UMA CONVERSA REVELADORA

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Príncipe Darsah

À princípio, as coisas foram bem complicadas para mim, aqui nesse lugar.
Fui posto na jaula e amarguei alguns dias por lá.
Depois, Serena mudou de abordagem e me mandou para um quarto real; até acreditei que tudo seria mais fácil e que, talvez, pudesse convencê-la a me libertar.
No entanto, o que eu mais temia aconteceu; ela passou a me enviar suas sereias para tentar acasalar comigo.
Não sei como, mas consegui me livrar de seus feitiços, o que as deixou intrigadas.

Tudo o que eu conseguia pensar era na minha fêmea e no quanto eu queria estar com ela em meus braços e aspirar seu cheiro.
A rainha das sereias nunca teria nada de mim, pois meu coração e meu corpo pertenciam àquela pequena humana encrenqueira.

Ao que parece, minha estadia aqui estava longe de terminar.
Em sua soberba, Serena não se incomodava em me deixar saber dos seus planos, tanto que me deixou ciente de que meu pai e minha mãe estavam vindo para cá e o sobre o tratamento que seria dispensado aos dois.
O pior de tudo é que eu não poderia fazer absolutamente nada para ajudá-los na atual situação em que me encontrava.

Mais tarde, naquele mesmo dia, fui surpreendido com o meu pai entrando em meu quarto-prisão, sob escolta de algumas sentinelas.
Haviam cortes em seu rosto e seu abdômen não estava melhor.

— O que fizeram com ele?! — Brado.

— Não foram elas, foi a Elisye! — Ele me diz com sua voz mais tranquila.

— O quê? Como ela veio parar aqui?!

— É uma longa estória!

Assim que as sereias saíram, ele passou a narrar tudo que havia acontecido me deixando ainda mais surpreso.
Não posso acreditar que minha fêmea havia se transformado.
Como lidaríamos com isso?
Minha vontade agora era de socar o meu pai por ter machucado ela.

— Perdão, meu filho! Eu não estava em mim quando a ataquei.

— Só por isso irei poupá-lo!

— Darsah, temos que ajudá-la, ainda não sabemos o que Serena quer com ela.

— O que tem em mente?!

Ele narra o plano para mim e nesse momento, não parece que temos muito escolha a não ser pegar nosso inimigo de surpresa.
Assim, quando nos enviaram uma curandeira para cuidar dos ferimentos do rei, tão logo ela terminou, eu a tomei como refém.
Graças aos deuses, elas não conseguiam me enfeitiçar, já meu pai era o elo fraco.

— Se tentarem fazer alguma coisa usando o rei, a curandeira morre.

— O que queres? — Uma sentinela me pergunta.

— Leve-me até a rainha! — Exigi.

Eu estava ciente de que ela valorizava muito a vida de suas sereias e pelo menos, por enquanto, estaríamos seguros.
Enquanto avançamos pelo corredor, mantenho a pequena lâmina cirúrgica no pescoço da minha refém; esse é seu único ponto fraco.

Ao entrar no salão real, vejo minha fêmea diante da rainha.
Fico aliviado em ver que ela estar bem e que suas pernas estavam normais de novo.
Pela postura dela, percebo logo que está muito brava e enfrenta Serena sem medo.

— Eu quero ver o Darsah agora mesmo! — Ela grita.

A rainha me olha de esguelha e sorri.

— Ele está logo atrás de ti.

Elisye se vira rapidamente e ao me ver, corre na minha direção.

— Seu cretino, como ousa me deixar tão preocupada?!

Pelo visto, ela está ignorando totalmente o fato de eu estar ameaçando uma fêmea diante dela.

— Não tive a intenção!

— Não teve? Então por que não voltou pra casa?! Vai dizer que esse bando de sereias estavam te mantendo em cárcere?!

— É a verdade!

— Ah, é?! Se podia pegar uma refém, por que não fez isso antes?!

Bom, agora ela tinha um bom ponto e parecia ainda mais zangada.
Suas bochechas estavam vermelhas.

— Solte a curandeira, príncipe! Vamos conversar!

— Agora vossa majestade quer conversar?!— Meu pai questiona.

— Não temos outra alternativa!

— Vossa majestade nos acusou de violar o tratado, mas não o fizemos...

— Não?! Acaso não tinham uma sereia em seu poder?!

— Ela é filha da Terra e é a companheira do meu filho, o príncipe herdeiro. Além disso, já deves ter percebido que ela está prenha. Isso deve ser o suficiente para acredites na minha palavra. Elisye não era nossa prisioneira.

Do jeito que meu pai estar falando, até parece que ele já aceitou Elisye como minha companheira e princesa herdeira.
Realmente, muita coisa mudou durante minha ausência.
Noutra ocasião, ele jamais defenderia nossa união, afinal, ela ainda era a descendente das sereias.

— Hum! Interessante! Majestade, só há um empecilho nisso tudo, a fêmea além de ser uma sereia, é minha filha e eu não lhes dei o meu consentimento.

— Espera aí, eu escutei direito?! — Elisye se altera.

— É a verdade! De algum modo, senti sua presença quando chegou aqui, mas precisava ter a certeza, por isso exigi que a entregassem à mim.

— Ah, que ótimo! Isso explica muita coisa, inclusive o fato de eu ter uma cauda. — Ela pondera — Mas não era mais fácil ir até lá e perguntar do que armar esse circo todo?! Você percebe o quanto me expôs a um risco desnecessário?! Eu poderia ter me machucado feio e ter perdido meus filhos e eu jamais te perdoaria.

Acabo acatando o pedido da rainha e solto a curandeira.
Novamente, vejo tudo sair do meu controle.
Minha fêmea era a princesa do reino das sereias.
Não sei se isso era bom ou ruim, porém, muita coisa poderia mudar por causa disso.

Serena nos conta que numa visita à Terra conheceu o pai de Elisye e que acabou se envolvendo com ele por um longo tempo e concebeu em seu ventre.
Assim que a criança nasceu, ele a tomou e fugiu.
Não tem como não ficar compungido diante dessa situação.
Nenhuma mãe merece ser afastada de sua prole desse jeito.

— É muita novidade pra minha cabeça! Eu não estou me sentindo nada bem.

Minha fêmea quase desaba em meu colo e vejo a preocupação no rosto da rainha e de todos ao redor, inclusive, meu pai.

— Curandeira, cuide dela! — Serena ordena saltando do trono e vindo até nós.

— Eu sinto minha filha, não quis te machucar...

— Minha nora, como se sente?!

— Mas o que há com vocês, caramba? Nora? Filha?! Gente do céu, eu estou há muito tempo sem comer e grávida, então devo estar hipoglicemica... Eu só preciso comer, depois podemos lidar com essa situação. — Ela diz mostrando tudo em volta.

— Gosto dessa sua companheira! — Meu pai sussurra.

Não posso acreditar que ouvi isso dele e menos ainda, que inimigos declarados estavam numa mesma sala sem tentar se matarem.
Essa era a maior novidade de todas; estávamos unidos pelo bem estar da minha pequena fêmea.

Luzes No CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora