CONTRATEMPOS

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Eelay (rei de Anúria)

Três semanas depois...

Eu sabia que essa relação do meu filho com a humana híbrida não acabaria bem e eu estava certo.
Darsah teimou em me enfrentar por causa dela e as coisas acabaram saindo do total controle.
Tudo que lutei para construir perigava ruir por conta das últimas ações do príncipe regente, meu herdeiro e futuro rei.
Talvez, a culpa fosse minha por ter me deixado levar e ter sido tão complacente com ele.

Tinhamos um tratado de paz com o reino das sereias desde que a guerra entre nós se tornara insustentável para ambos os lados.
Anúria já havia perdido milhares de guerreiros e também já havíamos levado destruição para milhares de seu povo.
No fim das contas, decidimos pôr um fim nisso e assinar um tratado de paz.
Não nos envolveríamos em seus negócios e nem elas nos nossos; respeitaríamos os limites territoriais de cada um.

A questão é que tudo isso foi posto em risco quando aquela híbrida desceu aqui.
Darsah estava sob sua influência e não me escutou e agora estava nas mãos do inimigo.
Maldita hora que o obriguei a ir naquela missão.
Fui informado que as sereias estavam movimentando suas tropas e que iria nos atacar pelo sul.
Era apenas uma armadilha, onde o príncipe foi capturado e levado para o reino delas.

A exigência delas era que entregássemos sua irmã.
E elas não estavam brincando; se eu recusasse, além de matarem meu filho, ainda invadiriam o reino.
Meus informantes me notificaram sobre a movimentação estratégica dos tritões; eles estavam se preparando para atacar e isso seria um grande problema.
Se a rainha das sereias os mobilizou era porque estava muito brava.
Geralmente, ela não os usava  em batalhas por serem muito violentos e não pouparem nem mesmo os inocentes.

A fêmea híbrida era mais importante do que eu poderia supor.
Do contrário, a rainha não estaria ameaçando fazer guerra para tê-la, ela usaria métodos menos invasivos.
Acabei mandando um guarda trazer a híbrida até mim.

Essa insolente entra no salão real de queixo erguido e me encara como uma igual.
Minha vontade é de quebrar suas pernas e fazê-la se dobrar à mim.

— Tem alguma notícia de Darsah?!

— Nem preciso dizer que isso é culpa sua...

— Minha culpa?! Não seria da sua incompetência em protegê-lo?!

— Como se atreve?!

— Ah, deixa de xilique e diga logo, por que me trouxe aqui?!

Não adianta brigar com ela, isso não nos levará a caminho algum.

— As sereias exigem que eu a entregue em resgate do meu filho.

— Ótimo! Faça isso, então! Estou pronta para a troca.

— Farias isso por ele?!

— Farei qualquer coisa para que ele esteja seguro. Simples assim!

Não tem como não admirar essa fêmea por ser tão objetiva e corajosa.
Ela nem mesmo sabe qual a intenção da rainha das sereias para com ela e mesmo assim não se incomoda em se arriscar.
Olho, de relance, para seu ventre inchado; meus netos estão ali e pelo que fui informado do médico real, estão fortes e saudáveis e nossa genética neles é a predominante. Isso significa que eles não terão quase traços humanos ou das sereias.
Eu não posso arriscar a segurança dessa fêmea, são meus descendentes afinal, e também, Darsah jamais me perdoará se eu a entregar assim.
Preciso arrumar outra forma de resgatá-lo e aplacar a ira da rainha Serena.

Serena?!
Esse nome é muito inapropriado para uma fêmea tão feroz quanto ela.
Olho novamente para a fêmea na minha frente e algo me deixa muito intrigado; ela tem os olhos da rainha, aliás, olhando bem, ela se parece muito com a rainha.
Maldição!
Agora me lembro que há uns trinta ciclos lunares Serena foi à Terra.
Se o que estou pensando estiver certo, pelos deuses!

Luzes No CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora