Alguns dias depois, Basílio voltou ao condomínio em Alphaville. Resolvera dar mais uma olhada na casa de João, mas antes passou na casa de Ronaldo Carvalho para conversar novamente com Anita. Com ela, desceu à casa de João.
— Ai, doutor, o senhor tem certeza que eu preciso mesmo voltar lá? Já disse tudo o que sabia.
— Não precisa me chamar de doutor. Mas é bom que a gente volte lá. Quem sabe você não se lembra de alguma coisa importante.
Anita abriu a porta e colocou a mão sobre o interruptor da luz, que não acendeu.
— Ah, eu tinha esquecido, essa lâmpada queimou de novo.
— De novo?
— É. No dia que encontrei seu João... Que Deus o tenha em bom lugar... Ela estava queimada quando cheguei.
— É, eu também reparei nisso quando estive aqui naquele dia. Mas por que disse que ela queimou de novo?
— Encontrei seu João na quarta, não foi?
— Foi.
— Então, na segunda-feira de manhã ela estava queimada e eu troquei. Na terça-feira eu não vim trabalhar, pois estava de folga, e na quarta-feira ela já estava queimada de novo. Deve ser um problema com a parte elétrica.
— Como a trocou? É bem alto.
— Tem uma escada lá na área de serviço.
Basílio buscou a escada, metálica e de cinco degraus, revestidos com borracha. Colocou-a sob o globo, um globo simples, de vidro. Retirou-o e pediu a ela que o segurasse. Ela exclamou:
— Mas não foi essa a lâmpada que eu coloquei!
— Não?
— Não. A que pus aí era transparente. Não era branca feito leite.
Basílio fez menção de tocá-la, mas diante da certeza dela absteve-se de fazê-lo. Não havia nenhuma razão específica para isso. Eram sua experiência — e principalmente sua intuição, que ultimamente pareciam reforçadas pela inspiração de Jorge Fontana, que lhe diziam para ter cuidado. Retirou-a com um lenço. Balançou-a contra o ouvido:
— Está queimada. Tem certeza de que não era essa a que pôs na segunda de manhã?
— Claro. Não era branca. E de quanto é essa?
— 100 watts.
— Aí, tá vendo? A que eu pus era de 150. A caixinha ainda deve estar lá na cozinha.
Buscou-a, a pedido do delegado.
— Aqui está a velha... No pacote da nova.
O pacote realmente marcava 150 watts e a lâmpada dentro dele, a qual ela dizia ter retirado, também estava queimada. Do alto da escada Basílio conversava com ela:
— Quem pôs essa lâmpada aqui, então?
— Deve ter sido o seu João. O estranho é que não tem nenhuma lâmpada desse tipo aqui na casa dele. Pode ver lá na despensa. Têm várias lá, mas nenhuma igual a essa. Todas são transparentes. Nenhuma é branca assim.
Basílio continuava intrigado:
— Se a que você colocou aqui na segunda-feira de manhã tivesse queimado, João iria pegar outra lá na despensa?
— Com certeza.
— Ele não iria comprar uma?
— Claro que não! Tá cheio de lâmpadas lá dentro e ele sabia.
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QUATRO VEZES O INESPERADO
Mystery / Thriller🏆1º lugar no Concurso Clube de Leituras LER - 3ª Ed. (c/ o conto integrante ''Em Deus a Justiça''?). História dividida em 4 tomos: Quatro tomos, quatro partes, quatro atos... Quatro vezes o inesperado, onde a ordem dos fatores não altera o produto...