A fúria que me atinge é o suficiente para que me esqueça de qualquer tipo de cortesia. Avanço na direção de Neysa, sem freios e sem medo, até me interpor entre a mesma e Ylea. Tenho a sensação que tenho as pontas dos dedos a estalar com o fogo, mas tento controlar o mesmo para que não se torne numa chama perigosa que possa lançar na direção da princesa de Nanzan. Esta, por sua vez, e apesar de estar surpresa com a minha presença, logo recupera a sua postura de soberana e estreita os olhos na minha direção e de Ylea.
- Vossa Graça. - Ela fala como se cuspisse as palavras. Por um momento, até lhe agradeço que o faça. Torna mais fácil odiá-la.
- Princesa Neysa. - Respondo, permitindo-me erguer a cabeça na sua direção. - Gostaria de perceber o que se acabou de passar e porque bateu na Ylea.
- A criada?
Sinto as mãos de Ylea a segurarem uma das minhas e o meu pulso, antes de soltar um gemido. A pobre coitada não se deve ter apercebido que os meus poderes estavam à flor da pele, pelo que tocou exatamente na extremidade mais perigosa. A minha atenção desvia-se de Neysa para encarar o rosto avermelhado de Ylea onde recebeu o golpe. O rosado na sua pele está agora a tomar um tom roxo apressadamente, e segura uma das mãos pela dor. Preciso inspirar fundo durante alguns segundos para conter o fogo dentro de mim e abraçar a minha amiga.
- Vossa Graça, não precisa... Eu estou bem. - Ela sussurra-me as palavras, usando o meu apelido formal. Isso só me deixa mais revoltada com a situação. Esqueço-me que estou na presença dos Pevensie.
Na verdade, esqueço-me até da minha posição naquele palácio. A única coisa que me importa agora é parar, de uma vez por todas, aquelas atitudes de Neysa, ainda mais com pessoas que me são amigas e importantes no meu dia a dia. Ylea não é apenas uma criada. Ela é uma dríade, um ser vivo, uma narniana. E o meu dever, o meu objetivo, é proteger Nárnia e os Pevensie.
Encho o peito de ar e volto-me para Neysa, ainda a abraçar Ylea nos meus braços.
- Não está em Nanzan, então deve agir de forma educada para com todos os narnianos presentes neste palácio. A sua forma de falar e de agir é grosseira, ainda mais para com quem a tem ajudado nestes últimos dias de hospedagem aqui.
- Peço perdão? - Diz ela, a voz esganiçada. - Sou uma princesa. Eles são meros servos. O dever deles é servirem-me como deve ser e sem reclamar. - Começa ela. Quase sinto que estou prestes a lançá-la pela primeira janela que me apareça à frente. - Nunca na minha vida me senti tão ofendida a receber um sermão sobre como ser mais educada com servos. Eles são inferiores a mim.
- Já chega! - Grito, desta vez, largando Ylea e deixando que pequenos tornados de vento apareçam de cada lado do meu corpo como guardas. O vento fustiga-me o cabelo preso, mas é o suficiente para silenciar Neysa. - Está aqui como «convidada». Aja como uma! Aqui não é o seu reino, nem estamos segundo as suas regras, então aprenda a como agir perante os habitantes deste palácio.
- Sophia.
A voz de Susan chama-me a atenção, balançando negativamente com a cabeça para o cenário.
Se não fosse por ela, talvez tivesse lançado algum feitiço contra Neysa sem pensar duas vezes. Talvez assim ela pensasse com maior cuidado nas palavras antes de as pronunciar.
No entanto, se por um lado me ajudou a conter as minhas ações, o meu nome foi capaz de deixar um sorriso cínico sobre o rosto da princesa de Nanzan, a qual toma alguma atenção sobre Susan, e depois se volta para mim. Esta discussão deve estar longe de terminar, pelo brilho maldoso que lhe noto nos olhos verdes.
- Vossa Graça, já não é a primeira vez que me desafia ou parece fazer troça das minhas palavras. - Ainda bem que já notou isso. Detestaria ter de o repetir. - As suas atitudes são merecedoras de um castigo pare reconhecer que não se encontra acima de uma princesa, mesmo que eu seja de um outro reino.
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If I am the King, You Would be My Queen [Spin Off]
Fantasi❛❛Enquanto estiveram em Nárnia, os irmãos Pevensie e Sophia Kirke passaram por diversas aventuras juntos, enquanto se cresciam e passavam a fase da adolescência para se tornarem adultos. Foi também nesse tempo, que algo mais começou a despertar...