Capítulo 18- Tensão e promessas

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Pov Gabriela

Acordar e ter Sheilla em meus braços com certeza era um dos meus dez momentos favoritos com ela. O ressonar leve, as pernas entrelaçadas as minhas e a mão repousando na minha barriga, dava a entender que ela estava em sono tranquilo. 

Sorrateiramente me retire da cama e fui para cozinha preparar algo para ela comer. Olhei no relógio, nove da manhã, havia perdido o primeiro turno do plantão, "Desculpe doutor Douglas" pensei. 

— Prometo assumir depois do meio dia. — Disse para mim mesma. 

Ouvir o trinco da porta girar enquanto retirava algumas coisas da geladeira. Uma leve tensão tomou conta do meu corpo, as únicas pessoas que tinha a chave daquele apartamento era Lorenne, mas nunca aparecia sem avisar e a minha que está morta. Peguei uma faca e ao chegar na sala encontrei com a pessoa que eu menos esperava.

— Bom dia filha. — Ele disse.

— O que faz aqui? — Minhas mãos tremiam em um claro sinal da raiva que eu tinha daquele homem.

— Sentir sua falta, queria saber como estava, se já havia mudado seus pensamentos, afinal, já faz dois anos.— Disse sínico.

— Não há nada para ser mudado em mim, o que precisa ser mudado é esse jeito preconceituoso de ser.— Falei um pouco mais alto, porém procurei me conter lembrando que Sheilla estava no segundo andar.

— Olha como fala comigo garota, eu sou seu pai.

— Pai esse que me colocou para fora de casa porquê eu beijei uma garota, que me privou de visitar a minha mãe quando ela adoeceu, que me retirou o direito de velar o corpo da mesma, que não foi a minha formatura e que nunca se quer mandou uma mensagem para saber se eu estava viva.

— Este mesmo pai bancou a sua faculdade e suas contas, ou você acha que o dinheiro que cai na sua conta todo mês é um milagre? — Disse elevando o tom.

— Eu não uso mais o seu dinheiro, inclusive continua lá na sua conta e se quiser posso devolver o que você gastou antes da minha formatura.— Eu tento me controlar mais estava difícil.

Aquele homem trouxe de volta todas as minhas dores e fantasmas. Abriu feridas grandes demais que estavam quase cicatrizadas.

—Ja que é assim eu aceito e quero a cobertura de volta e o carro.

Peguei a chave do carro em cima da mesa e joguei para ele. 

— O apartamento será entregue no domingo. Agora suma da minha vida.

— Um dia você vai entender que tudo isso é para que você entender que essa sua escolha não é bom caminho.

— Você não aprendeu nada nos últimos dois anos. Ninguém escolher amar alguém do mesmo sexo, isso não é possível, porquê ninguém escolheria tal coisa sabendo de todos os risco e perdas que teremos.— Me lembrei do que anjos disseram.— Porém eu perdoo você, eu não vou continuar vivendo com o peso que essa raiva que eu sinto por você tem. Quer continuar me odiando? Tudo bem. Acerte suas contas com Deus.

— Você ainda irá se arrepender Gabriela. 

— Ou você.

Ele deixou o apartamento e eu desabei no chão com o peso da lembrança da última vez que estive na casa dos meus pais. Com a saudade que eu tinha da minha mãe, dos momentos que ela foi contra ele apenas que eu tivesse onde morar e na sua alegria em decorar esse mesmo lugar ao meu lado. Do seu último sorriso antes que o diagnóstico viesse e fosse proibida de vê-la. 

Sentir dois braços ao meu redor. Sheilla retirou da minha mão a faca que eu nem recordava que segurava. Seu aperto se tornou mais forte enquanto alguns beijo eram deixados na minha face banhada por lágrimas.

— Eu estava pronta para jogar uma cadeira nele. — Ela comentou.

— Não tenho dúvidas. Mas não precisa, ele nunca tentou me bater, nem mesmo na infância. Ele grita muito e acaba por assustar. Porém não passa disso.

— É uma ótima informação, ela manterá ele vivo.— Ela diz séria. Acho que estava brava, mas não queria demonstrar pra não piorar a situação.

— Me desculpa por esse desfecho caótico. Não foi assim que planejei te acordar.

— Começar a manhã com emoção as vezes é bom— Ela brinca e me faz sorrir.

— Eu prefiro calmaria e beijos. 

— Eu também e comida. — Ela se ergue e me dá as mãos, eu as tomo e me ergo roubando um breve beijo.

— O quanto você ouviu? — Pergunto quando estamos na cozinha.

— Tudo? Acordei assim que você deixou o quarto e então começou as vozes alta.

— Existe algo que queira saber? — Digo com receio.

— Quem cuidava de você quando foi embora?

— A mãe da Lorenne no primeiro mês. Depois minha mãe me entregou essa cobertura e me ajudou a decorar. Ela vinha uma vez por semana quando tinha que ir pessoalmente preparar os projetos de decoração dos clientes. Mas ela descobriu um câncer no intestino três meses depois e o meu pai me culpou, então passei a ficar só. Ela faleceu e Lorenne vinhas alguns dias da semana. Depois da formatura só sou eu e a lore as vezes.

— Isso é muito cruel, você não merece passar por essas coisas.

— Já me acostumei, meu pai nunca foi a parte presente da família. A diferença hoje é que ele me odeia e não aparece para as refeições ou para conferir o boletim.— Seus braços apertaram minha cintura enquanto eu terminava o café.

— Eu sinto muito por isso. Mas você não está mais sozinha, eu estou aqui e vou cuidar de você e antes que pense não é por pena ou algo do tipo, é porquê eu amo você.— Escutar tais palavras ainda me causava leve tremores.

— Não tenho dúvidas que sou amada por você e fico muito grata por você ficar.E é muito recíproco meu bem— Me viro completando aquele abraço.

Terminamos o café e depois de um banho juntas chamei um Uber para deixá-la em casa. Assumir o plantão ainda abalada com os últimos acontecimentos, porém eu me tornei médica para salvar vidas e não tinha nada mais bonito que o sorriso de um paciente após ter sua alta concluída.

Vinte e duas consultas depois, algumas rondas hospitalares e uma reunião meu celular notificou uma nova mensagem. Sheilla pedia para ir encontrar-lá assim que saísse do trabalho, segundo ela era muito urgente.

O médico da noite ainda não havia chegado, eu contava os minutos no relógio pra sair, ela não respondia as mensagens, não atendia o telefone e Thaisa havia sumido.

Minha boca tinha um gosto amargo, minhas mãos suavam frio enquanto meu coração acelerava conforme o tempo passava. Quase pulei da minha mesa quando meu colega chegou, ninguém entendeu a minha pressa, mas dane-se, precisava encontra-la.

*Olha quem ressuscitou rs, quase que a autora foi com Deus ein🌚 Enfim pra compensar esse final de semana tem um "maratona" de 3 capítulos. Esse é 1/3. Nos vemos amanhã 💖

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