— Oi, dona Gema. Bom dia. O seu Onofre está?
— Está. Espere que vou chamá-lo.
Ele apareceu logo e ainda estava de pijamas. Convidou-a para entrar. Lia entrou, mas não passou da porta da sala:
— Seu Onofre, nem te conto o que aconteceu!
— Se você não me contar, não vou ficar sabendo — brincou. — O que foi? Alguma coisa com a Nancy? Ela está bem?
— Está, está bem sim.
— Aliás, não ouvimos nenhum grito na noite que passou. Pelo menos eu não ouvi. Você ouviu, Gema?
— Não.
Lia confirmou:
— Realmente, não houve gritos. Acontece que Nancy foi dormir ontem decidida a descobrir uma pista. Se sonhasse novamente com a casa, iria querer prestar atenção em todos os detalhes.
— O problema é o subconsciente estar de acordo — disse Onofre. — E ela conseguiu?
— Sim! Já arrumamos as malas e estamos indo agora mesmo para Pindamonhangaba.
— Pindamonhangaba? — exclamou atônito. — Mas por quê?
— No caminho eu explico.
— No caminho? Como assim?
— O senhor não vem com a gente?
— Ir como vocês? Não lhes parece algo meio fora de propósito? Expliquem ao menos o que está acontecendo.
— Não tenho tempo e Nancy quer resolver logo a questão. O senhor sabe como ela é, quando coloca uma coisa na cabeça. Seu Onofre, por favor, venha conosco. Vamos precisar do senhor.
Ele a via como uma filha, uma filha que nunca tivera. Não tinha coragem de dizer não. Iria, sem precisar o porquê ou o propósito. Era como se sua própria filha estivesse pedindo.
— Então esperem eu me trocar. Gema, poderia colocar duas ou três mudas de roupa numa mala?
Gema não questionou a decisão do marido. Em geral, costumavam ser acertadas.
— Nancy, não corra, por favor.
Onofre tinha calafrios com alta velocidade, principalmente se o ponteiro do velocímetro passasse dos 120 km/h. Ia no banco de trás, vigiando o painel do carro. Até o momento, Nancy não passara de cem, mas ele já se encontrava preocupado. A moça, no entanto, dirigia muito bem, embora de forma um tanto atrevida, algumas vezes acelerando rapidamente, noutras cortando os outros carros com agilidade.
— Relaxe, seu Onofre. Dirijo mal?
— Não, pelo contrário. Você é excelente motorista. Só que muito rápida para a minha idade.
— Ora, seu Onofre, o senhor nem é tão velho assim.
— Sou sim, minha filha. Vocês é que não perceberam.
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QUATRO VEZES O INESPERADO
Gizem / Gerilim🏆1º lugar no Concurso Clube de Leituras LER - 3ª Ed. (c/ o conto integrante ''Em Deus a Justiça''?). História dividida em 4 tomos: Quatro tomos, quatro partes, quatro atos... Quatro vezes o inesperado, onde a ordem dos fatores não altera o produto...