Capítulo 10

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Um silêncio ensurdecedor tomava o interior do ônibus de volta pra casa. Até as margaridas em minha mão estavam cabisbaixas. Abigail do meu lado tentava me acalentar, ainda se acostumando com o fato de eu estar triste por estar voltando pra casa, pra todo o conforto que sempre amei.

Sei que deve ser estranho pra ela e seria pra qualquer um que tivesse me visto surtando pra não ir ao acampamento.

— Amiga, fica tranquila, depois vocês podem se falar, pode até chegar em casa e já ligar pra ela e ficarem horas juntas. — Abigail me anima. Eu estava olhando em direção a janela e quando ouço isso meu corpo se arrepia de um jeito estranho, olho pra ela de forma lenta, olhos arregalados, quase travando. — Natalie, não me diz que você...

— Puta que pariu! — levo minhas mãos a cabeça.

— Você não pegou o número dela e nem deu o seu? — jogou sua hipótese em meu colo.

— Não, nem passou pela minha cabeça, já estava acostumada com a falta de tecnologias e... puta merda — bato na testa.

Sou acostumada a não pensar muito pra fazer certas besteiras. Levanto apressada e vou em direção a cabine do motorista, na divisória reluzia: "fale com o motorista apenas o indispensável". Ótimo, isso é totalmente indispensável. Dou vários toques repetidos pra que ele abra a porta que divide a parte do motorista e o resto do ônibus.

— Você precisa voltar — falo e ele começa a diminuir a velocidade.

— O que houve, esqueceu algo importante?

— Sim, muito importante. — ele faz uma pausa esperando que eu dissesse o que era.— Eu não posso dizer o que é.

— Você precisa.

— Só... por favor — Termino e ele fecha a porta automática na minha cara. Suspiro frustrada, como eu pude acreditar que isso realmente funcionaria. Sou uma idiota.

Abigail já estava atrás de mim observando minhas loucuras. Caminho pelo corredor retornando ao meu lugar, recebendo olhares repleto de julgamento.

— Deixa de ser maluca, Natalie. Vamos pensar em algo um pouco mais racional. Ela deve ter rede social, não é? Assim, encontramos ela rapidinho.

— Não. — Respondo entristecida. — Lembro dela ter falado que não curtia isso — sentamos em nossos lugares.

— Ah, mas outras pessoas devem ter e assim chegamos nela. Olha só, até o nome da escola sabemos, isso é um bom começo. — Reconheço. Meu leve surto foi algo longe demais, mas só o que passou na minha cabeça era que eu havia ferrado tudo e nunca mais a veria. Imagina você se apaixonar por alguém e nunca mais poder vê-la.

Conforme eu observava a paisagem lá fora se movendo só conseguia pensar o quanto eu estava me distanciando cada vez mais de Priscilla e me perguntando se ela estava sentindo o mesmo que eu, se estava pensando também em mim. Essa é de fato a viagem mais difícil de todas, ganha até mesmo da que eu fiz pra chegar no acampamento, nessa eu estava extremamente furiosa, chateada e até chorei boa parte da viagem por realmente não quer ir pra lá, ah se eu soubesse prever o futuro, se eu se quer imaginasse a existência da minha linda garota.

Já havíamos chegado em nosso destino, paramos no estacionamento da escola, enfim de volta a realidade de nossas vidas. Lá fora o céu estava extremamente azul em meio ao pouco espaço que os prédios deixavam ver, o ar não mais tão puro. Eu me sentia em casa novamente, esse sempre foi o meu meio e jeito de viver.

Do lado de fora, havia vários carros estacionados e pais eufóricos esperando por seus filhos. Eu sorri ao ver os meus recostados no carro. Andei apressada até eles com a mochila pesadas nas costas.

SOS Acampamento (Natiese)Onde histórias criam vida. Descubra agora