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Quando o soltei — voltando a minha sanidade — Daniel estava com as sobrancelhas erguidas em completa surpresa e os lábios um tanto quanto inchados e vermelhos pela minha voracidade.  Mantive-me firme o olhando e decidida em não hesitar quando ele dissesse algo, mas ele estava realmente surpreso e deduzi que não falaria nada.

— Era isso que queria?

— Bem, eu não vou dizer que não queria. — ele sorriu e coçou a nuca

— O que...

— Eu não sei. Agora pode, por favor, continuar a pesquisa na sala ao lado? Preciso ficar sozinha. — disse baixo e de forma calma, ele franziu o cenho.

— Você está bem? — ele disse sinceramente preocupado. 

— Sim. — menti voltando a colocar a máscara e fui pegar um novo par de luvas — Pode ir agora?

Ainda de costas podia sentir a tensão no laboratório, mas em alguns segundos pude ouvir a porta ser fechada e foi o suficiente para que eu voltasse a chorar.  Minha cabeça estava tão bagunçada e a ideia de que Zander não me queria mais me aterrorizava de um jeito que nunca imaginei. Achei que poderia ficar com ele até que meu pobre coração humano parasse de bater.  Achei que ele iria ficar comigo para sempre.

— Merda! — grunhi e levantei o olhar. 

Funguei e tomei força de vontade para voltar ao meu trabalho tentando — inutilmente — esquecer-me de Zander ou qualquer uma das suas palavras duras trocadas por essa manhã.  Só queria esquecer tudo. 

*** 

Entrei em casa exausta — não somente fisicamente falando — e me joguei no sofá, sentindo falta de Zander pelado nele me olhando com aquele sorriso que desmontava as minhas estruturas por completo. 

Cobri meu rosto e respirei fundo para evitar surtar.  Ouvi um barulho sutil e ao tirar as mãos do meu rosto pude ver Zander ali de pé e segurando dois pratos, um em cada uma de suas mãos. Ele me deu um mínimo sorriso e também deu de ombros, me fazendo sorrir.

— Achei que gostaria de companhia. — ele disse baixo e senti meus olhos arderem. 

— Sim. Gostaria muito. 

— Preparei panquecas de frango. — sorri e ele sentou ao meu lado. 

— Obrigada. — sorri e me ajeitei ali.

Quando olhei para o segundo prato vi que não havia nada ali, mas havia garfo e faca. Franzi o cenho e com a sua tamanha inteligência e perceptividade, ele deu uma risada baixa. 

— Se importa se eu fingir comer? — ele disse e sorri sinceramente. 

Deixei o prato na mesinha do centro e abracei o seu pescoço imediatamente, sentindo-me pequena e frágil. Queria tanto sentir seu carinho, seu toque suave, ouvir sua voz doce me dizendo que tudo ia ficar bem. 

— Eu amo você. — confessei já me sentindo começar a chorar. 

— Skye... — ele disse hesitante e gemi sentindo um peso mortal em meu peito.

Zander usou suas mãos para me afastar do seu corpo  e virou para frente, focando na televisão desligada com um semblante exageradamente sério. 

— Zander, não faz isso comigo. Você me faz tão feliz, por que está me afastando assim? 

— Skye, você não entende. 

— Foi por causa do... 

— Não. — ele me cortou e me olhou — Eu não me importo com o Daniel. 

— Zander... 

— Nem me importa que talvez tenha acontecido outra coisa hoje. — ele disse e franzi o cenho.

— Como você... 

— Seus batimentos aceleraram só em ouvir o nome dele. — ele sorriu sem graça e meus olhos marejaram

— Está tudo bem. 

— Não! Não está! 

— Skye, você precisa... 

— Eu preciso de você! — disse tocando seu rosto, mas ele novamente me afastou.

Sentia-me uma leprosa.  Nem mesmo o meu toque Zander permitia. 

— Me deixa de tocar! — supliquei e ele me olhou sério. 

— Se for uma ordem, tudo bem. — ele disse e meus olhos transbordaram sem o meu consentimento.

— E se for um pedido? 

— Eu não gostaria que o fizesse. 

Outch

Ele estava agindo de uma forma que cada palavra sua parecia uma adaga afiada me acertando sequencialmente em meus pontos mais dolorosos e posso afirmar com toda certeza que ele era o meu ponto fraco. 

— Então é isso? 

— Isso? — ele perguntou sério. 

— Só está faltando dizer "o problema não é você, sou eu" e dois dias depois aparecer com uma peituda, postando fotos no instagram comemorando seis meses de namoro. — disse e ele negou com a cabeça — Está sendo como os outros.

— Eu sou uma máquina. 

— Você não é só uma máquina. 

— Eu sou. — ele disse e levantou a parte de baixo da calça mostrando seu tornozelo e o encaixe do carregador — Não passo de uma máquina Skye e uma hora ou outra você vai precisar de alguém de verdade. 

— Eu quero você. — supliquei tocando seu rosto, mas ele se afastou novamente.  Chorei como uma menina. 

— Eu gostaria que não chorasse. 

— Zander... 

— Mas eu não quero mais ser seu namorado. — ele disse e abri a boca sem conseguir pronunciar uma única palavra. 

Isso não podia ser real. 

— Zander? — balbuciei sentindo meu rosto exageradamente molhado. 

— Gostaria que você fosse feliz e que encontrasse alguém. Daniel é um homem bondoso e senti seus hormônios perto de você, provoca nele sentimentos bons.

— Zander, eu não... 

— E gostaria que me devolvesse para o meu mestre. 

— O quê? — eu já nem conseguia falar direito. 

Minha voz falhava e meu peito doía tão severamente que achei que fosse morrer ali mesmo. Zander não podia fazer isso comigo, não depois de tudo que me disse, da forma como me tratou e me beijou.  Não depois de me ter feito baixar a guarda e deixá-lo invadir meu coração da forma mais intensa que já vivi.  Não depois de me entregar tanto. 

— Zander, você está me deixando? 

Seus olhos que antes não desviavam dos meus nem por um segundo focaram novamente na televisão desligada e aquilo me doeu tanto, mas tanto que quis ter um pouco de morfina. 

— Está me deixando Zander? — perguntei novamente tentando soar firme e enxuguei o meu rosto. 

Zander arrumou a sua postura no sofá — ainda olhando para a televisão — e então deu um longo suspiro — mesmo eu sabendo perfeitamente que ele não respirava —, então me olhou nos olhos.  Seus castanhos intensos pareciam me ferir como navalhas agora. 

— Estou Skye.

Metalic CrushOnde histórias criam vida. Descubra agora