Zander deitou-me na cama cuidadosamente e então começou a acariciar meu rosto com delicadeza, mas por dentro eu estava com medo.
— Z-Zander...
— Sim Skye?
— Está se sentindo bem?
— Eu... Sim, eu acho que sim.
— Acha?
— Alguns minutos atrás o meu sistema estava apagando. — ele disse confuso.
— Apagando?
— Eu não sei. Tive alguns cortes na memória de acontecimentos.
Assenti vagarosamente e então estendi a minha mão para pegar o meu telemóvel na cômoda e rapidamente digitei os números de Heinz enquanto olhava atentamente para Zander.
—Heinz?
— Oi mulher robótica. — ele disse divertido, e juro que quis rir.
— Eu preciso da sua ajuda. — suspirei — Na verdade, o Z. — disse e o mesmo me olhou atentamente.
— O quê? O que aconteceu com o meu robô Skye?
— Eu acho que tem alguma coisa errada com os circuitos dele.
— Não tem nada de errado comigo. — ele disse calmo e peguei sua mão.
— Skye, onde você está?
— Casa de campo.
— Tudo bem. Estou indo até aí.
— Ok.
Desliguei o telemóvel e encarei Zander que tinha seus olhos vidrados na janela atrás de mim e nem mesmo piscava os olhos castanhos que eu tanto amava.
— Zander?
— Skye?
— O que está sentindo?
— Não consigo me lembrar da sua casa. — ele disse e abaixou os ombros.
— O quê ...
— Eu tento, mas meu sistema não responde, o que há de errado?
— Está tudo bem — acariciei seu rosto —Heinz está vindo e vai te ajudar com isso, okay?
— Sim.
***
Heinz havia desligado Zander para realizar a manutenção de seus circuitos e juro que quando ele fez isso parte do meu coração apertou de uma forma exagerada, ao ponto de precisar sair e respirar um pouco em pensar na possibilidade de não tê-lo. Então foi exatamente em meio a esses pensamentos que me dei conta de que havia algo mais entre nós. Eu estava criando um vínculo muito forte com Zander e uma necessidade extrema dele, uma coisa que nunca senti antes com alguém.
E isso me assustava. Apesar de ser a completa perfeição, ainda era um robô. Duvido que alguém entendesse quando contasse isso. Só que aí é que estava: eu não me importava mais com isso. Na minha mente parecia que o ponto mais importante havia se tornado o Z e a forma doce e carinhosa com que ele me tratava. Eu não queria que isso tivesse fim e já conseguia idealizar inúmeras formas de vivermos juntos.
— Skye? — a voz de Zander soou e meus olhos até se encheram de tanta felicidade.
Virei rápido e corri até ele, abraçando-o com toda a minha força e me permitindo ter um pouco de paz ao notar que estava tudo bem.
— Você está bem? Meu santo Einstein, eu pensei que iria perder você! Eu tive tanto medo! — disse baixo o abraçando e sentia suas mãos em volta da minha cintura.
— Estou! Mestre Heinz me ajudou!
— Ah, que bom! — suspirei aliviada e segurei seu rosto para beijá-lo. Finalmente me sentia em paz.
— Hm... — a voz de Heinz soou e me afastei de Zander rindo.
— Heinz, já disse o quanto amo você? — disse e fui abraçá-lo.
Logo ele retribuiu, mas o ouvi dar um longo suspiro e com isso — conhecendo-o bem como eu —, pude saber que tinha algo errado.
— O que houve Heinz? — perguntei.
— Zander, pode fazer um café, por favor? — ele pediu e Zander assentiu.
Encarei atentamente todos os passos que Zander deu até que entrasse na cozinha e não pude deixar de sorrir ao notar o avanço até mesmo na forma que ele caminhava. Era estupendo!
— Então? — disse sorrindo para Heinz, mas ele estava sério.
— Skye, você está bem?
— Eu? Sim, claro! Agora estou ótima!
— Eu quero dizer, especificamente, em relação ao Z.
— O que quer dizer com isso? — indaguei.
— Quero dizer que... O tom de agonia que usava ao telefone, a forma como saiu quando precisei desligá-lo e até mesmo a forma como o olha...
— Heinz, eu não sei bem que rumo essa conversa está tomando. — disse e ele suspirou — Vamos lá, seja direto.
— Você está apaixonada pelo Z? — ele perguntou sério olhando em meus olhos e confesso que fiquei sem reação.
— Por quê? — perguntei um tanto quanto vacilante e ele respirou fundo.
— Está apaixonada de verdade por ele? Do tipo que planeja uma casa com varanda e jardim cheio de girassóis? — ele perguntou e então notei o seu tom de voz e a sua intenção.
— Não há mal algum nisso, há? — disse de forma baixa e insegura.
Pela expressão facial de Heinz pude ver claramente que havia, sim, controvérsias em estar apaixonada pelo Z.
— O Zander é um robô, Skye.
— Eu sei, mas...
— Ele é um projeto de laboratório. Uma experiência ainda não finalizada.
—Não fala assim Heinz.
— Não o estou subestimando, santo Deus, ele é a minha maior conquista! Mas, Skye, ele ainda é um robô. — ele disse frisando o "ainda" como se eu tivesse esquecido.
— Eu sei!
— Eu o criei para que você se sentisse amada. Para que você aprendesse a amar. — ele disse e segurou a minha mão.
Os meus olhos já estavam automaticamente marejando e eu estava tentando a todo custo me segurar para não chorar ali mesmo e causar um drama ainda maior àquele momento.
— Precisa controlar os seus sentimentos em relação ao Z, Skye, para o seu próprio bem. — ele disse e acariciou a minha bochecha — E se achar que não pode...
— O quê?
— Apenas me ligue e eu posso desligá-lo definitivamente.
Meu coração batia tão acelerado e uma sensação angustiante me cercava de forma com que desejei que Heinz estivesse apenas brincando em relação àquilo. Mas não estava. Ao olhar para trás vi Zander segurando duas xícaras de café com um semblante sério, mas afetado. Com toda certeza ouviu aquela conversa e sabia que — assim como eu — não estava nada feliz com isso.

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Metalic Crush
RomansaZander, um robô criado pelo brilhante cientista Heinz, melhor amigo de Skye, que é convidada a testar a mais nova invenção do amigo! Porém esta surpreende-se com as habilidades emocionais e corporais que o robô possui. O que pode acontecer?