Capítulo 1

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A minha vida não poderia estar sendo mais assustadora que isso.

Passar o verão acampando com certeza não estava nos meus planos, sem dúvida eu estaria, por escolha, numa praia paradisíaca com minhas amigas.

A minha escola inventou em "apostar em um novo conceito" ligando bem-estar e natureza e os meus pais aproveitaram isso para me castigar, tudo porque fui em uma festa sem saberem, bati o carro deles e estava no hospital sem saber como fui parar lá, nada demais.

Fiz de tudo para convencê-los em não me mandar para esse lugar, mas nada adiantou. Como vou sobreviver a isso, sem celular, internet, cheio de mosquitos e dormindo em barracas? Isso é a pior coisa da minha vida!

Desço do ônibus sem o mínimo de ânimo, bufando do tédio que será isso aqui. Atrás de mim descem alguns meninos carregando minhas malas e frouxos que são reclamam.

— Nossa, Natalie, você não precisava trazer seu guarda-roupa inteiro.

— Só trouxe o básico — falo enquanto serro minhas unhas.

— Você vai assassinar a natureza, amiga, com o tanto de produto que vi colocar aí — minha best fala.

— Minha vida, amiga, minha vida que está assassinada por estar nesse lugarzinho... — nesse momento parei boquiaberta com o ônibus que acabava de chegar bem atrás do nosso.

Parecia mais uma torcida de futebol chegando no estádio fazendo a maior algazarra, nem pareciam pessoas civilizadas. Vários meninos reclamavam do calor e estavam completamente suados, já as garotas que desciam pareciam inimigas da moda vestidas de calça jeans, uniforme branco com verde e chinelo no pé, que horror!

Mas o cúmulo mesmo foram uns pirralhos que desceram por último com uma caixa de som tocando algo ridículo como "sentadona, sentadona, sen-ta-do-na..." nesse momento eu fiquei de boca aberta e um grupo de meninas começou a rir.

Saí pisando fundo, isso só pode ser uma brincadeira de mal gosto. Pai, mãe eu odeio vocês por me fazerem passar isso, aff!!!!

~

Duas filas são formadas uma de frente para outra, a da minha escola frente ao que pareciam ser alunos de escola pública, provavelmente a pior delas.

— Vocês passarão um mês juntos, portanto quero boa convivência! — A instrutora durona fala firmemente andando de um lado a outro. — Disciplina, e acima de tudo trabalho em equipe! Todos aqui são tratados de forma igual, sem mimimi... — nesse momento ela me olha como se aquilo fosse especialmente para mim, só porque eu pedi um quarto individual. — Aqui não é resort, muito menos estão a passeio. Vocês vão trabalhar resistência, sobrevivência e tudo isso sem pesquisar no google como se acende uma fogueira sem fósforo —Todo mundo começa a rir, menos eu é claro.

Depois de ouvir a chatice de instruções somos orientados a irmos para nossas cabanas, são duas principais, as dos meninos e as das meninas. As meninas da outra escola saem correndo igual loucas para escolher as camas me empurrando e fazendo com que eu derrubasse minhas malas que com tanto sacrifício tentava carregar.

— Quer ajuda, dondoca? — uma menina pergunta e as amigas começam a rir.

— Eu quero, Priscilla.

— Nossa, essa assanhada não perde tempo mesmo — outra menina fala revirando os olhos.

Sem entender nada sigo até a única cama que sobrou, para completar minha sorte fica bem ao lado do banheiro.

~

Piiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!

Acordo sobressaltada com o som de apito estridente bem perto do meu ouvido. Isso só pode ser uma brincadeira.

— Se arrumem, em vinte minutos quero todo mundo no refeitório — nossa instrutora grita, será que ela não sabe nunca falar baixo?

— Que horas são? — pergunto sonolenta.

— Cinco horas — arregalo os olhos. —, hora perfeita para caminhar. Rápido meninas!

Eu não acredito, acordamos com as galinhas. Olho para as outras meninas, é... de caipiras aqui está cheio. Seguimos as regras e arrumamos a cama antes de tudo. Seguro em duas pontas do cobertor e penso: como faz isso? Minha amiga ficou em uma cama longe da minha, não iria passar por todas essas garotas para pedir ajuda a ela.

— Tá difícil, dondoca? — a mesma menina de ontem me pergunta e reviro os olhos. Logo cedo não, garota! Nem a respondo. — esse lado é para a cabeceira. — diz e sai.

Depois de ser a última em mais uma atividade vou tomar meu café da manhã, estão todos aqui e sento perto dos meus amigos.

— Não vai pegar seu café, Natalie?— minha amiga Abigail pergunta.

— Não tem ninguém para me trazer aqui?

— Lembre-se, não estamos em um resort, amiga.

Não acredito que minha família paga caro para eu dormir numa cama de colchão quase inexistente e me servir sozinha nas refeições, aqui deveria ser bem mais acolhedor. Olho a comida disposta na mesa e fico horrorizada, não tem cereais, meus morangos, iogurte... só tem pão, ovos, biscoito, café, leite, mas nenhum achocolatado.

Volto para meu lugar emburrada.

— Você não vai comer nada? — Abigail pergunta.

— Não tem nada para eu comer aqui.

— Miga, deixa de coisa, esses ovos estão uma delícia. Toma pelo menos um leite.

— Eu mesma não, esse leite que ninguém sabe de onde veio.

— Melhor comer algo, aqui não é brincadeira, você pode passar mal.

O horário de refeição chega ao fim e nos reunimos no mesmo lugar de quando chegamos. A instrutora grita em nossos ouvidos, diz que vamos fazer duas horas de corrida pela floresta, eu acho que vai ser moleza, eu já pratico meus exercícios semanais, então devo estar preparada.

— Um, dois, três, quatro aqui ninguém pisa fraco. Vamos lá, galera, mais alto! — Michele, nossa instrutora, fala logo a frente da fila. Que vergonha disso, sério. — Cinco, seis, sete, oito aqui ninguém é um frouxo. E se for vai deixar de ser... — finaliza comentando. Reviro os olhos, não posso crer nisso. — nove, dez, onze, doze se arregar fica sem almoço. — nem rimou e eu tô nem aí para esse almoço, se o café já foi horrível imagina o resto.

Meia hora depois eu já não aguentava mais isso, coisa chata. Sem contar que eu não estava muito bem, deve ser todos esses mosquitos que não paravam de me atacar, talvez um deles é contaminado, sei lá. Essa com certeza é minha pior féria, quem diria que eu, Natalie, estaria no meio do nada passando por isso, sem meu momento matinal de beleza, com cabelo horrível e com um monte de pirralho sem classe.

De repente começo a vertudo girando e já não domino mais meu corpo, lá está eu flutuando igual umaflorzinha caída, ouço só zumbidos e pessoas me chamando.

SOS Acampamento (Natiese)Onde histórias criam vida. Descubra agora