Capítulo 4

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Ando de um lado para o outro, inquieta, tentando estalar os dedos pela centésima vez. Hoje quando acordei a marrenta da Priscilla já não estava mais no acampamento, disseram que ela "zarpou" daqui logo cedo, desde então nada mais é o mesmo.

Não tem ninguém pra encher meu saco e pelo menos notar que eu existo no meio desses pirralhos. Quando cheguei aqui parece que tudo piorou com ela, mas na verdade só ficou mais legal, é estranho pensar que uma pessoa tentar te matar afogada deixou as coisas mais divertidas, claro, tirando esse pequeno detalhe foi legal sim.

Quando cheguei aqui achei que eu tinha alguma importância para as pessoas, mas com esse tempo de sobra pra pensar, sem tecnologia, sem dinheiro, festas e coisas que posso comprar, percebi que não tenho importância alguma. Eu só tinha coisas materiais a oferecer além da minha companhia e isso fazia as pessoas ficarem por perto. Aqui ninguém se importa, ninguém quer interagir comigo e me conhecer melhor. Só Priscilla que desde a primeira vez que trombou comigo deu pra me irritar, creio que por achar esse lugar deslocado para mim.

Avisto Michele sair do dormitório feminino e corro para me esconder atrás de uma árvore próxima. Ela parece procurar alguém, com certeza não é eu, já que ninguém lembra de mim aqui. Fico impaciente de tanta espera, estou a quase uma hora perto da entrada do acampamento e nada dela chegar.

Desisto de tanta espera, nunca fui boa pra isso mesmo, acho um saco e odeio quando me deixam plantada. Dou meia volta para o lugar que tem sido meus tormentos nos últimos dias e lá estava Michele com as mãos em punho apoiadas na cintura e olhando pra mim. O que eu fiz dessa vez?

— Onde você estava, garota?

— Tomando um ar

— E não dá pra tomar ar junto com os outros?

Bla bla bla... é o que ouço de restante, pior que meus pais essa aí!

Desfaço minha cara de tédio ao ouvir o som de pneu freando na estrada, sorrio de canto e olho pra trás avistando o carro estacionar na entrada. Se há algumas horas fiquei no tédio com certeza não estou mais, às vezes temos que dar nossos pulos pra conseguir continuar com as coisas como estão.

Não é a coisa mais perfeita que já fiz, porém a melhor no momento.

Vou até a entrada, o motorista desce e vem até mim. Mas, atrás, bem atrás de mim estava Michele com cara de abobalhada sem saber o que era aquilo.

— Não vai dar um abraço no papai?

— Antes não tivesse feito eu parar nesse lugar. — respondo de braços cruzados.

— Ora só, esse lugar é incrível, aconselho aproveitar, porque terá bons dias aqui — reviro os olhos e ele me abraça, beijando minha testa.

Quando ele me solta imediatamente vejo ela recostada no carro. Uma felicidade interna me toma, meu pai pode até ter sido duro comigo nos últimos tempos, mas que ele foi maravilhoso dessa vez, isso não vou negar!

— Você está bem, Natalie?

— Ué, não sou mais a sua Dondoca?

— Continua sendo, mas tenho aberto uma exceção — Priscilla sorri de canto e aponta a mão fechada para mim para que eu desse um soquinho, o faço, mas mostrando desinteresse, como se não quisesse fazer aquilo.

Meu pai coloca suas malas ao nosso lado e diz que vai embora por causa de seus compromissos, agora sabendo que ele conseguiu o que eu o pedi dou dois beijos em seu rosto bem apertado.

— Te amo, paizinho. Mas ainda não te perdoei. — ele sorri e balança a cabeça em negativo.

— Se cuida, menina — puxa meu nariz entre seus dedos e volta pro carro. Eu saio andando em direção ao dormitório passando pela emburrada da instrutora, sorrio de canto com sua cara de realmente desentendida nessa história.

SOS Acampamento (Natiese)Onde histórias criam vida. Descubra agora