Crime à Mineira - III

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Janete estava muito nervosa:

— Eu sabia, delegado, que ele ia acabar fazendo uma bobagem dessas.

Belo tomava um gole de café, preparado pela própria Janete:

— Está falando de quê? De suicídio?

— E que mais podia ser? O rapaz tinha pouco tempo de vida, vivia dizendo que queria morrer.

Basílio também experimentou o cafezinho:

— Ele tinha alguma doença?

— Era soropositivo, tinha HIV. Andava muito fraco, muito magro. Bem, o senhor viu o coitadinho. Uma gripe dois meses atrás quase o matou. Depois disso, ele não falava em outra coisa, só pensava em morrer. Não queria de jeito nenhum voltar para uma cama de hospital. Agora eu não entendo onde foi parar o irmão dele.

Belo colocou um pouco mais de açúcar em sua xícara:

— Irmão? Que irmão?

— O irmão que veio visitá-lo, o Jerônimo. Irmão por parte de mãe. Eu fui à padaria comprar pão, leite e muçarela... Preparar um lanche para os dois. Quando voltei, encontrei o portão aberto e a porta da sala escancarada. O Jerônimo não estava mais aqui. Foi aí que encontrei o Jéferson.

Basílio desviou o olhar para Belo. Parecia que as coisas começavam a se esclarecer. Não perdeu tempo:

— Onde mora esse tal de Jerônimo?

— Em São Paulo. Ele chegou a Belo Horizonte hoje de manhã. Jéferson foi buscá-lo no aeroporto.

— Podia nos contar exatamente o que aconteceu hoje pela manhã? Procure lembrar passo a passo, de todos os detalhes.

Janete contou a eles. Há alguns dias Jerônimo ligara para Jéferson dizendo que queria pedir-lhe desculpas pelas duras palavras de quatro anos atrás, quando Jéferson o procurara em São Paulo.

— Eles tinham brigado?

— É uma longa história, delegado.

Belo adiantou-se a Basílio:

— Uai, conte!

A governanta-enfermeira relatou todos os fatos do passado, que envolviam os dois rapazes. Basílio voltou ao assunto em pauta:

— Mas a senhora dizia que Jerônimo ligou para Jéferson há uma semana e que os dois marcaram esse encontro.

— Isso mesmo. Jéferson estava muito contente nessa última semana com a possibilidade de fazer as pazes com o irmão. Só que ele não disse para mim que o irmão ia chegar hoje. Quis fazer surpresa. Levantou cedo e disse que ia na casa de um amigo, mas na verdade foi buscar o irmão no aeroporto.

— Saiu de carro?

— Não, foi de táxi. Desde que voltou do hospital não estava mais dirigindo, por causa das tonturas. Quando ele chegou, trazendo o irmão, que eu nem conhecia, tomei o maior susto.

— E ele costumava sair sozinho, mesmo nesse estado?

— Sim, mas só quando se sentia bem. Eu ficava preocupada, é claro, mas também não queria que ele ficasse só trancado em casa. E Jéferson era muito responsável. Não saía se achasse que o melhor era ficar na cama ou em casa. Depois, ele sempre chamava o táxi pelo telefone, quase não andava. E o pessoal do táxi que ele chamava já o conhece faz muito tempo, desde a época em que ele trabalhava na Gouveia & Carvalho. Assim, eu ficava mais tranquila.

— Bem, a senhora dizia que tomou um susto.

— Foi sim. É que eu não esperava que ele fosse voltar com o irmão. Tinha dito para mim que o Jerônimo viria, mas não disse quando.

QUATRO VEZES O INESPERADOOnde histórias criam vida. Descubra agora