9 - A vida em Krugya

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 Já esperava que o caminho até Krugya fosse longo e pesaroso. Ao fim de uma hora de voo, começava já a preocupar-me se Hazel aguentaria mais um pouco até alcançarmos o reino. Além disso, os meus dedos dos pés doíam com o formigueiro causado pela circulação sanguínea. Estava à demasiado tempo sem esticar de facto as pernas e isso estava-me a deixar indisposta e com dores pelo corpo.

- Hazel, talvez devêssemos fazer uma pausa. Já devemos estar a pouco tempo de Krugya. - A sugestão era para o bem dos dois, mas assim que me apercebi da crina de Hazel balançando de um lado para o outro e um som de reprovação vindo deste, engoli em seco. - Ou talvez possamos continuar e fazermos a pausa quando chegarmos...

Uma paragem a esta distância só nos faria chegar lá mais tarde quando tentássemos recuperar o ritmo novamente, as palavras dele fizeram sentido na minha mente, mas continuava preocupada com ele.

- Tens a certeza que aguentas?

Não me voltes a fazer percorrer uma distância destas amanhã e com certeza aguento.

Ri-me silenciosamente, inclinando o corpo contra o pescoço negro de Hazel e permitindo que ele continuasse o restante caminho em silêncio, não só para não ser uma distração, como também para não o incomodar. Ele já estava a fazer muito por mim ao me levar sozinho até ao reino de Aloysius.

O sol estava quase a por-se quando chegamos ao reino exótico do Império Krugya. Do pouco que Aloysius me tinha contado, agora percebia porque ele achava Nárnia e Cair Paravel tão diferente. As cores que reinavam em Nárnia eram as cores das estações: o verde, azul, laranja e branco. Mas ali, em Krugya, parecia que os edifícios tinham parado durante a estação do outono, banhados em tons de dourado e laranja, as ruas apinhadas com pessoas de trajes de cores quentes e um pouco mais reveladores do que em Nárnia. Além disso, um rio banhava a cidade, dividindo em braços ligeiros e sendo frequentado por crianças a desfrutar da temperatura natural da água e dos seus brinquedos, enquanto pescadores e outros tipos de comerciantes vagueavam pelas águas, concentrados no que a fonte de água poderia oferecer ou então em como chegar à margem com as velas brancas dos seus barcos içadas.

Não pude evitar sorrir, fazendo um carinho sobre a cabeça de Hazel ao me aperceber que tínhamos acabado de chegar.

- Olha, Hazel. É tão diferente de Nárnia. - Proferi, apontando para as crianças e para os mercados de pessoas que pareciam vender todo e qualquer tipo de bugiganga, juntamente com algumas quantidades de mercearia necessária.

Tem muita gente. Vou pousar na praça.

Após a fala dele, rapidamente localizei aquela que deveria ser a praça. Um obelisco do que parecia ser mármore estendia-se para os céus, rodeado do mesmo tipo de material dourado e amarelo à sua volta, o qual deveria ter algum acesso subterrâneo ao rio para possuir água no seu interior. Haviam algumas pessoas sentadas na sua beira, quando Hazel iniciou um voo em círculos descentes pelo local.

Os olhares curiosos caíram sobre nós. Algumas crianças correram na direção às saias das mães e irmãs mais velhas, as quais recuavam passos cuidadosos, enquanto outras apontavam para Hazel e para mim com real estupefação.

Será que nunca ouviram falar num pégaso?, pensei comigo mesma.

Nós, pégasos, não gostamos de nos exibir a humanos, Hazel parecia ter lido a minha questão mental, pois olhou para trás durante escassos minutos ao me responder. Falei-te isso quando nos conhecemos pela primeira vez.

- Desculpa. Às vezes esqueço-me que nem todos tem boas intenções com criaturas mágicas.

Os cascos de Hazel bateram contra a pedra abaixo de nós. Esperei que ele terminasse de recolher as asas para poder sair do seu torso, arrancando o saco de cima dele, e olhando para aquela multidão. A maior parte tinha a pele bronzeada, mais do que me recordava que Aloysius tivesse, e agora as crianças mostravam a face por detrás das saias das mulheres.

If I am the King, You Would be My Queen [Spin Off]Onde histórias criam vida. Descubra agora