O amigo do meu irmao

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Olho para o meu reflexo no espelho pela 5° vez, tentando botar minha cabeça em ordem, mas não consigo.

Fiz xixi para esvaziar um pouco o álcool do corpo, mas de que adianta? Ele já tá rodando minha cabeça.

Lavo as mãos, quase lavo meu rosto mas lembro-me da maquiagem que fiz antes de vir, se eu quero ter alguma chance contra Alane, tirar a maquiagem é a pior ideia no momento.

Seco as mãos na toalha branca e saio do banheiro às pressas, preciso encontrar Laura, preciso da sua opinião a respeito disso ou qualquer piada idiota para quebrar o clima.

Caminho com dificuldade na casa cheia de pessoas, meus olhos encontram Laura conversando calorosamente com um cara alto.

—Laura.

Minha amiga me encara sorridente mas ao perceber minha feição ela fica séria:

—Ok, Beto, preciso ir agora, você já tem meu telefone! —Laura joga uma piscadela ao homem.

Sua mão pega a minha me levando facilmente para um canto mais privado.

—Alane e Hugo namoraram por 2 anos! Ela foi a primeira mulher que ele levou a sério! Eles se separaram porque Hugo quis vir pra São Paulo e ela não! —Os olhos de Laura se arregalaram, ela parece pensar em alguma resposta amigável mas nitidamente se vê com dificuldade. Então eu continuo. —Elena é uma mãe possessiva e controladora, Hugo já teve problemas com ela.

—Bom...pelos detalhes aposto que você falou com César!

Faço cara feia. —Esse não é o ponto.

—Eu sei... é que...sei lá! Não acho que minha opinião vai te ajudar muito.

Suspiro. —Pois me diga, não me importo.

—Desde de quando chegamos, Hugo não te deu o mínimo de atenção! Sei que vocês estão juntos há uns dois dias mas mesmo assim! Ele tinha que ter cortado o papo tão estranho e demorado com a ex, ter ido falar com seu irmão e acabar logo com esse segredo! Mas não...o bonito ficou de assunto com ela!

Suspiro mais fundo ainda, segurando o choro enraivecido que se atreve a sair.

—E você acha que eu não pensei nisso?! Droga!

—Manda uma mensagem pra ele, Fran!

Pego o celular corajosa e escrevo:

"Sei que é seu aniversário mas você poderia me dar atenção, também? 🥺"

Não, não, não.

Apago.

"Oi, Hugo, podemos conversar?"

Muito simples, apago de novo.

—Se imponha, Fran! Afinal ele quer ou não quer namorar você?! —Laura ressalta irritada.

—Ok.

"Se eu soubesse que você passaria seu aniversário com sua ex relembrando os velhos tempos, eu nem teria vindo. feliz aniversário 🎂🎉 Espero que seu pedido não seja voltar com ela porque com certeza o dela vai ser."

—Isso, garota! —Laura sussurra em meu ouvido como um diabinho. —Agora espera ele vir falar com você.

—Estou chateada e com medo, os amigos dele me fizeram ter que ouvir sobre suas peguetes e sobre o quanto elas são gostosas e sei lá mais o quê!

Laura torce os lábios. —Hugo pode ser gentil e muito bonito mas seu passado o estraga de uma forma...

—Exato! E... não sei se eu vou aguentar tudo isso! Uma hora ou outra vai aparecer alguma de suas namoradinhas para estragar as coisas...eu... não quero isso. —Despejo algumas lágrimas.

—Fique tranquila, se ele gosta mesmo de você ele vai dar um basta nisso tudo! Vai fazer de você a prioridade.

E se ele não gostar de mim o suficiente?

—Fran! Oi, desculpa, eu acabei de ler sua mensagem...

Olha só quem resolveu falar comigo.

Laura se afasta para nos dar privacidade.

Tomo uma grande quantidade de ar e começo:

—Precisou de uma mensagem para você conseguir abrir um espaço na sua agenda e vir falar comigo? —Cruzo os braços.

—Fran, me desculpa, eu estava conversando com minha mãe, faz tanto tempo que não a vejo, depois que me formei na escola fui morar com minha mãe no Rio e....—Começa sorridente.

—Sua mãe e a Alane, não é? O que tanto vocês conversaram?

Os olhos de Hugo parecem compreender minha raiva, entender o motivo daquilo.

—Eu juro que só estávamos conversando sobre minha vida aqui em São Paulo, não foi nada além disso.

—Ah, não foi?! Não sabia que a gente devia satisfação da nossa vida pra ex, vou começar a ligar pro meu agora...

—Fran, o que é isso? Está sendo boba, eu jamais faria alguma coisa pra te magoar e...

—Já fez! Estou irritada e muito chateada! Não tínhamos combinado de falar com César sobre isso? E você simplesmente passa a maior parte do tempo com outra!

—Me desculpe, estou aqui agora e podemos ir falar com ele.

Passo as mãos no rosto.

Não foi assim que imaginei que seria este dia e nem como nós falaríamos com César.

—Eu vou embora.

Tento me afastar dele mas ele pega minha mão:

—O quê? Por quê? Fran, vamos conversar com calma.

—Conversar com calma? Isso é EU sendo calma, se eu fizesse tudo o que eu quero fazer sua namoradinha ali não teria nem cabelos!!! —Grito irritada. —Já estou me arrependendo da atenção que te dei.

Me solto bruscamente de suas mãos e ando brava até saída da casa, saio na rua esbarrando em tudo que vejo pela frente.

Estou com tanta raiva que nem o vento gelado da noite que cai me incomoda.

Escuta-se passos apressados atrás de mim, olho para trás e vejo Laura com nossas bolsas, sua respiração é ofegante.

—Vamos de Uber ou ônibus?!

Antes que eu fosse responder avistamos o ônibus chegando no ponto, nossos pés aumentam a velocidade levando nosso pulmão a arder dentro do peito.

Laura grita freneticamente:

—Moço para, para o ônibus!

E assim o motorista para o ônibus e afobadas nos adentramos o veículo, dou a única nota que havia no bolso da minha saia jeans e andamos até o fundo vazio do ônibus, mergulhadas em um cansaço notável.

Olho para janela e vejo Hugo correndo na rua à minha procura, ele não olha para o ônibus, talvez tenha pensado que eu não conseguiria pegá-lo a tempo.