Capítulo 9

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Ao amanhecer, acordo com o barulho do apito, típico desde o primeiro dia. Eu estava agarrada a um volume em minha frente, sinto aquele perfume já tão conhecido por mim e acabo caindo da cama em um pulo ao relembrar e imaginar que estava abraçada a Priscilla. De imediato, só ouço risos e olhares em minha direção.

— Calma amiga, que susto foi esse? — Abigail fala me ajudando a se levantar. Olho pra minha cama vazia com apenas o travesseiro que eu deveria ter ficado abraçada depois que Priscilla saiu em algum momento.

— Apenas um mau sonho. — Minha amiga dá de ombro e senta ao meu lado na cama.

— Aconteceu alguma coisa ontem...? — ela pergunta de um jeito suspeito

— Como assim, você viu algo?

— Não algo, mas alguém — confessa olhando para Daniela que de longe conversava com seu grupo de amigas — eu vi ela quando já estava entrando no dormitório e minutos depois você e Priscilla, então imaginei que ela tivesse ido estragar seus planos de ontem.

— Essa garota não se cansou um minuto de me odiar. Óbvio que Michele não ia descobrir sozinha que estávamos no refeitório.

— Sinto muito, Natalie, se eu tivesse visto ela saindo teria impedido. Mas afinal, o que rolou finalmente?

— Foi muito mais que o planejado até Michele chegar.

— Caramba, a Michele?

— Sim e num momento um tanto íntimo...

— O que? Vocês trans-

— Fala baixo, garota. — A interrompo colocando a mão em sua boca. Parece que não estamos rodeadas de pessoas que amam futricar da vida alheia. — Não chegamos a nada disso, só chegamos perto, bem perto aliás. Priscilla é uma tentação em pessoa.

— Ah, ela é. — Abigail solta em um tom pervertido. Olho pra minha amiga boquiaberta não acreditando no que ouvia e dou uma cotovelada em repreensão. — Calma, amiga, só estou admitindo o óbvio, mas sem nenhum interesse, sabe que eu não curto essas aventuras.

Que seja mesmo, porque eu não sei reagir a mais alguém disputando a Priscilla comigo. Sei que Daniela vive na cola dela, mas essa só está em busca de um caso perdido, desde o início vi como Priscilla foge do seu jeito oferecido. Pelo menos é isso que eu acredito.

Sinto meu coração se apertar de imaginar que depois daqui eu estarei longe o bastante pra saber quais as novas aventuras da minha garota. Se alguém vai atrai-la tão quanto eu fui capaz e ganhará todos os beijos ou mais que já dei. Nem consigo imaginar minha vida sem Priscilla nos meus dias, perto de mim, como será sem seus beijos, sei que terei um temendo vazio em meus braços.

Em relação ao que aquela Cururu fez, eu já sei o que fazer. Não há nada melhor do que mostrar o quão seus planos foram fracassados e seus maldizeres não valeram de nada. E a Abigail vai me ajudar dessa vez.

Depois do café da manhã, todos nós colocamos nossas malas do lado de fora do dormitório. E assim como quando chegamos no acampamento estávamos postos em duas filas de frente uns pros outros. Agora, em perspectivas muito diferentes, até de como eu me sentia, não estava chateada, emburrada e nem xingando meus pais mentalmente, acredito que cada um aqui se sentia diferente de como chegou.

Certos olhos castanhos me observavam, fez questão de ficar bem a minha frente e eu a acompanhei, não perderia minhas poucas horas não olhando pra garota mais linda entre todos aqui.

Michele saudava a participação de todos, dizia que esperava nossa vinda em outros verões e que com certeza lembraria de nossos rostos, especialmente de alguns, nesse momento ela olha pra mim, chego a me espantar, fui tão perturbadora a esse ponto?

Abigail percebe e ri me cutucando com o braço. Priscilla também não deixou de notar, dou de ombro, fazer o que... no final, ela nos dá uma lembrancinha do acampamento, uma miniatura de barraca grafada com a data de duração dos nossos dias passados aqui.

Foi nos dado um momento livre de despedidas antes de partir. E claro, não havia mais ninguém que eu quisesse ficar junto que Priscilla. Em meio as pessoas, seguro na mão dela puxando em caminho de um espaço discreto entre o dormitório e o banheiro feminino. Não muito difícil de prever, eu estava louca pra beijá-la e ela sempre em sintonia, abraça a minha cintura apertado.

Eu gosto quando ela fica no domínio da situação, quando me beija com vontade e me aperta contra seu corpo. Mais do que nunca eu queria que ela fizesse assim, me tomasse pra ela cheia de vontade porque com plateia ficava ainda melhor. Tratei de me certificar que sim, meu plano deu certo, se restava alguma dúvida pra ela agora não restaria mais. Pedi que Abigail inventasse qualquer desculpa pra levar Daniela no lugar exato que me visse com Priscilla e que em hipótese alguma permitisse nos atrapalhar, não dessa vez. Poderia dizer que com certeza ela fumegava de raiva se eu não tivesse tão ocupada em beijar alguém que ela se quer soube conquistar.

Eu não precisava provar nada e nem precisaria fazer esse papel se ela não se metesse tanto em algo que ela não tem nada a ver, nem sou do tipo vingativa, mas de vez em quando vale a pena. Não queria muito proveito disso, eu estava a fim mesmo era de outra coisa. Mas enfim, ela pouco tempo depois nem estava mais lá e eu só continuei a aproveitar meu momento.

Priscilla fazia carinho em meu rosto, cabelo, nuca, fazia jus ao pouco tempo que temos, chupando meus lábios de forma lenta e eu simplesmente me derretia aos seus toques e o gosto delicioso de seus lábios. Finalizando nosso beijo com alguns selinhos procuro sentir o cheiro do perfume em seu pescoço, de seus cabelos, quanta falta eu sentiria.

— Natalie, vem embora comigo — ela propõe.

— Você é maluquinha, como eu poderia? — Pri suspira descontente.

— Eu não contava em me apaixonar.

— Muito menos eu, mas não me arrependo disso ter acontecido.

— Eu também não e a gente sabia que isso aconteceria, quer dizer, que chegaria o dia de irmos embora — percebendo que estávamos perto de ir ao ouvir de longe o apito da instrutora, Priscilla entrega em minha mão um fecho de pequenas margaridas. — Não tenho nada mais grandioso a oferecer a você além dos meus sentimentos, mas guarde essas rosas dentro de um livro e eternize elas como símbolo de nós, minha dondoca. — Apesar do apelido horrendo que ela me arrumou, eu era incapaz de me irritar, eu estava tomada por sentimentos tão bons de um coração que acelerado do jeito que estava mostrava o quanto Priscilla me deixava cheia de inquietações e sentimentos.

Tomei seus lábios por mais um beijo, um último beijo. Até ter que soltá-la porque não havia mais tempo e a abracei apertado, tão apertado que seria capaz de sufocá-la se demorasse mais um pouco.

— Adeus... — Falei com a voz trêmula, eu seria tola demais se chorasse agora?

— Adeus é algo forte demais, fiquemos com um até logo, tá bom? — Acenei em afirmativo, deixando um beijo em sua mão me distanciando em seguida.

Nunca pensei que fosse tão difícil ir e deixar alguém ir.

Peguei quantas malas pude para levar ao ônibus, dessa vez não exigi que carregassem, no entanto recebi ajuda dos meus colegas de turma e deixei as bagagens mais leves pra eles. Se eu decidi trazer tantas coisas desnecessárias eu que deveria arcar com isso.

Como eu havia demorado um pouco fui a última a ter que subir no ônibus. Logo ao lado, estava Priscilla também esperando pra subir no seu, ela fecha seus olhos por rápidos segundos e joga um beijo pra mim e eu faço o mesmo. Logo a vejo desaparecer de minha visão e faço o mesmo, simultaneamente, entrando no ônibus.

E dessa breve aventura chegamos ao fim. Mas para alguns, o fim é apenas o começo. 

SOS Acampamento (Natiese)Onde histórias criam vida. Descubra agora