Em Deus a Justiça? - VIII

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Às 10h00 da manhã, após o desjejum, Onofre, Lia e Nancy preparavam-se para partir. Despediram-se de Lilo, Mariana e Sérgio. O carro de Silvio tivera um problema de bateria e ficaria na fazenda, aguardando o conserto. Assim, o casal pegou uma carona com os três viajantes.

Quando estavam a meio caminho da cidade, Silvio pediu que Nancy parasse num lugar ermo, onde só havia pés de laranja que se perdiam de vista, alegando que estava apertado para urinar. Célia aproveitou, enquanto o marido adentrava o laranjal, para sair do carro e esticar as pernas. Estava calor, mesmo assim era cortante sentir o ar do mês de julho, batendo gélido em seu rosto. Em alguns pontos da estrada, a poeira levantava-se e já formava redemoinhos.

"O vento assopra e não sabes de onde vem, nem para onde vai", pensou. "Assim é todo aquele que é Espírito, não se sabe sua origem, tampouco seu destino."

Quando Silvio voltou, estando ainda a meia distância do carro, Célia pediu aos outros ocupantes do veículo que descessem:

— Desçam do carro, por favor. Precisamos ter uma conversa.

Silvio, de longe, olhou para Célia, aquiescendo-lhe com um simples aceno de cabeça.

Os três viajantes assustaram-se com o inusitado do pedido e Lia logo se lembrou do que Ana Maria havia dito na noite anterior: "Existe um assassino na mesa".

"Meu Deus", pensou. "Será que são Silvio e Célia? Será que mataram Ana Maria e colocaram a culpa em José? E agora Silvio inventou essa história de ir no mato e pegou lá algum facão, escondido? Será que vão nos matar?"

Lia tremia e tomou a mão de Nancy, apertando-a com força, gelada feito o vento que os castigava. Onofre, apesar de homem racional, também estava assustado:

— O que houve?

— Conversamos ontem à noite, eu e meu marido — iniciou Célia, quando os três já estavam todos do lado de fora do automóvel. — Decidimos que não podemos deixar vocês partirem, antes que toda a verdade seja revelada.

— Verdade? Que... que... Que verdade? — balbuciou Nancy, gaguejando.

Silvio confessou:

— Meu carro não estava com defeito. Eu soltei o cabo da bateria, quando ninguém estava olhando. Assim, forçamos essa carona com vocês.

Onofre começava realmente a ficar preocupado. Silvio estava postado do outro lado do carro, numa posição em que, se possuísse uma arma, teria total controle da situação, podendo alvejar qualquer um dos três, sem que pudessem reagir. Toda calma, portanto, a partir daquele instante seria necessária e qualquer movimento mais brusco deveria ser evitado. Célia aproximou-se de Nancy:

— Dê-me suas mãos aqui.

Nancy recuou:

— Para quê? O que vocês pretendem fazer?

— Vão nos matar! — gritou Lia. — Socorro.

— Quieta, menina — pediu Célia. — E quem vai te ouvir? Não seja tola.

Silvio deu uma gargalhada:

— É mesmo, por aqui não há ninguém, só plantação de laranjas. E ainda não estão colhendo, por esses dias.

Célia insistiu:

— Dê-me suas mãos, Nancy, vamos! O que há, por que o medo?

Onofre meneou a cabeça, na direção da moça, como quem dissesse: "Faça o que ela pede".

Nancy, trêmula, esticou as mãos e Célia as pegou, firmemente:

— Ora, Nancy, vejo que está mesmo com medo de mim. Está tremendo mais que vara verde...

QUATRO VEZES O INESPERADOOnde histórias criam vida. Descubra agora