Confiança

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 Pov Gabriela

Domingo cedinho já me organizei para ir ao hospital, queria conhecer a amiga dela, ambas tinham uma ótima conexão em quadra e estava com a sensação de que ela iria ajudar muito na recuperação da Sheilla.

Assim que cheguei no hospital, fui direto para a porta da UTI, queria conversa com Thaisa antes da visita. Não demorou muito para ela aparecer, as nove em ponto ela apareceu no início do corredor e pareceu estranhar a minha presença. Mas me cumprimentou quando estava mais próxima.

 — Bom dia, é a médica da Sheilla, certo?— Falou de frente pra mim.

— Bom dia, sim, sou a Gabriela. Gostaria de conversar com você. — Digo de uma vez.

— Claro. Eu ainda não tomei café, faria isso depois da visita. Quer descer na cantina?— Oferece.

— Claro.

Seguimos em silêncio para o andar inferior, fizemos os pedidos na cantina e aguardamos sob olhares curiosos, as pessoas ali pareciam saber quem ela era. 

Assim que nossos pedidos chegaram ela foi bem direta.

— Sobre o que queria falar?

— Sobre a Sheilla, sobre a amizade de vocês, sobre o acidente. Avó dela acredita que eu possa trazer-la de volta, mas eu preciso entender tudo que houve para tentar fazer isso.— Explico.

— Entendo. Você me parece muito familiar, mas sou muito distraída— Diz de repente— se fosse a Sheilla com certeza ela saberia onde já nos vimos. Ela faz o tipo observadora e isso auxilia muito em jogo— Ela ri com quem lembra de algo e eu acabo sorrindo junto.

— Ela parecia muito feliz com o vôlei.— Comento me lembrando dos jogos que vi. 

— O vôlei é a sua vida. Ela nem se quer pensava em estar em uma relação séria para que seu rendimento não fosse afetado. Nunca bebia mais do que três taças de vinho se tivesse treino no dia seguinte e bebendo não dirigia. Com toda certeza ela é a responsável de nós duas. — Seus olhos brilhavam pelas lágrimas que surgiam.

— Entendo.— Nesse momento Liz e Ninna tomam as duas cadeiras vazias na mesa e quando a loira toca a Thaisa ela parece se acalmar instantaneamente.

— Você viu como está o céu hoje? — Thaisa pergunta do nada.

— Bonito?— Questiono ainda confusa como a pergunta repentina.

— Sim, o azul intenso, o brilho do sol, assim como no dia que tudo ocorreu. O céu estava lindo assim, lembro que todo parecia ainda mais bonito ao meu redor porque eu estava muito apaixonada pelo meu namorado. Lembro da Sheilla me zoar no treino com a Gattaz por que eu não para de falar nele. Lembro do sorriso dela e então veio a chuva.— Ninna fez o sinal como se pedisse para eu falar algo.

— Quem dirigia?— Não sei se havia feito a pergunta certa.

— Sheilla. Eu odeio dirigir na chuva, Sheilla mais uma vez é mais atenciosa então quando estávamos juntas ela o fazia. Eu confiava nela para isso, sempre deixei muito claro e ela sempre sorria e revirava os olhos quando eu falava. 

—Você disse que confiava nela no dia do acidente?— Uma ideia tomava forma na minha cabeça.

— Sim, o céu ficou escuro rapidamente, joguei as chaves e ela questionou porque não eu. — Com toda certeza ela estava a um ano atrás no seus pensamentos—então eu disse que confiava nela e fomos para o carro, meu namorado me mandou mensagem e nem se quer prestava atenção na estrada, era a Sheilla, o que poderia dar errado? Mas deu, o carro freio e girou e eu não me lembro de nada depois, exceto de acordar no hospital sem poder mover uma das minhas pernas e com a notícia de que a Sheilla estava em coma.— Ela pareceu voltar ao presente e suspirou de modo triste.

— Quando você veio ao hospital o que disse a Sheilla? 

— Que estava tudo bem, acidentes aconteciam e que eu não a culpava. Por que?

—Eu vou dizer algo estranho, mas acredito que a Sheilla não se perdoa com o que houve com você, ela tinha sua confiança, mas provavelmente sente que fracassou com você e arruinou sua vida. Ela precisa saber que você ainda confia nela e a perdoa, mesmo que não tenha o que ser perdoado porquê não a um culpado.— Nesse momento Ninna e Liz fazem o sinal de positivo com os seus minis dedos e acabo por sorrir.

— Nunca havia pensando por esse lado. Acha que ela ainda não voltou por isso? 

— A o motivo de acreditar que a vida no vôlei acabou também, mas dessa parte eu cuido. 

— Você entraria na UTI comigo ? — Thaisa pergunta.

— Claro. — Digo rapidamente.

Seguimos para o segundo andar sendo seguidas pelos dois anjos de perto. Adentramos ao espaço da UTI minutos depois, observei os sinais vitais antes de Thaisa começar falar e vi quando a atividade cerebral aumentou e coração teve uma súbita elevação na frequência cardíaca. Um lágrima escorreu do rosto de Sheilla e eu prontamente enxuguei. Notei que havia um rubor em sua face depois desse ato, mas talvez fosse a emoção do momento.

Enquanto Thaisa falava sobre seu dia em um clima muito mais descontraído, vi que Liz e Ninna faziam uma dança da vitória bem estranha perto do leito, o que acabou arrancando uma risada de mim e fazendo o monitor cardíaco disparar. Sua amiga precisou ser retirada rapidamente e uma estabilização imediata foi feita. 

Depois desse episódio eu nem se quer fui em casa, passei todo o dia ali monitorando de perto seu quadro clínico. Quando a noite finalmente chegou eu decidir ir em casa tomar um banho e pegar alguns pertences. 

Assim que entrei no carro Ninna e Liz se fizeram presentes mais uma vez, meu coração antes angustiado foi tomado por uma calmaria. Ninna me mostrou a data no painel do carro e entendi que faltavam apenas duas semanas agora para o fim do prazo. 

— Iremos consegui, talvez o que tenha acontecido hoje foi um sinal de que ela está tentando voltar. — Digo mais para mim mesma.

— Bobinha. — Liz comenta.

— Do que você me chamou? — Pergunto indignada.

— Existem muitas coisas que transcendem o entendimento humano, mas por agora tudo que precisa saber é que você é a único e exclusivo motivo para o que houve hoje.— Ela comenta.

— Sou?— Ela afirma com um gesto de cabeça me deixando completamente confusa.

Uma chuva fina começa a cair e recosto no vidro do carro suspirando, o dia havia sido cansativo, havia tantas coisas desconhecidas em toda aquela história e nesse momento eu só conseguia me questionar porque eu?

— Não tenho medo da chuva Gabi. — Ninna diz.

— Eu não tenho. Na verdade gosto dela. — Digo com uma vaga lembrança em mente. Ligo o carro segundo depois e dirijo para casa sob o som de um canção cantadas pelos anjos.

Boa tarde pessoas lindas. Passando aqui para desejar um feliz natal, agradecer por todo carinho e comentários e pedir desculpa pelo atraso, tem sido dias corridos no trabalho e estou de mudança para uma nova casa. Mas já está tudo se ajeitando. Espero que gostem do mimo de hoje. 

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