Capítulo 12: Momento bom

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Pov Sheilla

Eu sabia que voltar para casa não seria fácil, estar em uma cadeira de rodas não seria fácil ainda mais porque sempre fui da ação. Meu corpo precisava está em movimento para que eu me sentisse viva e isto neste momento não me era permitido, mas eu havia achado um novo motivo para continuar, os olhos da doutora Gabriela.

Cada vez que ela entrava no meu quarto vestida em seu jaleco branco e pousava seus olhos atentos sobre mim era como se parte da energia que ela tinha se chocasse contra o meu corpo e o fizesse vibrar. Seu olhar era muito astuto, parecia que ela buscava algo em mim e eu também buscava algo nela.

Buscava saber quem era ela de fato e por que causava tantos efeitos sobre mim. Queria saber quantos anos tinhas. Queria saber por que parecia que eu já a conhecia principalmente quando a via sorrir. Queria saber por que quando ela torcia as mãos em seus momentos de ansiedade meus olhos se prendiam nelas como um ímã e crescia uma necessidade de segurar-las. E queria saber se era ela a garota que dançava em meio as flores nos meus sonhos desde que acordei.

Estava tentando mantê-la em um patamar profissional, mas cada vez que ela estava suficientemente perto eu perdia o controle da minha língua e deixava meu coração comandar minhas falas. O medo de assusta-la era grande, mas, quando eu via já havia dito algo.

Estava tão ansiosa para sua chegada, tinha certeza que ela nao ficaria muito tempo e só aceitou o convite por educação e por isso tentava manter o foco e não criar expectativas.

Porém, a quem eu queria enganar? Minha casa parecia muito pequena diante da grandeza da sua presença quando ela chegou. O modo confortável como ela falava sobre as minhas fotos com a minha avó trazia calor ao meu coração. Mas eu ainda deveria manter as aparências, não poderia me entregar tão fácil, por isso fiz minha melhor cara de brava e a forma como ela tentou me deixar confortável foi engraçada.

Eu não deveria ter conversado com Thaisa como me sentia em relação a ela, mas já era tarde demais e pra sair de todo o embaraço que minha melhor amiga criou, resolvi deixar com que ela entrasse no meu quarto, se ela olhasse em volta saberia muito de mim e isso era muito íntimo, o que me deixava ainda mais nervosa.

Mas estavamos aqui agora, depois de um breve momento que a minha atual condição me lembrou das minhas limitações. Ela lia um livro para mim e eu descansava no seu ombro, sua voz melodiosa foi como um sonífero e logo eu estava sonhando com a moça no meio do jardim, ela girava e girava em meio a flores amarelas, eu podia ver um pouco do seu sorriso enquanto ela erguia seu rosto para o céu, mas seu cabelo bagunçado pelo vento quase cobria todo o seu rosto. Por mais que eu tentasse alcança-la, ela parecia se afastar ainda mais e aquele sentimento de frustração se abatia em mim e então eu abrir os olhos e lá estava Gabriela me observando.

- Me desculpe por isso.- Pedir me afastando.

- Não tem problema, de verdade. - Ela frisou a última parte.

Passei a mão no rosto tentando desfazer a cara de sono e me espreguecei na cama sob seu olhar atento.

- Tenho duas perguntas.

- Faça.

- Você sente pena de mim? - Fui direta. Por breves minutos minha mente me alertou que a maneira como me olhava poderia ser apenas por pena e eu não queria aquilo.

- Eu deveria ?

- Não. Eu não preciso desse sentimento principalmente vindo de você.

- Está aí sua resposta. Você não precisa e não terá. Qual a outra pergunta ?

- Quando disse a minha avó que tinha só dezoito anos, era verdade?- Essa com certeza era uma das minhas maiores curiosidades sobre ela.

- Sim. E eu sei que você pensar que é muito cedo para ser médica.

- E não é?- Pergunto confusa.

- Para a maioria das pessoas, sim, mas, eu sou a garota prodígio, a de QI elevado, a que falou as nove meses, se tornou bilíngue aos dois e a que todos conhecem como nerd.- A última parte soou muito armagurada.

- Não gosta de ser assim ?

- É bom porque enquanto os demais está tentando você já conseguiu, mas essas mesmas pessoas te odeiam por isso, você se torna a chacota da escola, a garota que procurar qualquer lugar vazio para ler o menor dos livros em paz, sem que um dos ditos populares venha lhe encher o saco. Com doze anos eu estava terminando o ensino médio, tem noção do que um rebanho de jovens fazem com uma criança nessa idade?- Ela parecia tão magoada agora.

- Não tenho, mas posso imaginar que tenha sido muito ruim.- Tentei lhe passar conforto segurando a sua mão.

- Demais, só não foi pior porque eu o fiz em um ano e meio. Mas aí veio a faculdade, eles não queria me deixar estudar, era nova demais, minha família entrou na justiça e lá estava eu aos treze fazendo medicina, não era tão ruim quanto o ensino médio porque eu tinha colegas que ficavam próximos a mim, mas eles buscavam saber o que eu sabia e tirar oportunidade disto e se eu não ajudasse mais uma vez era deixada de lado. E só ficou pior quando no quarto ano de medicina eu já comecei a especialização. Eu sei que eu posso alcançar muita coisa, mas alcançar tudo isso sozinha é muito doloroso. - Seus olhos estava marejados de lágrimas e eu tomei a liberdade de abraça-la.

- Eu sinto muito por isso, você tem a mim, a minha avó e a Thaisa agora, podemos te aplaudir a cada conquista e eu posso até fazer plaquinhas com frases clichês de incentivo. - Disse sincera e sentir o abraço se tornar mais apertado.

- Obrigada. - Ela disse se afastando e enxugando as lagrimas- Era pra ser um encontro feliz. - Comentou.

- Não sabia que estávamos em um encontro. - Brinquei.

- Você entendeu. - Disse sem graça.

-Claro, só estava te zoando.

- É por isso que se dar tão bem com a Thaisa.- Acabei rindo.

-Garotas o almoço está pronto. - Minha avó anunciou da porta.

-Você irá experimentar o melhor temporo de BH.- Disse orgulhosa me ajeitando para passar para a cadeira.

- Não tenho dúvidas disso. -Ela me ajudou no processo.

O almoço foi regado a brincadeiras, interrogatórios por parte de Thaisa e uma amizade muito bonita que Gabriela estabelecia com a minha avó. Por um momento parei a mesa observando a cena e sorrir grata por aquele momento bom.

*Veio aí 🤧 Espero que gostem

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