7 - Cartas e Conflitos

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Esperava acordar como sempre me acontecia. Os raios de sol a entrarem-me pela janela e a cumprimentarem-me na cama. Mas em vez disso, senti as pontas calejadas de dedos a acariciarem-me a pele da bochecha até às minhas têmporas.

Não queria abrir os olhos. Estava demasiado agradável para que a pessoa percebesse que já tinha acordado e parasse.

No entanto, e apesar de ainda ter as pálpebras cerradas, apercebi-me de que quem quer que ali estivesse, estava a rir. Ter-se-ia apercebido que estava acordada? O cheiro era-me familiar e quase levava os cantos dos meus lábios a retorcerem-se num sorriso largo.

Ele cumpriu a promessa.

- Preguiçosa. Sei que estás acordada. - Resmunguei baixinho com o facto de ele estar a tentar fazer-me sair da cama em vez de me mimar um pouco mais. O carinho dele recordava-me aquela sensação ligeira que sentira na minha primeira noite em Cair Paravel. Só que os dedos dele possuíam calor. Estava vivo. - Vá lá. Acorda, Sophia.

Deixei que uma das pálpebras se abrisse. O rosto de Peter encarava-me, um sorriso travesso sobre os seus lábios. Os mesmos lábios que eu tinha beijado na manhã anterior. Lembrar-me disso obrigou-me a engolir em seco. Estávamos os dois sozinhos, no meu quarto, sem que mais ninguém pudesse saber se eu lhe roubasse um beijo como aquele no campo de treino. Todavia, não o fazia. Naquele dia tomara a iniciativa. E acabara com o receio de que uma conversa séria ou um ato impensado na minha parte poderia causar-lhe. Tinha que escolher com precaução os azulejos pelos quais caminhava.

Lentamente, apoiei-me sobre os meus cotovelos e icei-me para cima, sentando-me na cama.

Peter observava-me com o mesmo sorriso de antes. Não parecia falso, nem carregava uma pontada de preocupação, o que apenas me deixava as bochechas coradas por parecer estar realmente feliz ao me ver acordar.

- Pensava que só virias quando eu já estivesse acordada.

- Pensei que já estavas acordada.

Tendo em conta que o sol não parece estar ainda muito alto para passar da hora do pequeno-almoço, capto a mensagem dele. Está a tentar não dizer que me queria causar uma surpresa.

- Sabes, quando estás a dormir, parece que não estás a esconder nada. Se estiveres triste, franzes a testa. Se sorrires, o teu rosto suaviza. - Ele falava-me com falas mansas. E o meu rosto enrubescia ainda mais. - Quando estás chateada, ranges o maxilar.

- O quê? Não ranjo nada! - Levei uma das mãos até ao queixo, tocando um pouco no local. Seria possível que eu fazia essas expressões enquanto dormia? Voltei a encará-lo quando ele começou a rir da minha expressão. - Há quanto tempo estavas no meu quarto antes de acordar?

- Não muito. Só o suficiente para te ver a dormir.

Vago demais. Ainda pairava uma incógnita no ar sobre o real motivo de ele não me ter acordado antes. No entanto, essa questão ficou silenciada quando os dedos de Peter voltaram a movimentar-se, tirando alguns dos fios escuros que me caiam da testa e colocando-os atrás da minha orelha.

Suspirei com aquele ato, antes de retomar a respiração e segurar-lhe as mãos com a minha própria. Um sorriso genuíno, apesar de discreto, assomou-me o rosto quando acariciei a pele das costas da mão dele com os meus polegares. Conseguia sentir-lhe os ossos e os tendões por debaixo da pele, bem como as cicatrizes que, de tão pequenas, não chamavam a atenção sobre as suas mãos. Ele podia ser o rei de Nárnia, mas ainda era um guerreiro. Antes de rei, ele tinha combatido por Nárnia. As suas mãos não só eram firmes para governar ao lado dos seus irmãos, como eram fortes para manter o cabo de uma espada seguro perante uma batalha.

If I am the King, You Would be My Queen [Spin Off]Onde histórias criam vida. Descubra agora