Capitulo 4- O dia

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Pov Sheilla

 Eu não sei como os dias estão agora de fato, não sei sobre o clima ou se o sol continua extremamente quente em Belo Horizonte. Mas eu me lembro do dia em que tudo aconteceu, o sol brilhou no céu muito cedo de maneira amena, apesar de alto uma brisa constante tornava o clima mais suportável.

Naquele dia eu tinha treino para o mundial de clubes, Thaisa a minha melhor amiga veio me buscar, estranhamente eu observei pela janela do carro o vai e vem das pessoas e me questionei se elas realmente queriam está no lugar para onde estavam indo.

O treino foi muito tranquilo, eu Thaisa e Gattaz formavamos o trio de ouro do Minas Tênis Clube e aquele mundial ao meu ver já era nosso. Quando saímos Thaisa insistiu que fossemos ao meu café favorito. Quem tomava café as onze da manhã? Eu e Thaisa.

A conversa girou em torno do Mundial, o quão perfeito era o então namorado da minha amiga e quando eu iria arrumar alguém. Thaisa era muito fiel as suas relações e eu também quando queria, mas naquele momento estava no modo uma noite, principalmente por conta da carreira que estava construindo. Se focasse em entregar meu coração agora a alguém não tinha a certeza de que não afetaria o meu rendimento. O amor pode mudar muita coisa em nós

Lembro de ver uma duas garotas do outro lado da rua, uma usava roupas comuns, calça jeans, blusão azul e tênis, alguns livros de que julguei ser de medicina em mãos, porém achei muito jovem para já está na faculdade, talvez fosse muito inteligente ou apenas estava levando os livros para alguém; a outra garota usava o uniforme do Minas, ela deveria ser do sub-17, diferente da amiga ela carregava uma bola de vôlei em mãos, essa mesma garota disse algo e apontou para a bola o que fez a garota que parecia ser nova demais para fazer medicina sorrir genuinamente a ponto de por a mão sobre a barriga e jogar a cabeça para trás. Elas estavam do outro lado da rua, mas ainda foi possível ouvir sua gargalhada e som pareceu por segundos deixar o ambiente a minha volta ainda mais leve e eu sorrir sem saber qual era o real motivo. Vi quando um carro de aplicativo chegou e ambas entraram nele e então a vida parece ter voltado a ser monótona de novo sem a gargalhada da garota.

Thaisa não pareceu perceber toda a mudança que ocorreu ali em fração de segundos, estava alheia demais porque prestava atenção no celular, certamente falando com o amado dela. Depois de um tempo o céu ficou estranhamente cinza, nuvens carregadas tomaram o céu que estava azul e uma chuva sem aviso começou a cair. 

— Você irá dirigir, não gosto de dirigir na chuva.— Thaisa disse.

— Você tem carteira a muito mais tempo que eu e tem medo de dirigir na chuva. — Rebati tomando a chave de suas mãos.

—Você sabe que confio em você para me levar em segurança, então não reclama.— Ela rebateu.

Corremos para o carro tentando nos molhar o mínimo possível. Assim que assumir o volante a chuva se tornou ainda mais forte, um clarão tomou o céu bem a nossa frente e logo depois um estrondoso som do trovão, sentir os pêlos da minha nuca se arrepiar, mas liguei o carro e seguir o caminho para minha casa.

Thaisa estava relaxada no carro, mais uma vez alheia por está no celular, mas a cada centímetro que o carro avançava a chuva parecia aumentar, o caminho ficou muito difícil de visualizar mesmo com os parabrisas do carro trabalhando avidamente.

Em segundos, em um trocar de macha na avenida o carro derrapou, os freios não funcionaram e vi um carro girar a primeira vez, depois disso tudo se tornou rápido demais. A dor invadiu meu corpo e minha cabeça latejava. Quando o carro finalmente parou em algum parte da pista eu consegui abrir os olhos por breves segundos e corpo inerte de Thaisa estava ao meu lado. Eu não conseguia falar, não conseguia me mover, meus olhos pesavam. 

Alguns minutos depois ouvir sirenes, alguém me perguntou se eu estava bem, abrir mais uma vez os olhos e o sol voltava a brilhar e então tudo se fez escuro novamente.

Por muito tempo tudo que eu ouvir era um zumbido, não sei quanto tempo isso durou, mas então passei a ouvir vozes, ouvir quando um voz masculina disse que eu só voltaria jogar por um milagre e que se eu acordasse deveria procurar outra profissão.

Ouvir enfermeira lamentar o fato de eu ser tão jovem e ter tido a vida destruída, parecia que a cada palavra algo dentro de mim morria, talvez fosse a minha alma, então eu decidir me deixar ir. Porém alguém ainda me prendia aqui e eu não sabia exatamente o que.

Talvez fosse a minha preocupação com Thaisa, ninguém nunca falava nela até a minha avó finalmente aparecer e me contar que ela havia sobrevivido, mas que tinha um lesão no joelho que faria com ela precisasse usar uma proteção a cada jogo. Essa notícia afundou meu coração em mais dor. Ela havia confiado em mim e eu havia prejudicado sua carreira, era muito cruel o desfecho de um dia tão lindo quanto aquele.

Não achei que receberia suas visitas, mas ela passou a vir todos os domingos e me contar como estava sendo sua fisioterapia, sobre os jogos, ou como o clube sentia minha falta. Era bom tê-la por perto, mas isso ainda não aliviava o peso que eu sentia no peito por tudo o que fiz com a sua vida.

As vezes eu voltava ao dia que tudo aconteceu e me lembrava da gargalhada da garota desconhecida. Será que ela estava bem? Será que conseguiu chegar em casa? Queria saber antes de finalmente partir, em contra partida eu desejava todos os dias poder descansar de uma vez e não ter mais que ouvir o choro angustiado da minha avó.

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