibilidades do que pode acontecer e para ser sincera César está parecendo um problema bem menor que Hugo e sua ex, ela está me incomodando de uma forma inacreditável e eu mal a conheço.

—Irmão.

César está na frente da churrasqueira com uma latinha de cerveja nas mãos, ele usa um garfo grande para virar as carnes e com um grande sorriso ele me encara:

—Irmã.

Sua feição alegre me anima de alguma forma, parece amortecer um pouquinho a raiva que sinto a respeito da ex de Hugo o alugar durante a festa.

Carlos, Renato e Dante, estão sentados em nossa frente, bebendo cerveja e fazendo comentários sobre o jogo de futebol que está passando na televisão grande da sala, o tamanho na janela foi proposital, papai adorava assistir televisão pela área de churrasco.

—Podemos conversar? Em outro lugar?

Meu irmão me encara um pouco sério por alguns segundos mas logo responde:

—Claro! Vam...

—Ah, Fran, como ousa tirar o César daqui? A carne que ele assa é simplesmente a melhor e se depender de qualquer um de nós aqui, comeremos carne solada. —Carlos corta meu irmão o fazendo ficar aonde está.

—Pode ser outra hora?

—claro. —Não, não poderia. Droga.

—Aconteceu alguma coisa? Sobre o que é?

—É...—Encontro-me lenta como tartaruga ao pensar em uma boa resposta, "eu estou namorando com Hugo" faria com que até o narrador do futebol na TV ali perto ficasse em silêncio. Não quero ser fofoca na roda de seus amigos. —Sobre a carta de demissão que eu fiz, Laura entregou a Carla.

—Ah, sim! Ela já deu baixa na carteira?

—Ainda não, é fim de semana, não é? —Dou uma risada um tanto tensa.

Não contei e no fundo não me arrependo, Hugo disse que queria fazer isso comigo, tenho certeza que em breve ele vai acabar a conversa com aquela querida e virá me procurar.

—O que é isso? É bom? —César pega meu copo na metade e berberica um pouco.

—Gostoso.

—O quê?! Isso está péssimo! Estou tomando para Laura não ficar chateada, ela quem fez! —Pego o copo de suas mãos novamente e engulo um grande gole do líquido "corrosivo", como se fosse remédio.

—Tem razão isso aqui está péssimo! Laura é maluca não sei como vocês são amigas. —Revira os olhos.

Posso notar suas bochechas um pouco vermelhas, César parece se esforçar tanto para implicar com Laura.

—O que você tem?! Aliás, vocês dois, estão piores do que nunca. —Dou risada.

—Como assim? Do quê está falando?! —Meu irmão parece estar esquentando mais do que as carnes na brasa, seus olhos marejam um pouco entregando-me que talvez ele passara um pouco dos limites com a cerveja.

—Estão de implicância um com o outro, mais do que o normal.

—Você está maluca Franciane, maluca.

Franciane?

Ele ficou bravo comigo?

Gabriela chega de surpresa e o abraça carinhosamente pelas costas:

—Oi bombonzinho, estão conversando sobre o quê?

—Nada! Só baboseira, Fran e suas baboseiras mas me diz aí, quem está com fome?!

Meu irmão coloca as peças de carne na tábua limpa e com uma grande faca a fatia em pedaços gordurosos.

Minha boca saliva, pego alguns pedaços levando diretamente a boca, talvez isso ajude a cortar o efeito de anestesia que a bebida especial de Laura começa a me causar.

—Vou chamar a Laura.

—Ah, Fran, deixa que eu levo uns pedaços para ela. —Gaby sempre gentil.

Minha amiga coloca uns pedaços generosos de carne em um prato e sai de cena deixando seu namorado um pouco atordoado.
Observo Gabriela caminhar de volta a casa, meus olhos rapidamente são sugados pelo reflexo das portas de vidro, Hugo ainda está conversando com sua ex, mas agora, com participação especial de sua mãe, eles riem de forma calorosa, como se estivessem os três sozinhos em sua própria bolha, rindo de piadas internas.

—Quem é aquela garota que alugou o aniversariante? —Ressalto sem querer. Eu sei de quem se trata, mas como conheço o fofoqueiro do meu irmão, sei que ele me dará mais detalhes.

Os olhos de meu irmão seguem a direção do meu e depois me encara animado:

—Alane, a ex.

—E que ex, se eu a tivesse como ex ela passaria rapidinho para atual. —Dante diz de forma maliciosa.

—Ela é bonitinha, mas gostosa mesmo é aquela asiática que ele pegou na viagem a Floripa, lembra? —Renato sorriu grande parecendo se lembrar de bons momentos.

Os amigos sentados na mesa caem em risadas exageradas, Carlos até perde sua latinha de cerveja ao bater as mãos na mesa de concreto.

—Calem a boca, respeitem minha irmã! Vocês só falam besteira.

A bronca de César não foi o suficiente, pois seus amigos continuam rindo e falando sobre meu namorado e com quem ele já ficou.

—Como Hugo consegue pegar tanta mulher gostosa?  —Carlos questiona seus companheiros de bebida.

Quero enfiar minha cabeça em um buraco, ou sair daqui pisando duro, ir direto para casa mas se eu fizer isso com certeza entregaria toda minha situação á eles.

Então, apenas dou risada, fingindo estar achando graça de um papo tão idiota.

Já imaginava que Hugo tivesse "pegado" muitas mulheres mas parece que foi muito mais, ao julgar pelo posicionamento de seus amigos imagino que meu namorado tenha boas histórias para contar e se gabar também. Tudo isso me faz ficar ainda mais receosa em relação a Alane, como se a qualquer momento ele pudesse a levar para o quarto.

César se aproxima mais de mim para que pudéssemos conversar com mais privacidade e seus amigos não nos atrapalhar:

—Eles namoravam há muito tempo atrás, Hugo morava com Elena a mãe, lá no Rio. —Termina sua cerveja com um último gole. —Alane foi a primeira namorada dele, a primeira que ele gostou de verdade, o relacionamento durou uns 2 anos. Hugo quis vir para São Paulo a trabalho e também para se afastar um pouco da mãe, Elena é meio neurótica e possessiva com o filho, sempre quer tudo do jeito dela porém Alane não quis vir com ele e aí eles terminaram, 4 anos se passaram e olha elas aqui. —Dá risada os observando a distância.

Engulo em seco, sinto como se vidros pontudos estivessem descendo garganta a baixo. Eles não terminaram por falta de sentimento mas sim pela distância e agora ela está aqui e...

Isso só está piorando. Droga, droga.

—Entendi, que... história. —Finalizo, também, o meu copo, o sabor da bebida forte que minha amiga preparou já nem me incomoda mais.

Meu coração está batendo rápido, minhas mãos suam, minha mente cria vários cenários onde sou trocada por Alane. Ela parece estar muito mais bonita agora, seu corpo escultural, suas costas retas, sua postura delicada, suas roupas...olha para suas roupas, como ela é elegante e bronzeada.

Agora olha para mim, com mini saia e cropped, bebendo cerveja barata com vodka e mais sei lá o que, costas relaxadas, dedos sujos de gordura da carne que como com vontade.

—Sei que se afastaram por 4 anos mas elas duas alugaram o menino! Vou chamar ele pra almoçar, você vem? —César estende sua mão em minha direção.

—Não, eu...vou encontrar Laura.

Meu irmão apenas sorri e caminha em direção de volta a casa.

Jogo o copo de plástico fora e saio de cena, preciso ir ao banheiro, sinto-me gelatinosa, minha cabeça gira algumas vezes, não sei se foi realmente por causa da bebida ou pelas informações que acabei de receber.

O amigo do meu irmaoOnde histórias criam vida. Descubra agora