De longe eu observava Priscilla, era fato que a cada dia eu a via de uma forma diferente. O jeito que se movia pra montar a barraca, que franzia o cenho ao pensar qual seria o próximo passo, como enxugava o rosto com o antebraço, tudo nela parecia me chamar a atenção.
Piiii.... — o apito ensurdecedor grita em meu ouvido e tomo um susto.
— Moscando de novo, dona Natalie. — Michele reclama. — não é a primeira vez que você foge desse trabalho.
— Desculpa, senhora. Eu só parei pra tomar água.
— Então anda logo, vai, vai.
Me recomponho e vou até a barraca ajudar as meninas a montarem. Seria o mesmo grupo novamente, Priscilla, Raimunda e eu. Ao contrário do que Michele achava, dessa vez eu não estava fugindo do meu trabalho, até estava me acostumando a fazer o que eu precisava.
Eu estava na ponta dos pés, me irritando que não conseguia alcançar o encaixe da peça no topo da barraca. Até que sinto uma aproximação que logo seria minha ajuda. Quando viro o rosto de lado é Priscilla tão próxima que sinto o ar quente de sua boca no meu rosto e me estremeço inteira, tão forte que me desconheço, quando seus lábios tocam na lateral de meu pescoço. Logo em seguida se afasta, me lançando um sorriso provocativo, será que ela sente o quanto mexe comigo?
Nesse momento, eu não sabia o que fazia, pra onde ia, me surgiu uma amnésia temporária. Ela me fazia uma boba, de um jeito que nunca fui. Desde a noite que ela me levou à praia, não nos olhamos mais como antes, agora é sempre provocativo, cumplice como se nós duas soubéssemos de um segredo bem grande.
Naquela noite, Priscilla disse que eu a atraia, só que mais nada além disso aconteceu, apenas abriu a porta, deixou que eu entrasse primeiro e foi logo atrás de mim. Desde então, eu venho processando o que me falou, nem ela e nem eu a procurei pra falarmos sobre. Mas aliás, o que íamos falar? Ela apenas se sentiu bem em confessar isso pra mim e eu, bem... ainda não sei o que fazer com essa informação.
Analisando desde então, eu tenho entendido que ela deixou uma abertura para minha própria escolha e iniciativa. Mas convenhamos, tá difícil resistir, olha o que ela faz comigo. Eu conversei até com a Abigail sobre, mas os conselhos dela são péssimos, do tipo, vai lá e beija ela de surpresa, agarra ela enquanto tá dormindo e disso pra baixo.
Eu não sou muito boa pra tomar iniciativas e se ela for esperar por isso como estou achando, talvez nunca aconteça.
Mais tarde, nos reunimos para uma atividade convocada por nossa instrutora. Dois grupos de sua escolha foi montado, ela dividiu pelo porte físico de cada pessoa para que não houvesse vantagens ou desvantagens entre nós. A linha central foi marcada no chão e a corda era nosso instrumento principal.
Cada grupo teve um tempo para planejar estratégias. Só quem sabia dessa brincadeira, que chama cabo de guerra, era os alunos da outra escola, para ser bem realista eu nunca nem ouvi falar, mas estava interessada em aprender (a Natalie de antes se espantaria ao ouvir isso de si mesma).
Disseram que o mais importante aqui nem era a força, mas posicionar os pés de forma correta e todo mundo inclinar o corpo para trás, isso já bastava para desestabilizar o oponente. Até estava confiante que ganharíamos, me posicionei no meio do meu grupo e Michele estava prestes a assoprar seu apito.
Do outro lado estava Priscilla sorrindo covardemente para mim, foi tão inconsciente que só depois do apito tocar percebi meu sorriso largo no rosto. "Assim não dá, né Natalie?" penso. A corda começa a ser puxada de um lado, depois de outro e é aquela briga de quem pode mais, eu estava dando o máximo de mim aqui e por incrível que pareça não era muita coisa, minha mão doía, o que eu poderia fazer? Mas eu estava me divertindo com aquilo e só de pensar que estamos nos últimos dias de acampamento percebo que eu deixei de aproveitar, maior parte do tempo fiquei reclamando e fazendo birra, confesso... Mas nem tudo parece perdido, vou fazer meus últimos dias aqui valerem muito mais a pena do que fui capaz de fazer antes.
VOCÊ ESTÁ LENDO
SOS Acampamento (Natiese)
FanfictionFanfic Natiese Natalie é uma patricinha que foi obrigada pelos pais a ir ao acampamento de verão de sua escola. Para ela era a pior coisa que poderia acontecer, só não imaginava que alguém tornaria tudo bem mais interessante.